Urbanista italiano afirma que infraestrutura viária é barreira para a cidade

Bernardo Secchi participou do primeiro ciclo de seminários Quitandinha+50 e conversou com a imprensa sobre mobilidade urbana e o papel de arquitetos e urbanistas

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Fonte: Pini Web  |  Autor: Luciana Tamaki  |  Postado em: 05 de março de 2013

O urbanista italiano Bernardo Secchi

O urbanista italiano Bernardo Secchi

créditos: Divulgação

 

Todas as metrópoles e grandes cidades padecem dos mesmos problemas: ambiental, de mobilidade e a desigualdade social. O urbanista italiano Bernardo Secchi define esses problemas como a "nova questão urbana", e a resolução de um deve necessariamente lidar também com os outros, pois essas questões estão interligadas.

 

Em Paris, por exemplo, cidade com estrutura radial, a dificuldade da mobilidade atua na direção da segregação social. E a solução não passa por grandes obras viárias, que demoram e são caras, mas sim por projetos de urbanismo que pensem a cidade de forma geral, afirma o urbanista.

 

Bernardo Secchi foi o conferencista do primeiro dia do ciclo de seminários Quitandinha+50, evento realizado pelo IAB e CAU/BR. Esta edição ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 27 de fevereiro e 1° de março, com o tema "Arquitetura, Cidade, Metrópole - Democratizar Cidades Sustentáveis". O ciclo de seminários continua pelo ano de 2013, no Rio Grande do Sul (abril), São Paulo (maio), Distrito Federal (junho), Minas Gerais (julho), Bahia (agosto) e Amazonas (setembro).

 

A primeira mesa-redonda do primeiro dia de seminários relembrou o histórico Seminário Nacional de Habitação e Reforma Urbana, realizado no Hotel Quitandinha, em 1963, destacando a importância da discussão de novas bases de uma política de urbanização nacional e das mudanças demográficas brasileiras.

 

Antes de sua conferência que encerrou o primeiro dia, Bernardo Secchi conceceu entrevista a jornalistas presentes no evento. Leia abaixo os melhores momentos da conversa:

 

Você afirma que as metrópoles sofrem com os mesmos problemas de mobilidade, de desigualdade social e problemas ambientais. E as soluções? Como ver e pensar a cidade para resolver essas questões?

Todas as cidades têm os mesmos problemas, mas cada cidade é diferente da outra. Não há uma única solução, cada cidade precisa de uma solução específica. O que sugiro para Paris não é o mesmo para Moscou, e não sei o que sugeriria para o Rio de Janeiro, mas seria diferente. De qualquer forma, a primeira ideia é que o problema de mobilidade não pode ser solucionado com nova grande infraestrutura. Isso só chama novos carros e novos congestionamentos. É preciso pensar em algo mais difuso, menos caro. Soluções como as de engenharia precisam de grandes investimentos, mas a municipalidade não tem dinheiro, então a solução chegaria em muitos anos, sendo que o problema é agora.

 

Você tem algum exemplo?

Desigualdades sociais e problemas de mobilidade estão ligados, unidos. Em Paris se provou que o problema era do sistema de mobilidade, que atua na direção da segregação, não integração. Mas, quando há grandes problemas de mobilidade, eles chamam engenheiros para solucioná-los. E o que os engenheiros estão fazendo é criar novas vias e viadutos, que são contínuas barreiras pela cidade, que enclavam as pessoas, como ocorre em Paris. É preciso chamar os arquitetos urbanistas.

 

E é preciso tratar a questão da cultura de carro de forma sistêmica, não de forma isolada.

Não é isolada, é geral. Creio que estaríamos melhor em um mundo sem carros, ou com menos carros. Não é impossível. Em Bruxelas, propusemos uma área vetada a carros. Os políticos, tomadores de decisões, nos chamaram de loucos. Depois, feitos passo a passo, eles mudaram de ideia, disseram "Não é tão louco assim". As pessoas começaram a organizar "ilhas" de pedestres em fins de semana sem carros, com muito sucesso. Agora, esses tomadores de decisão nos pediram para desenvolver uma estratégica concreta para reduzir os carros, claro que não imediatamente.

 

Qual é o papel dos arquitetos e urbanistas na formação das cidades?

O papel é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Começando pelo design da xícara de café até, atravessando a escala, um pedaço pequeno da cidade e regiões inteiras. Para fazer isso, é preciso boa teoria. Esse trabalho [de arquitetura e urbanismo] deve propor soluções práticas, e, como backgroud, deve ter bom fundamento. É preciso discutir sobre as teorias.

 

Você poderia comentar sua afirmação de que é o espaço que dá forma às relações sociais e à economia?

O espaço é que produz relações sociais, que produzem novas formas para a economia. E há muitos exemplos disso. Quando a burguesia fez cidades como Paris, Milão, Viena, eles fizeram espaços nos quais ela podia viver e circular. Isso era importante para o desenvolvimento da burguesia. O mesmo ocorreu para as classes sociais no começo do século 20, quando o estado de bem-estar social começou a pensar parte da cidade para a classe trabalhadora. Isso foi uma melhora, não só para a vida social, mas também para a economia. Depois, essa ideia se perdeu, é difícil dizer por quê. Hoje pensamos que todos os problemas são financeiros e econômicos, e nada mais, mas creio que isso está errado.

 

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