Joinville, uma cidade de carros

"Cidade das bicicletas" está sendo tomada por automóveis. E a pequena oferta de ciclovias é um sintoma dessa doença

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Fonte: Chuville  |  Autor: Enio Alexandre  |  Postado em: 05 de maio de 2025

Ciclovia em esquina de Joinville, a antiga

Ciclovia em esquina de Joinville, antiga "cidade das bikes"

créditos: Google Street View


Dados do Censo de 2022 revelados pelo IBGE em abril passado indicavam que algumas cidades catarinenses apresentavam os melhores indicadores brasileiros em relação à oferta de ciclovias e ciclofaixas. Entre os destaques estava Joinville, importante centro industrial, com população de 616 mil habitantes, conforme o mesmo Censo de 2022. Desta população, conforme o IBGE, 11,2% são atendidos por infraestrutura para a circulação de bicicletas, número bem acima da média brasileira.

Em décadas passadas, as ciclovias eram desnecessárias e as bikes se impunham naturalmente na cidade, especialmente nos horário de pico, momentos de ingresso ou saída de operários e operárias nas fábricas locais, quando os ciclistas tomavam as ruas em pelotões uniformizados. Mas, sem políticas de estímulo à mobilidade ativa, os joinvillenses foram se acomodando ao conforto dos carros.


 Saida de trabalhadores em empresa de Joinville nos anos 1970 Foto: Arquivo MBJ


Na semana passada, em artigo publicado no site Chuville, o jornalista Enio Alexandre trouxe uma visão mais pé no chão (ou pé no pedal) sobre os desafios que ciclistas e pedestres encontram nas ruas de Joinville. No texto, ao contrário, Alexandre destaca a presença cada vez mais impositiva dos automóveis na antiga "Cidade das Bicicletas". Reproduzimos a seguir o curto, mas revelador artigo:


"Joinville já ultrapassou os 483 mil veículos registrados. Isso significa que, em uma cidade com cerca de 630 mil habitantes, praticamente três em cada quatro moradores têm um carro na garagem — ou sonham com um. Não é exagero dizer que Joinville se move sobre quatro rodas, mas tropeça quando o assunto é mobilidade.


As ruas parecem não acompanhar esse amor pelo automóvel. Ainda há 590 quilômetros de vias sem qualquer pavimentação. E nas poucas tentativas de avanço, a timidez é evidente: algumas centenas de metros duplicados na Ottokar Doerffel, outras tantas na Santos Dumont. O resto segue espremido, esburacado ou simplesmente esquecido.


Enquanto isso, tirar carros das ruas nunca foi prioridade. Ciclovias e ciclofaixas existem, mas são raras e poucos seguras. Falta continuidade, fal
ta segurança, falta tudo. E o transporte público, esse coadjuvante desvalorizado, mal aparece nos domingos, feriados e madrugadas. Quando surge, é sem ar-condicionado, com poucas linhas e sem o conforto mínimo que se espera em uma cidade desse porte.


O poder público, ao que parece, se mexe rápido apenas quando há receita garantida. Foi ágil para autorizar uma empresa — com histórico de problemas — a instalar radares em quase todos os cantos da cidade. Multar virou prioridade. Pavimentar, não. Planejar, menos ainda.

Entre as cidades brasileiras de porte semelhante, Joinville infelizmente figura na parte de baixo da tabela no quesito mobilidade urbana. A cidade do trabalho parece também ser a cidade do engarrafamento, do buraco, da poeira e da omissão. E enquanto o trânsito trava, a esperança segue a pé — e sem calçada.

 

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