Transporte e mobilidade: que caminho Goiânia segue?

Entrevista do jornal O Hoje com Patricia Veras e José Geraldo, as duas principais autoridades públicas em Goiânia envolvidas no planejamento da mobilidade urbana

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Fonte: Jornal O Hoje  |  Autor: Cristiane Lima e Anderson Costa  |  Postado em: 27 de outubro de 2014

Selma Cândida

Selma Cândida

créditos: Jornal O Hoje

 

Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com vasta experiência em trânsito, transporte e mobilidade, Patrícia Veras está desde janeiro deste ano no comando da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) com a difícil missão de implantar melhorias urgentes no sistema de transporte da região metropolitana, como a criação de corredores preferênciais e aumento do número de viagens.

 

Ocupando o cargo que já foi exercido por Patrícia Veras, o administrador de empresas José Geraldo Fagundes tem uma missão não menos fácil que é implantar ações de mobilidade urbana para uma cidade com uma frota composta por cerca de 1,2 milhão de veículos e que ainda não privilegia o pedestre, parte mais frágil no complexo trânsito da capital.

 

José Geraldo e Patrícia Veras falam nas entrevistas a seguir sobre os pontos abordados por especialistas ao longo dessa última semana na série “Transporte em Foco” . Aqui eles apontam as soluções que o poder público tem implantado para promover a mobilidade urbana dentro dos conceitos de sustentabilidade e de qualidade de vida para todos.

 

Entrevista Patrícia Veras

O HOJE – Levando-se em conta o cenário da região metropolitana de Goiânia, como enfrentar o principal desafio da mobilidade urbana, que é oferecer um transporte público de qualidade fazendo quem anda de carro optar por ônibus?

 

Patrícia Veras – Garantir mobilidade urbana é um desafio enfrentado por todas as cidades brasileiras. Ao longo das décadas de 1980 e 90, quase nada foi investido nesta área no País, onde nem projetos existiam para planejar as cidades para as pessoas e para o transporte público. Período em que a prioridade aos carros marcou a nossa dinâmica social. Hoje, um dos mais graves problemas que impedem as pessoas de optarem pelo transporte coletivo é o tempo gasto entre a origem e o destino, mas o País se articula para superar isso.

 

Desde 2007, um novo conceito de planejamento urbano tem sido implantando com o Programa Aceleração do Crescimento (PAC), que promoveu a retomada da execução de grandes obras de infraestrutura social e urbana.

 

A partir de 2011, o transporte coletivo e as obras viárias passaram a receber investimentos federais, que têm garantido a implantação de uma nova dinâmica nos espaços urbanos. Em Goiânia, a Prefeitura promove investimentos históricos na área de mobilidade, que vão organizar os espaços urbanos com prioridade ao transporte coletivo. Com recursos oriundos do PAC Mobilidade serão aplicados R$545,3 milhões na construção do corredor exclusivo Goiás – BRT Norte/Sul e de mais seis corredores preferenciais de ônibus.

 

Como está a implantação dos cinco novos corredores preferências de Goiânia e do corredor da T-63?

 

Os projetos dos corredores preferenciais de ônibus da prefeitura foram aprovados pelo Ministério das Cidades, que divulgou portaria no dia 21 de julho, incluindo as obras no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – Pacto pela Mobilidade. Após a análise técnica bem-sucedida do Ministério das Cidades, a prefeitura iniciou os trâmites com a Caixa Econômica, que recebeu toda a documentação solicitada à administração municipal. Agora, estamos aguardando o aval do banco para iniciarmos os processos licitatórios para as obras dos corredores.

 

Os novos corredores preferenciais vão beneficiar as avenidas T-7, T-9, 85, 24 de outubro, Independência e T-63, garantindo 46,5 quilômetros destinados à circulação dos ônibus, que vão promover a integração de 66 linhas, beneficiando 601.164 usuários do transporte coletivo por dia.

 

Com a obra, a Prefeitura vai revitalizar totalmente a via com a implantação de novos recapeamentos, ciclovia, abrigos com assentos e local para cadeirantes, piso podotáctil para orientação dos deficientes visuais, rampas de acesso à calçada, faixa gramada, sinalizações, iluminação, monitoramento da segurança e fiscalização por fotossensores.

 

Na capital, em cada uma das avenidas, os projetos técnicos estão levando em consideração a infraestrutura da via, como nos corredores Universitário e da Avenida T-63, onde os resultados foram positivos. Ao longo destes corredores houve redução no tempo de viagem de ônibus e demais veículos e queda nos acidentes e mortes no trânsito.

 

Em abril, junto com o aumento da tarifa, foi anunciado um pacote de dez medidas que integram o pacto por melhorias no transporte público da grande Goiânia. Como está a implantação dessas medidas?

 

Goiânia e região metropolitana estão recebendo o incremento de 2.069 viagens diárias desde maio, quando 1.069 viagens diárias foram acrescentadas em 208 linhas. As outras mil viagens começaram a ser incluídas nas linhas de ônibus no dia 4 de junho. Um processo que será concluído agora em agosto com 596 novas viagens, que serão integradas em 95 linhas do transporte coletivo.

 

Devido aos feriados, folgas pelos jogos da Copa e férias em junho e julho, as duas últimas etapas de incremento foram adiadas para agosto. Ao final do processo, a frota receberá o reforço total de 95 ônibus e 275 novos motoristas. Desde fevereiro, a CMTC ampliou a fiscalização e o diálogo com a com os cidadãos para que o incremento das viagens seja avaliado e, se for necessário, ajustes sejam feitos de acordo com as demandas dos usuários.

 

Além das novas viagens, a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) garantiu o retorno dos atendentes aos terminais da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo. A aquisição de 300 ônibus novos e a implantação das 6 mil câmeras nos ônibus também estão em andamento dentro do cronograma previsto pela CDTC e devem ocorrer ainda neste semestre.

 

Entrevista  José Geraldo Fagundes

O Hoje – Qual o maior desafio da SMT para melhorar o trânsito da Capital hoje?

 

José Geraldo Freire – O trânsito de Goiânia, a exemplo de outras capitais de mesmo porte, precisa ser pensado na forma metropolitana. A Capital assume demandas vindas de municípios limítrofes e também envia outros tantos condutores para essas cidades, que hoje são pólos industriais. Como conseqüência desse novo modelo, Goiânia precisa ser estudada e planejada para atender as demandas em seus limites e esse planejamento vem sendo feito e executado com sinalizações e projetos de engenharia de trânsito.

 

Outra ação da SMT para dar maior fluidez ao tráfego está na criação de pequenos corredores. Vias estreitas e com estacionamento permitido nos dois lados da rua recebem sinalização de sentido único com direções contrárias para dar oportunidade ao condutor de caminhões. A proibição de estacionar também é feita e pode ser em ambos os lados da via ou somente um, a depender do fluxo de veículos. Exemplos de grandes avenidas e que somam bons resultados.

 

Além dessa atenção, a SMT tem trabalhado em parceria com a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) na implantação de corredores preferenciais. Para os próximos anos serão sete em Goiânia, totalizando 49 km. Além desses, a prefeitura fará o BRT Goiás/Norte-Sul que terá 22 km dentro da Capital, ligando a região Noroeste, terminal Parque Oeste, à região Sul, Terminal Cruzeiro do Sul. Investimento estimado em R$408 milhões, recursos do Pacto da Mobilidade Grandes Cidades, do governo federal, financiamentos, e recursos municipais.

 

Priorizando o transporte de massa, que terá mais fluidez e pontualidade no atendimento, a prefeitura espera atrair mais usuários e, com isso, o carro e a motocicleta, cada vez mais vistos nas ruas, poderão ficar em casa. Com o tempo, e com os investimentos já previstos na área de mobilidade urbana, haverá redução do número de veículos nas vias e maior qualidade de locomoção.

 

Goiânia tem quase um carro para cada habitante. Priorizar o transporte público é o melhor caminho para a garantia de um trânsito melhor, segundo especialistas. Como a SMT pode ajudar nisso?

 

Os corredores são a solução para que o trânsito ganhe maior fluidez e à SMT, dentro do projeto corredores, estão as atribuições de sinalização e fiscalização do uso correto da via.

 

Avenidas e ruas de grande movimento já proíbem estacionamento. Essa é uma tendência para as outras ruas de Goiânia?

 

Esse planejamento de nova sinalização é feito pelo Departamento de Engenharia de Trânsito da SMT e a execução obedece a uma agenda positiva, ou seja, onde for de maior necessidade e urgência a SMT realiza. Esse novo desenho já pode ser conferido em ruas do Jardim América e do Setor Coimbra. A agenda prevê mais alterações com a inclusão dos setores Marista e Aeroporto.

 

Conversões à esquerda também já não são permitidas em grande parte dessas ruas de maior movimento. Isso deve ocorrer em outros locais?

 

Sim, a eliminação da conversação à esquerda traz para o trânsito resultados. O exemplo de outras capitais brasileiras e de outros países, estimulou a adoção dessa alternativa para que as vias consideradas eixo e avenidas, tenham o fluxo contínuo sem a necessidade de o condutor ter que parar e esperar que a conversão de poucos motoristas seja feita em direção a outras vias arteriais. A alternativa para que o motorista tenha acesso à via onde a conversão foi interrompida é o looping de quadra instalado nas avenidas T-9 e T-7.

 

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