Em Salvador, carros respondem por 74% das emissões de gás de efeito estufa

Dados fazem parte do inventário da emissão de gases do efeito estufa de Salvador, realizado pela primeira vez na cidade por organização mundial de sustentabilidade

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Fonte: Correio 24 horas  |  Autor: Perla Ribeiro  |  Postado em: 28 de julho de 2015

Helder Ciclista diz enfrentar uma guerra para usar

Ciclista diz enfrentar "uma guerra" para usar a bike

créditos: Marina Silva

 

Todos os dias, 2.682 ônibus vão às ruas de Salvador. Pelo Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães passam 220 voos domésticos por dia e mais 57 voos internacionais por semana. Somado a isso há uma frota de 831.584 veículos automotivos e 45 navios que chegam ao porto por mês. Todos queimam combustível e liberam gases prejudiciais à atmosfera. Isso tem um preço e a cobrança vem com mudanças no clima. É muita chuva em curto espaço de tempo e verões mais quentes.

 

Os dados fazem parte do inventário da emissão de gases do efeito estufa de Salvador, realizado pela primeira vez na cidade pelo Iclei, a principal associação mundial de governos locais dedicados ao desenvolvimento sustentável. Segundo o estudo, 74% das emissões dentro da capital vêm do transporte. Outros 18% da energia estacionária e 8% dos resíduos.

 

Estes números indicam que Salvador tem o mesmo perfil de emissões das demais capitais brasileiras. “O transporte é o grande vilão. Há muitos carros usando gasolina, falta incentivo para o etanol”, avalia o gerente de mudanças climáticas do Iclei para a América do Sul, Igor Albuquerque, que participou como palestrante do Fórum Agenda Bahia, em 2014.

 

Dentre os meios de transporte, é o terrestre que responde por 74% das emissões, a aviação por 24% e o hidroviário por 2%. Quando um veículo queima gasolina, a molécula de carbono do combustível é jogada na atmosfera e esses gases esquentam o planeta além do que já aqueceria naturalmente.

 

“Qualquer combustível que se queima vai emitir CO2 e água. Por isso, o gás carbônico é tão importante no cenário de mitigação, de a gente evitar ou tentar reduzir as emissões a partir da queima de combustíveis fósseis. O grande emissor hoje em dia é o transporte. É assim no mundo inteiro”, explica a professora do MBA de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Christianne Maroun.

 

Quando sai às ruas de Salvador, o representante comercial Helder Guido se sente só. Ele é um dos poucos que usa com frequência a bicicleta para se deslocar. “Tenho que preparar o espírito porque sei que será uma guerra. Melhorou bastante, mas ainda é complicado”, avalia.


A meta da prefeitura é implantar 200  quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e vias compartilhadas até 2016.  Segundo o secretário da Cidade Sustentável, André Fraga, a atual gestão recebeu uma cidade em que o conflito e a disputa eram a tônica do trânsito. 

 

Mudança  Para Fraga, com a implementação do Salvador Vai de Bike, uma virada está acontecendo, com novas faixas exclusivas, treinamento para motoristas de ônibus e campanhas de mobilização cidadã. “Eu mesmo, uma vez por semana, sigo de minha casa ao Parque da Cidade, de bike, para trabalhar. Nesses 19 quilômetros percebo a completa mudança de atitude dos motoristas na relação com os ciclistas”, assegura.

 

Se a meta é reduzir as emissões, o estímulo do uso da bicicleta é um bom começo. Em grandes cidades do mundo isso já é realidade. “Engarrafamentos contribuem significativamente para o aumento de emissões”, explica Albuquerque. O inventário de Salvador não mede a contribuição dos congestionamentos, mas segundo o especialista, com base no documento é possível fazer análises e estimar esse número. 

 

Por ano, a capital baiana emite 3.698.964 milhões de toneladas equivalentes de gás carbônico (CO2). Para Albuquerque, o número bruto não significa que a emissão é maior. É preciso levar em consideração o tamanho da população, os aspectos avaliados e a área da cidade. “Quanto mais dados se consegue, mais alto fica o valor do inventário.  Uma cidade pode apresentar indicadores mais baixos e não ter mensurado alguns setores relatados em outro inventário”, diz.

 

Para realizar um inventário completo, seis gases do efeito estufa têm de ser mensurados. Em Salvador, foram avaliados três: dióxido de carbono, metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Embora tenham um potencial de aquecimento maior, os demais gases estão relacionados a  indústrias específicas. 

 

Para a professora Christianne Maroun, um inventário com os três gases avaliados em Salvador é considerado bem eficiente, já que eles respondem por 90% das emissões. O N2O é referente à agricultura, o CO2 vem de todas as queimas de combustíveis para gerar energia e o metano vem do tratamento de matéria orgânica (esgoto e lixo).  

 

Cada gás tem um potencial de aquecimento e um impacto diferente na atmosfera. O mais recorrente em Salvador foi o dióxido de carbono, seguido do óxido nitroso e, por último, o metano, que é 25 vezes mais prejudicial do que o gás carbônico. Já o óxido nitroso é 298 vezes mais maléfico. 

 

“Quando você queima combustível, libera os três gases, sendo o CO2 a maior parte do gás emitido nessa reação química. A fração do óxido nitroso é menor, mas bem mais danosa”, explica Albuquerque.

 

Estudo possibilita criação de estratégia para reverter poluição
Com o estudo pronto, Salvador já pode atacar seus vilões climáticos. “A cidade tem uma fotografia do que significa as emissões”, diz o especialista do Iclei. Agora, segundo ele, é possível traçar uma estratégia de redução das emissões por setor.

 

O secretário André Fraga sabe que a agenda é complexa, já que o grande desafio é conseguir materializar os efeitos do aquecimento global no dia a dia do cidadão. “É preciso mostrar que os eventos climáticos extremos, como as chuvas torrenciais que passamos recentemente, são a ponta do iceberg. A elevação do nível do mar pode acabar com um de nossos principais ativos que são as belezas naturais. Sem isso não há turismo, não há economia para a cidade”.

 

O inventário é parte de um projeto que a prefeitura de Salvador firmou com a WRI com foco na inovação da mobilidade urbana. A ideia era descobrir como encontrar uma solução inovadora para reduzir as emissões do efeito estufa através da mobilidade. “É possível o desenvolvimento de um plano de ação para enfrentamento das mudanças climáticas, um levantamento do sistema de transporte, metrô, linha de ônibus, criação de ciclovias, extensão do BRT”, sugere Albuquerque.

 

Frota de Salvador adota tecnologia  nova e mais limpa

A concessão do transporte público de Salvador colocou entre os pré-requisitos para exploração do serviço o uso da motorização Euro 5, tecnologia que reduz em 60% as emissões de óxido de nitrogênio (NOx) e em até 80% as emissões de partículas promovidas pelos modelos com a tecnologia Euro 3. 

 

Hoje, 100% da frota já usa essa motorização. Segundo o secretário da Cidade Sustentável, André Fraga, o uso de uma matriz energética menos poluente, como o Euro 5, e a possibilidade de ônibus elétricos com a integração de modais como o metrô e o VLT e o BRT possibilitarão um transporte de qualidade e rápido. 

 

O secretário de Mobilidade, Fábio Mota, diz que Salvador testou em 2013 um modelo de ônibus elétrico. “Desistimos por não ter autonomia. Existe um problema de durabilidade de carga. Estamos estudando e recebendo propostas e projetos para o setor dentro da área de energia renovável”, informou Mota.

 

Esgoto é transformado em energia em ETE de Feira

Até o final de setembro, a Coelba, a Embasa e a Uefs inauguram a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Jacuípe II, em Feira de Santana, que usará o biogás captado do esgoto para gerar energia. A estimativa é que a energia gerada chegue a 80% da demanda da ETE, que atende 100 mil habitantes. 

 

Segundo a gerente de assistência energética da Coelba, Ana Christina Mascarenhas, só depois da inauguração é que será possível mensurar a viabilidade econômica do projeto. A ideia é que, a partir do piloto, a Embasa possa difundir a experiência em outras estações.

 

“No Brasil não é muito comum usar o gás como fonte de energia, mas a produção da energia pelo biogás é uma realidade em muitos países. Com essa iniciativa,  deixa-se de jogar o metano no meio ambiente, que é um gás 21 vezes pior do que o gás carbônico”.

 


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