Há exatos 164 dias, em 24 de janeiro, a estação Jardim São Paulo - Ayrton Senna do metrô paulistano foi invadida pelas águas de uma forte chuva. Passageiros ficaram ilhados e o trecho norte da Linha 1 Azul foi paralisado entre as estações Santana e Tucuruvi, na zona norte da capital paulista. Dois dias depois, drenada a água e feita a limpeza, a conexão foi restabelecida e a estação voltou a funcionar, quase normalmente.
Passados mais de cinco meses, a estação Jardim São Paulo continua sem o elevador de acessibilidade, situação que dificulta ou mesmo impede a passagem de pessoas com deficiência, idosos e pessoas com carrinhos de bebês. A estação tem um bom acesso em rampa até o mezanino, mas a descida à plataforma só pode ser feita por escadas fixas ou pelo elevador, que segue desativado até hoje, 8 de julho de 2025.
A inundação a estação Jardim São Paulo, em janeiro de 2025
No dia 20 de junho, a usuária Graciela Binaghi enviou ao Mobilize Brasil uma longa e detalhada mensagem na qual descreve os problemas que tem enfrentado pela falta do equipamento. No texto, ela aponta as várias tentativas que fez para sensibilizar a Companhia do Metropolitano (Metrô), o governo do estado e demais autoridades sobre o problema - que segue sem solução. Reproduzimos, a seguir, um resumo de seu relato:
"Estou entrando em contato porque infelizmente pessoas com deficiência são invisíveis para os governantes, para os serviços públicos de transporte e outros na cidade de São Paulo!
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 é um conjunto de dispositivos destinados a assegurar e a promover, em igualdade de condições com as demais pessoas, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais por pessoas com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania.
Em seu Art. 3º, a norma registra que para fins de sua aplicação, consideram-se:
I - Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Como exemplo do pouco caso, cito a estação de Metrô Jardim São Paulo - Ayrton Senna, que não possui escada rolante e está sem elevador desde o dia 24/01/2025.
Poderia citar várias estações sem acessibilidade e com manutenção deficiente, mas lembro que outra estação da Linha 1 Azul, a Parada Inglesa, conta com um elevador manual, no qual é necessário manter a pressão em um botão para usá-lo, sendo necessário apertar outro botão para abrir a porta. Como deve agir o usuário com apenas um membro superior? Chamar um funcionário? Lembro que essa estação conta com apenas um único metroviário, e em muitas estações faltam funcionários de apoio e segurança.
Fizemos a denúncia ao Ministério Público, que arquivou o caso porque aceitou a resposta do Metrô:
'...houve oferecimento de esclarecimentos pelo Metrô sobre as medidas tomadas para atendimento adequado em caso de inoperância do elevador, a saber:
(i) acionamento do corpo de segurança para transposição da plataforma para o mezanino pelas escadas fixas com uso de cadeira de rodas comum;
(ii) em caso de impossibilidade de uso das escadas fixas e devido à necessidade do passageiro há o acompanhamento até a estação mais próxima, conduzindo-o, excepcionalmente, por veículo;
(iii) Se o auxílio for solicitado por pessoa idosa ou com restrição de mobilidade a segurança é acionada e utiliza-se a escada fixa ou acomoda-se o passageiro em cadeira de rodas do Metrô para que o deslocamento seja realizado...'
Em relação aos itens (i) e (iii), considero que é uma solução extremamente humilhante. Ouvi esse desabafo de outros cadeirantes e eu mesma (mobilidade reduzida) fui transportada dessa forma, chorando sem parar por me sentir privada do meu direito de ir e vir, apesar de [minhas] limitações.
Além da infração trabalhista, não é função dos metroviários/seguranças carregar as pessoas pelas escadas.
Sirvo para pagar impostos, cumpro minhas obrigações de cidadã, e sou obrigada a passar por uma situação vexatória e humilhante pelo descaso do Metrô.
No caso do item (ii), pergunto: por que o Metrô não coloca um veículo nas estações Jardim São Paulo, Santana e Parada Inglesa à disposição dos passageiros com deficiência para deslocamento até a estação que ofereça acessibilidade?
Sei que a estação Jardim São Paulo não tem o mesmo movimento de passageiros de outras estações, mas lembro que em seu entorno há muitos serviços de saúde, além de uma oficina de cadeiras de rodas que presta serviços especializados a cadeirantes de toda a cidade. Além disso, a região tem uma grande população idosa, com mobilidade reduzida..."
Graciela Binaghi conta que já recorreu a vários órgãos, incluindo vereadores, que encaminharam ofícios à direção do Metrô, às secretarias Municipal e Estadual da Pessoa com Deficiência, à Secretaria dos Transportes Metropolitanos e até ao gabinete do governador Tarcísio de Freitas. Também acionou o serviço https://fala.sp.gov.br, do governo paulista, mas relata que "os protocolos desapareceram", sem explicação.
Em junho passado, Graciela protocolou queixa na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, que encaminhou o assunto à Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos e ao Metrô. Mas, mesmo assim, não conseguiu retorno sobre as providências que seriam tomadas. "O Metrô tem dois telefones na ouvidoria que não completam a ligação. Passei uma manhã inteira tentando ligar, ininterruptamente."
Por fim, ela elaborou um abaixo-assinado, ainda sem muita divulgação, na plataforma change.org: https://chng.it/5pbZpdjZcX
O Mobilize Brasil encaminhou a demanda ao Metrô, que respondeu por meio de sua assessoria de imprensa em 23 de junho, com esclarecimentos sobre o problema. Na nota de resposta, a companhia justificava a demora pelo fato de não ter em suas oficinas os componentes que precisarão ser substituídos. E explicava que o processo de aquisição desses itens está em andamento:
"O Metrô esclarece que o elevador da estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna, na Linha 1-Azul, está temporariamente fora de operação em razão dos danos sofridos após alagamento da estação, que acabou afetando componentes eletrônicos e mecânicos que precisarão ser substituídos. O processo de aquisição das peças está em andamento.
Para minimizar os impactos provocados pela falta deste equipamento, a estação adota estratégias para atender seus passageiros da melhor forma possível. Sempre que possível, são disponibilizados mais funcionários para atendimento, contando, inclusive, com apoio de agentes de segurança para auxiliar os passageiros nas escadas fixas. O Metrô também disponibiliza, nos casos em que não é possível o auxílio dos funcionários, transporte por táxi na estação Santana para deslocamento até as estações Jardim São Paulo e Parada Inglesa. Com relação ao elevador de acesso à plataforma sentido Jabaquara, na estação Parada Inglesa, o equipamento passou por manutenção para modernização do quadro elétrico e já voltou a operar normalmente.
O Metrô pede desculpas pelos transtornos provocados, mas ressalta seu compromisso com a acessibilidade. Todas as estações do Metrô são acessíveis a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O sistema conta com 559 escadas rolantes, 164 elevadores e piso tátil em todas as estações, além de pisos táteis que encaminham os passageiros com deficiência visual às áreas de embarque nas plataformas, passando por bilheterias, bloqueios e sanitários. Além dos equipamentos de acessibilidade, os funcionários também são capacitados para auxiliar qualquer passageiro com mobilidade reduzida."
Ontem, 7 de julho, a equipe do Mobilize Brasil voltou à estação Jardim São Paulo - Ayrton Senna, que continuava com o elevador inoperante. Funcionários da estação relataram que uma equipe de televisão esteve no local e registrou imagens sobre as dificuldades enfrentadas pelos usuários com problemas de mobilidade. Mas, não souberam informar quando o problema seria solucionado.
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