Como viabilizar o uso de bicicletas nas cidades brasileiras?

Projetos que dão certo incluem pontos de apoio aos ciclistas, como estacionamentos, e investimentos em obras de infraestrutura que estimulam esse tipo de transporte

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Fonte: G1  |  Autor: Em Movimento/ G1  |  Postado em: 21 de fevereiro de 2018

Uso das bikes cresce em locais como RJ, mas falta

Uso das bikes cresce em locais como RJ, mas falta manutenção

créditos: Shutterstock

Passar duas horas parado no trânsito não é mais possível no cotidiano apressado do brasileiro. E essa é uma das primeiras motivações para que os moradores de centros urbanos comecem a utilizar a bicicleta como meio de transporte. Segundo a pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro, realizada pela ONG Transporte Ativo, 42,9% da população considera “rapidez e praticidade” o principal motivo para adotar a magrela como modo de locomoção. Em seguida, vêm saúde (24,2%) e custo (19,6%).

 

“O carro funcionou bem nas cidades do século XX, mas a quantidade de veículos cresceu, e as cidades nem tanto. Usar a bicicleta virou uma alternativa para o morador que não encontra mais praticidade e velocidade no carro”, observa o presidente da Transporte Ativo, Zé Lobo.

 

Mas a vontade de pedalar esbarra em obstáculos. O mesmo levantamento mostra que os principais problemas enfrentados pelos ciclistas são a falta de respeito dos condutores motorizados (34,6%), e de infraestrutura adequada, como ciclovias e bicicletários (26,6%). Metade dos entrevistados considera que o investimento em infraestrutura cicloviária os faria sair de casa mais vezes pedalando.

 

E por que investir no transporte cicloviário? Cidades com altos níveis de qualidade em mobilidade urbana costumam estimular esse tipo de deslocamento por diversos motivos, entre eles a melhoria no fluxo do trânsito e a maior praticidade e rapidez de locomoção, sem contar benefícios como redução na emissão de CO² e dos problemas de saúde (com a população mais ativa, diminuem riscos de doenças cardiovasculares).

 

O presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), Cicero Alvarez, afirma que a mobilidade poderia ser inclusive um critério para a organização das cidades. “Os municípios se expandem a partir da demanda imobiliária. A mobilidade poderia mudar esse cenário, determinando, por exemplo, em quais regiões é permitido ou não construir”. Em Londres, lugares onde há estações de bicicletas compartilhadas já estão com imóveis mais valorizados do que áreas onde não há, um exemplo de que a bike começa a influenciar também o mercado da construção civil.

 

Investir no uso de bicicletas não significa abrir mão de outras formas de transporte, mas de integrá-las a esses modais, com impacto positivo para todo o sistema de trânsito.

Segundo Warner Wonk, consultor em mobilidade urbana sustentável e fundador da iFluxo, 50% das viagens que fazemos são de curta distância, de um a três quilômetros. Exemplos cotidianos: ir à padaria, ao supermercado, à academia. São deslocamentos que podem ser feitos pedalando. “Você desocupa espaço na rua. Assim, os trajetos que realmente têm que ser feitos de carro terão menos engarrafamentos”, observa.

 

Rio e SP: mais bikes nas ruas, pouca manutenção

Nas duas maiores cidades brasileiras, há uma crescente demanda no uso da bicicleta, embora a infraestrutura deixe a desejar em alguns pontos. Iniciativas de uso de bicicletas compartilhadas ajudam a fomentar esse transporte nos deslocamentos diários. O Bike Rio é um dos projetos pioneiros no país e funciona desde 2011. As estações, que eram 60 no primeiro ano, hoje estão em 260 e agora estão passando por reformulação. O número atual de bicicletas é 2,6 mil. Segundo a Subsecretaria de Projetos Estratégicos da Prefeitura do Rio (Subpe), em média, 3 mil pessoas usam o serviço diariamente.

 

Desde 2012, o BikeSampa opera em São Paulo. No começo, funcionava com 10 estações. Hoje, contabiliza 260 e mais de 2,6 mil bicicletas. Em operação desde 2013, o CicloSampa é outro serviço de bikes compartilhadas. O projeto, que começou com cinco estações, hoje tem 17, distribuídas nas regiões da Paulista, Zona Oeste e Zona Sul.

 

O crescimento de ciclistas foi superior a 200% entre 2014 e 2015 em 14 trechos de ciclovias monitorados pela Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) de São Paulo. Hoje, a capital paulista conta com 498,3 km de vias para transporte cicloviário (468 km de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 km de ciclorrotas). Em 2013, eram 68 km de ciclovias e 30,3 km de ciclorrotas, segundo a prefeitura. 

 

Os maiores problemas estão na manutenção dessas vias: asfalto irregular ou esburacado, bocas de lobo mal posicionadas (que podem causar acidentes), falta de sinalização em cruzamentos, sujeira, e tampas de bueiro desniveladas são algumas das adversidades encontradas pelos ciclistas.

 

O Rio, que em 2012 estava na lista das 20 cidades mais cicláveis do mundo, conta com cerca de 450 km de ciclovias. Assim como em São Paulo, as dificuldades são em manter esses caminhos bem conservados. Um dos principais legados das Olimpíadas, a Ciclovia Tim Maia, por exemplo, desabou em dois pontos. Em abril de 2016, três meses após a inauguração, um trecho de cerca de 20 metros entre Leblon e São Conrado desmoronou depois de ser atingido por ondas. Neste ano, outro trecho, entre São Conrado e Barra da Tijuca, afundou depois de fortes chuvas.

 

Parceiras dos ônibus

Fortaleza é hoje um dos destaques nacionais na área: o Projeto Bicicletar é uma das medidas adotadas pela cidade e já alcançou a marca de 1,8 milhões de viagens realizadas desde que foi implantado, em 2014. O sistema saltou de 40 para 80 estações em diversos bairros. Também trouxe benefícios ambientais: 683 toneladas de gás carbônico deixaram de ser lançadas na atmosfera, conforme cálculos da empresa que administra o Bicicletar.

 

Outro projeto na cidade é o Bicicleta Integrada, com estações nos terminais de ônibus. O usuário pode retirar a bicicleta por até 14 horas e devolver em qualquer momento do dia. O pagamento pode ser com o bilhete único, o mesmo dos ônibus. O serviço é útil porque estimula a pedalada para ir ao trabalho: sabendo que poderá contar com a bike na volta para casa, o morador se sente incentivado a usá-la.

 

Semelhante aos projetos no Rio de Janeiro e em São Paulo, Fortaleza se destaca por ter conseguido fazer com que a bicicleta efetivamente se conectasse aos outros modais. Assim, ela passa a ser uma opção real de transporte para quem precisa se locomover, e não apenas um equipamento para lazer.

 

Bicicletário das Américas

Outra iniciativa brasileira é o Ascobike, maior bicicletário da América do Sul. Cerca de 200 bicicletas e mais de 1,7 mil usuários por dia são atendidos diariamente no complexo, que fica em Mauá, interior de São Paulo. Próximo à Estação Mauá, oferece segurança para quem quer estacionar a bike, e funciona 24 horas por dia. Além disso, conta com vagas especiais para mulheres e idosos e oficina de bicicletas para manutenção e revisão, com serviço de empréstimo de bicicletas caso necessário.

 

O bicicletário de Mauá e as iniciativas de Fortaleza são exemplos positivos de que é possível incentivar o uso das bicicletas, com foco na melhoria da mobilidade urbana e da qualidade de vida dos cidadãos em movimento.

 

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