Belo Horizonte, 1986. A inauguração do primeiro trecho da Linha 1 do  metrô, totalmente de superfície, ligando o Eldorado à Lagoinha, um  trecho de 10,8 quilômetros, vem com a promessa de ampliação em pouco  tempo. E de que o meio de transporte será a solução para a melhoria do  transporte público da capital, que ainda não inclui o trânsito entre  seus principais problemas.
 
 Vinte anos depois, o restante da Linha 1, ligando as estações São  Gabriel e Vilarinho, em Venda Nova, é finalmente inaugurado, sem  necessidade de baldeações. Os 28,2 quilômetros da Linha 1 podem ser  percorridos de ponta a ponta em menos de 40 minutos.
 
 Com uma população de 2,3 milhões de habitantes, e 4,8 milhões de pessoas  na Região Metropolitana, os moradores da cidade fazem, ao todo, 777 mil  viagens por dia de casa para o trabalho, no sentido oposto, e em busca  de descanso ou lazer. Dessas, menos de 1% são pelo metrô.
 
 Madri, 1986. O metrô tem pouco mais de 80 quilômetros de extensão e  planos de expansão pouco mais ambiciosos que os de BH. Duas décadas  depois, a capital espanhola conta com 293 quilômetros, divididos em 15  linhas que interligam toda a cidade. Os 2,9 milhões de habitantes da  cidade e pouco mais de 5,9 milhões na Região Metropolitana fazem 1,5  milhão de viagens por dia, das quais 44% utilizam o sistema.
 
 A comparação foi feita na semana passada pela secretária-adjunta de  Gestão Metropolitana de Belo Horizonte, Maria Madalena Franco Garcia,  durante o Seminário Meio Ambiente e Cidadania, promovido pelo Hoje em  Dia. E veio com a seguinte reflexão: uma cidade com mais mobilidade é  uma cidade que permite a ascensão social.
 
 Isso porque para procurar emprego, estudo e lazer, é necessário que as  pessoas saiam de casa. Se o cidadão tem que pegar dois ou três ônibus, a  viagem se torna inviável, e ele perde a oportunidade, esteja  trabalhando ou não.
 
 “A falta de mobilidade é muito cruel. Pesquisa realizada pela Fundação  João Pinheiro em 2009 aponta que as pessoas mais miseráveis sequer  entravam na conta das desempregadas naquele ano. Porque, sem dinheiro,  elas não saíam de casa, e não integravam as estatísticas”, destaca.
 
 Segundo Maria Madalena, a comparação entre as duas cidades e o número de  viagens feitas em cada uma delas deixa clara a situação precária do  metrô de Belo Horizonte. “O metrô é e não pode ser a única solução para o  transporte coletivo em uma cidade, mas é a espinha dorsal do transporte  público de massa”, avalia.
 
 Promessa de campanha de todos os prefeitos que passaram pela capital  desde 1980, a construção das linhas 2 e 3, que chegou a ser anunciada  com a garantia de que Belo Horizonte seria uma das cidades-sede da Copa  do Mundo de 2014, a modalidade foi mais uma vez adiada em 2010. O  motivo: a falta de verbas. Projeto executivo e obras estão estimadas,  atualmente, em cerca de R$ 4,4 bilhões.
 
 Para tentar pressionar o Governo Federal, o deputado estadual Fred Costa  (PHS) lançou, na última semana de agosto, o movimento “Eu Quero Metrô”.
 
 A ideia é angariar assinaturas de moradores das cidades da Região  Metropolitana em um abaixo-assinado que será encaminhado à secretaria da  Presidência da República. A primeira ação do movimento foi deixar  listas para assinaturas em vários prédios da capital. Outros dados sobre  a situação dos trilhos em cidades ao redor do mundo também estão  disponíveis no site da iniciativa Eu Quero Metrô.
 
Vias diferentes exigem veículos diferentes
 
 Veículos diferentes para funções diferentes, todos interligados. É o que  defendem especialistas em mobilidade. A comparação mais comum de um  modelo de transporte ideal é com um corpo humano. Nos bairros, veículos  leves, como se fossem as veias de mãos e pés, chegando a estações de  integração, como a Estação Diamante, no Barreiro.
 
 De lá, o usuário deveria seguir até as linhas de metrô (coluna vertebral  do transporte de uma cidade de grande porte, como Belo Horizonte) ou as  linhas do BRT (considerado de médio porte) em ônibus ou micro-ônibus.  E, assim como em um organismo vivo, todos estes módulos deveriam ser  integrados, usando, por exemplo, bilhetagem eletrônica.
 
 “Não adianta colocar muitos ônibus nas ruas, mas cada um com um cartão.  Assim como não é possível pensar em transporte público sem integração  entre as modalidades”, afirma a secretária-adjunta de Gestão  Metropolitana de Belo Horizonte, Maria Madalena Franco Garcia. Segundo  ela, assim como a integração tarifária é importante, o uso de diferentes  tipos de veículos, para diferentes tipos de vias, é fundamental.
 
 “Temos que ir criando outras alternativas rapidamente. Se não, podemos  enfrentar, em breve, a mobilidade zero, que é um apagão no trânsito”,  afirma o gerente de Políticas de Sustentabilidade da BHTrans, Marcelo  Cintra. “Ficamos muito tempo batendo na tecla do metrô, mas há outras  opções”, diz. Segundo ele, outras modalidades de mobilidade – andar a  pé, de bicicleta, táxi – também devem ser estimuladas. “Isso faz parte  da construção da cidade”.
 
 Além das ciclovias e dos táxis, outros modelos já adotados em países em  desenvolvimento, como o Brasil, são alternativas a serem estudadas. Uma  delas é o Tuk-Tuk, triciclo em fase de licenciamento para ser usado no  Brasil, mas já amplamente empregado nos países asiáticos e no Peru.
 
 Mais seguro que a moto, por se apoiar sobre três rodas, o veículo  transporta até quatro pessoas no espaço equivalente à metade de um carro  popular. Outras alternativas propostas pelo Plano Diretor de  Desenvolvimento da RMBH (PDDI) são as ciclovias e o alargamento das  calçadas, para incentivar que as pessoas andem a pé.