Olimpíada & Teletrabalho: solução simples para um desafio complexo

Com planejamento, Londres e Pequim incentivaram o home-office e reduziram as viagens urbanas motorizadas durante (e após) o megaevento esportivo em seus países. E nós?

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Olimpio Alvares*  |  Postado em: 21 de março de 2016

Londres: incentivos ao transporte público nos Jogo

Londres: incentivos ao transporte público nos Jogos de 2012

créditos: Reprodução

 

Inspiradas no sucesso das Olimpíadas de Pequim em 2008, as autoridades de transportes de Londres desenvolveram um plano durante os Jogos Olímpicos de 2012, visando ao engajamento de empresas públicas e privadas no trabalho a distância. 

 

Como Pequim e muitas outras grandes metrópoles, como por exemplo o Rio de Janeiro, Londres vivenciava graves problemas de congestionamento e contaminação atmosférica oriunda principalmente da queima do diesel e da gasolina.

 

A poluição urbana é causada pelos óxidos de nitrogênio - NOx - tóxicos e precursores do também tóxico ozônio troposférico (de baixa altitude) - O3 - e pelo material particulado fino cancerígeno - MP2,5. Este último, segundo a Organização Mundial da Saúde, é o responsável pela morte prematura anual de 2,6 milhões de cidadãos nas metrópoles.  

 

A poluição climática do dióxido de carbono - CO2, produto da queima descontrolada de combustíveis fósseis, também já constava há muito tempo na agenda prioritária de políticos e autoridades ambientais, como um mal moderno a ser combatido de modo permanente, a fim de evitar o superaquecimento do planeta. Os transportes contribuem com cerca de um terço da carga de gases do efeito estufa.

 

Londres

Além da poluição no viário superficial, o Metro Londrino apresentava superlotação, registrando cerca de doze milhões de viagens ao dia. Com as Olimpíadas de verão, 500 mil novos usuários trariam uma sobrecarga de três milhões de deslocamentos (25% a mais), em um sistema já esgotado nos horários de pico - prenúncio de um colapso com consequências imprevisíveis para a imagem internacional da cidade e, principalmente, para o bem-estar e segurança dos passageiros.

 

Daí, uma campanha governamental de 13,3 milhões de libras foi desenvolvida visando a persuadir cidadãos a mudarem seu padrão de deslocamento urbano para modos menos impactantes e mais flexíveis e sustentáveis. Trata-se de um programa hoje conhecido pelos especialistas em mobilidade urbana por GDV - Gestão de Demanda de Viagens Corporativas - que visam a incentivar e promover nas empresas a redução do uso do transporte individual motorizado pelos colaboradores. 

 

Segundo o secretário de Transportes de Londres, ela foi iniciada alguns meses antes do megaevento esportivo, de modo a permitir às empresas mais tempo para fazerem os ajustes necessários ao trabalho em casa, e planejar as mudanças para outras formas otimizadas de viagens corporativas ... “Nós assumimos o compromisso de reduzir nossa pegada de viagens urbanas motorizadas (travel footprint) durante as Olimpíadas, reduzindo o uso do automóvel, os congestionamentos, a poluição do ar e sonora e a ameaçadora sobrecarga do transporte público” .... “incrementar o home-office é a chave para atingir esses objetivos”. As autoridades municipais estimavam que 40% dos empregados de empresas públicas, considerando os diferentes graus de adesão, adotariam o teletrabalho durante o evento.

 

Home-office 

A British Telecom (BT), empresa oficial de telecomunicações dos Jogos Olímpicos, já adotava alternativas de home-office abrangendo um sexto de seus 92 mil colaboradores. Conforme suas informações à época da campanha, o teletrabalhador trazia uma economia para a empresa de nove mil libras anuais – nada mal: um total de 138 milhões de libras no ano! O colaborador remoto da BT também era 20% mais produtivo e demandava menos dias de afastamento por problemas de saúde, se comparado a colegas não-aderentes ao trabalho remoto - mais ganhos financeiros de grande monta para a corporação.

 

Felizmente para os londrinos, durante os Jogos Olímpicos o teletrabalho já era uma realidade popularizada em franca ascensão no Reino Unido. Praticado por cerca de 46% das empresas, o trabalho a distância dava ali um salto triplo campeão em relação ao resultado anterior da pesquisa local de 2006. Em verdade, a maioria dos estudos científicos mais recentes já indicavam que os teletrabalhadores eram mais produtivos e mais dispostos a concentrarem-se ininterruptamente por longos períodos em suas atividades laborais. Naquele grande momento Olímpico, as dúvidas sobre a eficácia do home-office - bem como a dramática resistência de gestores retrógrados e alienados - já estavam amplamente superadas na Grã-Bretanha e muitos outros países.

 

Para as empresas, o cívico engajamento na campanha dos Jogos Olímpicos representou um experimento de trabalho remoto virtuoso. O operador de telefonia móvel O2, por exemplo, registrou um aumento de 155% nos acessos à sua VPN (Rede Virtual Privada) e uma forte aceleração no uso de serviços colaborativos sediados em nuvem, o que motivou um terço dos empregados a declararem um aumento sensível na produtividade. Ademais, metade dos três mil colaboradores confessaram ter passado trabalhando a maioria das duas mil horas poupadas no período com os deslocamentos diários evitados.

 

É fato, que com os avanços e popularização das TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) nos Jogos de Pequim de 2008 e Londres em 2012 - assim como nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 -, a facilidade de trabalhar remotamente é enorme; aliás, para muitas atividades laborais, é bem mais fácil, econômico, produtivo, e menos estressante, do que ter que se deslocar desnecessariamente, em condições penosas, até o escritório. A essas alturas, uma boa parcela dos empregados já dispõe dos equipamentos e serviços necessários ao home-office, sem sequer conhecer o significado da sigla BYOD (Bring Your Own Device), popular entre os que usam seus equipamentos pessoais no trabalho em casa; e muitos deles até já o praticam orgânica e informalmente há muitos anos. 

 

Assim, o papel principal dos gestores, neste momento especial de plena certeza de sucesso com risco-zero,  não é mais o de pesquisar e prover os meios tecnológicos para materialização do trabalho remoto com segurança; agora é hora de demonstrar aos seus pares, superiores e à corporação, como a sua adoção estratégica poderá levar a melhores resultados na economia de recursos, redução de infraestrutura, melhoria na qualidade de vida dos colaboradores, na qualidade do produto e aumento da produtividade e do lucro. Além disso, na era da Governança Corporativa, caberá aos gestores sintonizados, quantificar e reportar regularmente a grande lista de benefícios sócio-ambientais esperados e os efetivamente obtidos com a adoção do trabalho remoto. 

 

E no Rio?

Quanto aos Jogos Olímpicos do Rio, uma vez que os problemas locais de mobilidade urbana são os mesmos que motivaram as campanhas vencedoras de indução do teletrabalho em empresas públicas e privadas em Pequim e Londres, não haveria um único motivo sequer para que a atual Edição Carioca não seguisse a mesma trilha campeã consolidada nas duas últimas etapas de 2008 e 2012 deste megaevento internacional. 

 

*Olimpio Alvares, colaborador do Mobilize Brasil, é diretor da L'Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica e emissões veiculares; é membro fundador da Comissão de Meio Ambiente da Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP, diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades - Sobratt e ex-gerente da área de controle de emissões de veículos em uso da Cetesb

 

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