Metrô paga R$ 52 mil por mês para vigiar obra abandonada em Brasília

Construção está parada há cinco anos por suspeita de irregularidades. Diretora do Metrô diz que gasto é necessário por canteiro ser 'estratégico'

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Fonte: G1  |  Autor: Gabriel Luiz  |  Postado em: 20 de julho de 2015

Estrutura, material de construção e galpão estão a

Estrutura, material de construção e galpão estão abandonados

créditos: Gabriel Luiz

 

O governo do Distrito Federal gasta pelo menos R$ 52,4 mil por mês para vigiar um canteiro de obras abandonado na Asa Sul que faria parte do complexo do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Considerando os cinco anos que a obra está parada, a despesa chega a cerca de R$ 3 milhões — valor suficiente para construir um sistema contra inundação num viaduto em Ceilândia, anunciado pelo governador Rodrigo Rollemberg no começo do ano, uma creche com 112 vagas ou cerca de 60 casas populares em Sobradinho.

 

Os valores, solicitados pelo G1, são referentes aos gastos do GDF com água, luz e quatro vigilantes terceirizados responsáveis por fiscalizar uma área de 30 hectares, que pertence ao Metrô. Previsto para custar R$ 700 milhões até o funcionamento do VLT, o governo terminou desembolsando cerca de R$ 50 milhões no projeto, segundo o Metrô. Em 2010, a 7ª Vara de Fazenda Pública decidiu paralisar as obras do VLT por suspeita de irregularidades na licitação. A Justiça entendeu que houve fraude no processo que escolheu o consórcio vencedor da disputa. À época, o Ministério Público do DF apontou que houve direcionamento para privilegiar empresários e empresas ligadas a ex-gestor da companhia.

 

Para a diretora da empresa Daniela Diniz, o gasto com vigilante é justificado. Segundo ela, enquanto a Justiça não emite uma decisão definitiva sobre a propriedade do material de construção abandonado, é preciso proteger o patrimônio. Ela também afirmou que o canteiro de obras, que conta com uma estrutura de um galpão enferrujado, é uma área estratégica para as futuras ações do Metrô. De acordo com Daniela, o espaço servirá como “canteiro central” de manutenção da companhia. Ele será usado para fabricação de trilhos e deve abrigar trabalhadores nas obras de expansão do Metrô e nas futuras linhas do VLT que passarem pelo Plano Piloto, afirmou a diretora, funcionária de carreira do órgão desde 1998.

 

“Eles não estão só vigiando pedaços de ferro abandonado. Se colocar os custos e benefícios, os benefícios serão extremamente maiores do que isso. Caso perdêssemos essa área, depois teríamos que alugar outro local para instalar os canteiros de obra”, disse a diretora. “Esses R$ 50 mil por mês em face de quase R$ 2 bilhões que vamos ter de investimento estratégico é nada.”

 

Reaproveitamento

Em 2013, a pedido do Metrô, uma perícia técnica apontou que o material da obra só estava enferrujado superficialmente e que necessitava de pequeno tratamento para que pudesse ser reaproveitado. Segundo a diretora Daniela Diniz, caso a Justiça decida que o patrimônio pertence à companhia, o que puder será reutilizado. Ela disse que no segundo semestre deste ano serão licitados estudos para avaliar o traçado do VLT que ligará a W3 Norte à Sul e outra linha prevista para passar pelo Sudoeste, Cruzeiro, Octogonal e Setor de Indústria Gráfica. Custeadas pela União, as análises poderão dizer se é possível incorporar estruturas já construídas, como o galpão abandonado. “Temos o interesse em aproveitar o máximo possível. Aquele galpão será analisado e vai ser aproveitado”, afirmou.

 

Para Daniela Diniz, é do interesse do Metrô que a Justiça se posicione logo sobre a propriedade do material “para que o passado não contamine o presente”. “Quem ganhar a próxima obra [na licitação] não tem nada a ver com o passado. Que isso seja um problema de Estado e não da próxima licitação, porque senão ninguém entra e o VLT não sai”, argumentou a diretora. “Temos que desvincular o que é problema de Estado antigo de novos investimentos.” O Tribunal de Justiça do Distrito Federal, onde a ação está sendo julgada, afirmou que não comenta processo em andamento.

 

Canteiro ocupado

O espaço considerado estratégico pelo Metrô não abriga somente vigas e material de siderurgia enferrujados. No local também vivem cerca de dez famílias de forma irregular, segundo o governo. Uma das moradoras é Maria de Lurdes da Silva, que se instalou por lá há 24 anos — servindo quentinhas a operários quando a primeira linha do Metrô era construída. Hoje ela está desempregada.

 

“Entrou governo e saiu governo e ainda estou aqui”, afirmou a mulher, de 65 anos. Maria de Lurdes relatou sofrer depressão por viver na iminência de ser despejada. Em 2009, a Agência de Fiscalização do DF (Agefis) tentou removê-la, mas ela conseguiu liminar para permanecer no canteiro. Mesmo sendo considerada invasora pelo governo, a mulher recebe conta de luz no nome dela. “Estou em situação irregular sim, mas não sou invasora”, desabafou. “Se eu tivesse onde morar, sairia daqui porque a pressão é muito grande.”

 

Apesar de o Metrô pagar vigilantes para proteger o local, Maria de Lurdes relatou que a área já foi invadida diversas vezes. “Arrombaram minha porta duas vezes enquanto estava na igreja. Já peguei duas vezes um carroceiro vindo roubar ferro da construção”, contou. “Fora que aqui perto tem um salão de festas e na falta de motel por perto, o povo vem de carro pra cá.” A direção do Metrô disse não haver provas de que houve furtos na região e que o fato será analisado durante a execução das futuras obras, com base nos relatórios da perícia feita no canteiro. Segundo a companhia, a perícia avaliou a quantidade e a qualidade do material que foi deixado no canteiro.

 

A Agefis informou que recebeu o pedido de remoção das famílias em junho e que vai verificar se elas se enquadram em alguma política habitacional ou social antes de desocupar a área. A Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social ressaltou que o governo já realizou abordagens no local, informando às famílias os benefícios a que podem ter acesso.

 

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