Congestionamento à vista

Obras de mobilidade atendem ao crescimento explosivo da frota de automóveis, enquanto ônibus perdem usuários em função da má qualidade dos serviços (George Fernandes)

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Estudo Mobilize 2011  |  Postado em: 17 de novembro de 2011

Natal - Estudo Mobilize 2011

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créditos: Estudo Mobilize 2011

Nenhum dos dezesseis projetos de mobilidade urbana planejados para a cidade de Natal até 2014 saiu do papel. A prefeitura da capital potiguar promete iniciar os trabalhos em novembro, mas ainda não enviou os onze projetos executivos para a Caixa Econômica Federal, reponsável por liberar R$ 293 milhões em recursos do FGTS. 

E, na esfera estadual, apenas um dos cinco projetos viários deve ser iniciado em outubro, segundo dados do próprio governo.

 

Na área de tranportes coletivos, a qualidade dos serviços desestimula seu uso pela população. O número de passageiros dos ônibus urbanos cresceu apenas 1,5% nos últimos dez anos, ante um crescimento populacional de 13%. O número de passageiros de ônibus vinha caindo desde 2004, com uma pequena recuperação em 2010. Há sete anos, a média mensal era de 10,7 milhões de viagens; em 2009 foram 9,9 milhões de passageiros, e no ano passado (2010) foram 10,3 milhões.

 

Por outro lado, a frota de veículos particulares mais do que quadruplicou: saltou de 66,8 mil, em 2000, para 292 mil, em 2010, segundo dados da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) de Natal. 

Diante das crônicas deficiências no sistema de transporte coletivo, o potiguar apela cada vez mais ao transporte motorizado.

 

Para o secretário-adjunto da Semob, Haroldo Maia, não há solução de engenharia que acompanhe tal crescimento. “Nenhuma obra vai comportar o crescimento que constatamos de veículos nos últimos tempos em Natal. Temos que priorizar a prestação de serviço do transporte público de qualidade”, avalia.

 

Segundo ele, os projetos elaborados pela prefeitura visam a reestruturar as vias e criar mais faixas exclusivas para ônibus. “Não podemos disputar o mesmo espaço com carros e motos. Estamos viabilizando projetos para beneficiar os usuários do transporte coletivo”. 

 

O secretário confirma que a tendência de migração do transporte público para o individual traz prejuízos para a cidade. “Teremos mais problemas de tráfego, além de questões ambientais e de saúde que estão diretamente correlacionadas”, conclui Haroldo.

 

Futuro congestionado


Para o professor de engenharia civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Enilson Medeiros Santos, a migração do transporte coletivo para o individual trará problemas à cidade no futuro. “A consequência imediata é a dificuldade de fluidez de tráfego. Por enquanto, Natal ainda tem espaço, mas já percebemos a intensidade de congestionamentos crescendo”, disse.

 

Na visão de Medeiros Santos, o crescimento econômico da cidade ficou concentrado nos mesmos pontos ao longo dos anos. 

“O crescimento populacional se expandiu para as periferias, mas as pessoas continuam viajando ao centro de Natal para trabalhar”. Enilson credita os problemas atuais à falta de políticas públicas de planejamento por parte das autoridades para o crescimento da cidade. 

 

Faixas para ônibus


Todas as obras planejadas pela prefeitura envolvem a ampliação do sistema viário, com a previsão de faixas exclusivas para ônibus. 

O primeiro trecho, que liga a Zona Norte ao estádio Arena das Dunas, já foi licitado. 

A secretária de Mobilidade Urbana de Natal, Elizabeth Thé, avalia que as obras do 

trecho 1 devem começar nos próximos meses. As obras do trecho 2, que conta com seis intervenções nas imediações da Arena das Dunas, estão na fase de projeto executivo e só devem começar em 2012. 

 

O professor Medeiros Santos avalia que Natal só tem a ganhar com as obras de mobilidade, porque “são obras estruturantes, que já se faziam necessárias”. Mas reconhece também que elas não darão conta do problema: “Em cidades com o dinamismo de Natal, o trânsito funciona como uma doença que todo dia se renova. 

É como um vírus que muda todo dia. 

Esse movimento deriva da dinâmica econômica e social da cidade, também mutante”, analisa.

 

Medeiros diz ainda que o investimento em transporte coletivo de qualidade e uma extensão maior de corredores de ônibus deveriam caminhar em paralelo às obras de infraestrutura viária. “Se hoje precisamos de 60 km de corredores na cidade, para o futuro já devemos pensar em decuplicar esse investimento”.

 

BRT aproveitará corredores de ônibus


Os corredores de ônibus projetados para 2014, com 22 km de extensão, serão aproveitados, com algumas adaptações, para o projeto do BRT em Natal. De acordo com Elizabeth Thé, o projeto de BRT está incluso no PAC das Grandes Cidades e independe do Mundial. “Até o início de outubro próximo, o Ministério das Cidades deve dar um parecer sobre este projeto”, disse a secretária. O BRT ainda não tem data definida de licitação, muito menos para implantação da cidade.

 

Obras estaduais priorizam carros


Das cinco obras de mobilidade urbana de responsabilidade do governo do estado do Rio Grande do Norte, a primeira a ser executada será a construção de dois túneis que farão o prolongamento da avenida Prudente de Morais, ligando o aeroporto Augusto Severo ao estádio Arena das Dunas. A obra deve começar ainda no mês de outubro, segundo Demétrio Torres, secretário da Copa no Rio Grande do Norte. Esta obra está orçada em R$ 11,7 milhões e ficará pronta em 2012. 

 

As três intervenções na Estrada de Ponta Negra, principal via de acesso à zona sul de Natal, estão em fase final do projeto executivo e o edital, segundo Torres, está para ser lançado. A estimativa é que o vencedor seja conhecido até novembro e que a construção comece no início de 2012. A obra da via que vai ligar o futuro aeroporto de São Gonçalo ao estádio Arena das Dunas ainda depende de “pequenos ajustes” (palavras do secretário), como a definição das desapropriações no trecho. O projeto tem valor estimado em R$ 15 milhões e ainda não tem prazo para começar.

 

VLT sem data


O principal projeto do governo estadual para melhorar o transporte coletivo prevê o aproveitamento de uma antiga ferrovia para a instalação de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Com investimento da ordem de R$ 130 milhões, o novo sistema vai utilizar a linha férrea que liga o bairro da Ribeira, na velha Natal (cidade baixa), ao município de Extremoz, localizado na Região Metropolitana. O projeto do VLT prevê a modernização da ferrovia e urbanização das estações, mas ainda não há data definida 


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