Ele viajou 9 mil km por 9 países. De bike

Sete meses pedalando e mil histórias para contar. Leia a entrevista do Du Dias, do blog Mobilize Europa

Notícias
 

Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Caroline Pires  |  Postado em: 29 de janeiro de 2014

Du Dias e sua bike em Nantes, França

Du Dias e sua bike em Nantes, França

créditos: Divulgação

 

Jornalista, responsável pelo blog Mobilize Europa, Du Dias acaba de voltar de viagem, e trouxe na mochila muitas histórias recolhidas durante os sete meses em que esteve pedalando. Ao todo, foram 9.000 km percorridos em países diferentes, passando por cidades como Amsterdã, Barcelona, Milão, Viena, Praga, Lisboa e dezenas de outras localidades. A aventura foi documentada no blog, mas aproveitamos a passagem do inquieto viajante  - ele já está planejando mais uma saída - para um balanço dessa experiência.


A viagem valeu a pena?

Foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Viajar sete meses sozinho por lugares tão diversos é uma experiência incrível. Além de conhecer pessoas, lugares e culturas novas, é também um exercício forte de autoconhecimento. Fazer isso utilizando a bicicleta foi ainda mais benéfico para mim, já que ganhei autoconfiança, condicionamento físico e muitas portas abertas. Hoje estou muito mais próximo do que eu quero para mim do que antes de fazer a viagem. Em outras palavras: me conheço melhor, meus valores, necessidades, desejos e objetivos.


Fale de alguns dos principais momentos, desafios e dificuldades que enfrentou. Se der, conte uma boa historinha por que passou...

Chegando na Holanda enfrentei temperaturas inferiores a zero grau, com muito vento e chuva. Embora o país seja essencialmente plano, a sensação era de pedalar sempre numa subida, dada a força dos ventos. À noite, para acampar era bastante complicado: diversas vezes tive que dormir vestindo todas minhas roupas e assim mesmo sentia frio, já que minha barraca ficava com uma camada de gelo por fora e extremamente úmida por dentro. Na Alemanha enfrentei a primavera mais chuvosa da última década, com alagamentos, enchentes e pontes destruídas.  Foi uma experiência tanto desafiadora quanto enriquecedora. A travessia dos Alpes e dos Pirineus (cadeias montanhosas da Europa0 também foram grandes desafios, cuja superação foi uma conquista que me deu forças incríveis para seguir adiante.


Quanto à mobilidade na Europa, o que viu que poderia servir como exemplo para o Brasil?

Muita coisa poderia servir de exemplo: o planejamento, a sinalização, a infraestrutura, a organização das cidades, a diversidade de modais, o cumprimento das leis e principalmente o respeito entre as pessoas, que está acima de tudo.


O que mais chama atenção, hoje, nas diferenças entre Brasil e Europa, no que diz respeito à bicicleta?

O que mais me impressionou foi mesmo a facilidade e a segurança ao utilizar a bicicleta como meio de transporte. Um bom termômetro para isso é a presença de crianças e idosos pedalando. Quando uma criança de seis anos ou um idoso podem andar de bicicleta sozinhos e tranquilamente pelas ruas isso é sinal de um bom nível de desenvolvimento social.


Quais os seus planos para o futuro?

Hoje mantenho uma colaboração com o Mobilize e, se tudo der certo, deve gerar bons frutos, como um projeto que estamos desenvolvendo juntos e que deve ganhar força ao longo do ano. Minha ideia é me envolver cada vez mais na discussão da mobilidade humana, coletar material quando viajar de bicicleta e em breve publicar um livro. Quero contribuir para uma cidade mais humana, e é por isso que tento fazê-lo desde já.


Pretende viajar para outros lugares do mundo?

Sim, pretendo continuar viajando, mas para isso preciso captar recursos e fazer alguns planos. Estou me programando para uma viagem de bicicleta pelas Américas do Sul e Central, conhecer nossos vizinhos e chegar possivelmente no México para depois retornar a São Paulo cortando o Brasil. É uma viagem mais complicada, porém muito rica. No momento pretendo juntar recursos para esse projeto, o que espero que aconteça no prazo de um ano. Acredito que essa vivência pode ser muito rica para entender a estrutura das cidades e como os cidadãos se relacionam com ela. Bons exemplos podem vir dos nossos vizinhos e espero poder aproveitar ao máximo o que eles tem para ensinar.


Você hoje está trabalhando de bike courier... O que o levou a escolher esta atividade e como está sendo?

No final do ano passado, quando retornei ao Brasil, procurei algumas empresas de bike courier para trabalhar. Uma delas havia fechado as portas e a outra parece que vai bem. Fiz algumas entregas antes do recesso de Natal e ano novo, mas agora, no começo do ano, parece que não há muita demanda, então quem começou a pouco tempo fica sem serviço. Com o andar da carruagem a situação deve normalizar.

A ideia de trabalhar como entregador foi meio automática, já que o serviço possibilita que eu ganhe algum dinheiro montado numa bicicleta, pedalando e conhecendo melhor a cidade. Ganhar dinheiro, mesmo que pouco, pedalando, é o sonho de muitos usuários de bicicleta. Outro fator que contou a favor desta decisão foi a possibilidade de enxergar a cidade de uma maneira diferente. Pedalar como entregador é muito diferente de pedalar por esporte, lazer ou de usar a bicicleta como meio de transporte. É uma dinâmica diferente e esta experiência me parecia muito rica. Como estou há pouco tempo na atividade e ainda não fiz muitas entregas acho cedo para falar com propriedade sobre o assunto, mas posso dizer com certeza que estou curtindo muito!

 


Leia também:

Pedalando às margens do rio Elba 

Pedalando rumo a Berlim 

Chegando na Alemanha, de bike 

 

 


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Pedro Prandini - 28 de Janeiro de 2014 às 17:18 Positivo 1 Negativo 0

Parabéns Du , grande abraço.

Clique aqui e deixe seu comentário