O Metrô de São Paulo chegou aos 37 anos com pelo menos um discurso em comum entre seu presidente, Sergio Avelleda, especialistas em transporte público e, claro, entre seus usuários: o metrô mudou e mudou muito.
Alguns sustentam que mudou para melhor, especialmente em razão das novas tecnologias que invadiram seus sistemas, trens e estações. Seus usuários mais assíduos, porém, lamentam a superlotação das cinco linhas em operação. Ao todo, elas transportam cerca de quatro milhões de passageiros/dia, com sensível declínio na oferta de conforto.
O DC visitou as 64 estações e os 74,3 quilômetros de vias do metrô paulistano para verificar como o mais importante meio de transporte público da cidade está se portando. Deparou-se com usuários ainda satisfeitos com o sistema, mas que a cada dia encontram mais motivos para criticá-lo.
O alerta foi dado no mês passado, quando o Instituto Datafolha divulgou que 47% dos entrevistados disseram que o metrô é ótimo ou bom. Um bom resultado, mas vale lembrar que essa foi a primeira vez, desde 1997, que o índice de aprovação ficou abaixo dos 50%. Algo a se pensar.
Superlotação
Quem, de segunda a sexta-feira, utiliza a estação Sé, a mais movimentada de todas (900 mil pessoas/dia) sabe como é difícil embarcar numa das composições nos horários de pico (das 6h às 8h e das 17h às 20h). Nesses momentos de maior demanda, estima-se que em cada metro quadrado de composição existam 10 pessoas. Tecnicamente, o recomendado é que, no máximo, seis pessoas ocupem esse mesmo espaço.
Para o arquiteto e urbanista Cândido Malta Campos Filho, a superlotação do metrô é consequência da falta de investimento na expansão do sistema. "Os problemas subsequentes derivam dessa superlotação", disse.
Para explicar a falta de investimento, Malta e outros especialistas citaram o exemplo do metrô da Cidade do México, que também transporta cerca de quatro milhões de usuários/dia. O metrô mexicano e o paulistano são praticamente contemporâneos: o primeiro surgiu em 1969; o segundo, em 1974. E as semelhanças param por aí.
O metrô mexicano não cessou seus investimentos e hoje possui uma rede de 202 quilômetros de vias, como 170 estações. São Paulo só retomou o investimento no transporte metroviário em meados da década de 1990, dispondo, hoje, de 74,3 quilômetros de vias e 64 estações - menos de um terço da rede mexicana.
Na tentativa de minimizar a superlotação, o metrô aposta em mais trens e na redução dos intervalos entre trens. Tais medidas dariam fôlego extra ao sistema, até a inauguração de novas linhas e estações. "Hoje temos 150 trens que circulam em um intervalo de 103 segundos. O objetivo é reduzi-lo para 87 segundos no horário de pico", disse Sérgio Avelleda.
Ele disse que a redução nos intervalos será feita por meio de um novo sistema de sinalização conhecido por CBTC (Communication Based Train Control), que reduz a distância entre os trens - hoje de aproximadamente 150 metros. Mas ele já falhou. Em julho, um problema no CBTC resultou no choque de dois trens-bala na China, provocando a morte de 39 pessoas.
A superlotação resulta ainda em problemas como o fechamento das portas das composições, o que impede o trem de andar. "Quando o passageiro ouve a mensagem 'estamos aguardando a circulação do trem à frente', quase sempre ela está relacionada ao fechamento das portas do trem", disse Ciro Moraes, diretor de comunicação do sindicato dos metroviários de São Paulo e operador de trem da Linha 1 - Azul, a Norte-Sul.
Menos assentos
Aos 37 anos, a quantidade de assentos disponíveis no metrô é cada vez menor. Dos primeiros trens da década de 1970 até os atuais, houve uma redução de quase 16 assentos por vagão.
A diferença é visível no cotidiano do passageiro, sendo que os dois modelos (novos e antigos) circulam nas mesmas linhas. Os primeiros trens da década de 1970, conhecidos como modelo A, tinham até 64 lugares sentados por vagão. Agora, os novos, como é o caso do modelo H, possui, no máximo, 48 lugares por vagão.
Segundo Ciro Moraes, operador de trens da Linha 1 - Azul desde 1989 e atual diretor de comunicação do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, a opção do metrô está relacionada ao crescente número de passageiros. "O espaço para usuários em pé aumentou para atender a atual demanda", disse.
O presidente Sérgio Avelleda admite um discreto aumento no número de passageiros, mas afirma que o motivo é outro. "Na verdade, são duas questões envolvidas. Tivemos de adaptar o metrô às novas regras de acessibilidade para deficientes. Além disso, o metrô melhorou a circulação de pessoas no interior dos trens", afirmou o presidente.
Com menos conforto, o déficit de assentos pode agravar um problema que ocorre há anos na Linha 3 - Vermelha: o empurra-empurra para conseguir um lugar sentado. Ele ocorre principalmente na estação Barra Funda. Há até casos de brigas, mostrados em vídeos na internet. "Sei que há desconforto, mas o metrô alivia o congestionamento da cidade", disse Avelleda.
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