No segundo dia de visitas ao país, uma delegação do governo russo foi recebida em São Paulo, onde obteve um panorama sobre a forte cultura do automóvel aqui presente. Os russos ficaram sabendo, por exemplo, que na capital paulista já existem 7,5 carros particulares em circulação. O grupo foi recebido pelo chefe de gabinete da SPTrans (São Paulo Transporte S.A.), Ciro Biderman, que lembrou as raízes do que hoje é considerado um problema crônico.
“O crescimento do carro foi a cultura que mais afetou a forma urbano de todos os tempos. E aqui, na América Latina, adotamos com muita força o ‘carrocentrismo’ dos Estados Unidos”, explica. ”Não sou contra o carro. O problema são as chamadas externalidades negativas do uso do automóvel que são extremamente elevadas, com impactos ambientais e econômicos”, esclarece Biderman. Para o especialista, a solução é clara: o foco deve ser “mover pessoas, não veículos”. Para isso é imprescindível que haja investimentos em alternativas ao carro, ou seja, em transporte público e no não-motorizado.
O execuivo da SPTrans explicou aos russos as características da região metropolitana de São Paulo: 39 municípios com população estimada em 20 milhões de pessoas; destas, observou, 55% utilizam o transporte coletivo, todos os dias. Lembrou ainda que, para atender a essa demanda, as linhas de ônibus são operadas por empresas privadas, sob a gestão da SPTrans.
Também foi dito por Biderman aos técnicos russos que o gosto das pessoas por morar em grandes cidades como São Paulo se explica pelos benefícios sociais, econômicos e culturais que estes centros oferecem. Porém, adiantou, "quando começamos a perder tempo presos nos congestionamentos, perdemos em qualidade de vida. Proximidade hoje não é distância, é tempo. Deve haver portanto alternativas de mobilidade numa grande cidade como São Paulo”, esclarece Biderman.".
Biderman também esclareceu dúvidas do grupo russo sobre o sistema de ônibus de SP. (Foto: Mariana Gil / EMBARQ Brasil)
Ônibus é alternativa
De acordo com o especialista, como construir metrô é oneroso, tanto para os cofres públicos quanto para o ambiente urbano, o ônibus, quando bem planejado, pode ser uma opção eficaz: “Apenas um ônibus tira de circulação, pelo menos, 30 carros. Com os corredores exclusivos, ou o padrão BRT (Bus Rapid Transit) é possível atingir uma boa eficiência, rapidamente”.
Atualmente, a cidade de São Paulo conta com 120 km de corredores exclusivos para os ônibus, com projetos de expansão das faixas segregadas. Porém, apenas um corredor, o Expresso Tiradentes, apresenta características do sistema rápido desenvolvido em Curitiba, na década de 70. Para conhecer mais sobre o sistema, a delegação russa seguirá, nesta tarde, para uma visita técnica ao Expresso Tiradentes, onde poderá conhecer de perto o BRT paulistano.
Parte do grupo durante reunião na SPTrans. (Foto: Mariana Gil / Embarq Brasil)
Este texto foi publicado originalmente no site The City Fix Brasil.
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