O transporte público segue perdendo usuários nas cidades brasileiras. A fuga, que já era visível em 2011, agravou-se no processo da pandemia de Covid 19. E segue sendo um dos grandes desafios para as prefeituras e empresas que prestam os serviços de transporte coletivo, agora concorrendo com carros e motos de aplicativos.
O problema passa pela falta de confiabilidade, conforto e pontualidade dos serviços de ônibus, mas encalha feio nas tarifas altas, que "comem" boa parte da renda dos brasileiros. Uma contraprova pode ser constatada nas cidades que adotaram políticas de tarifa zero, onde os passageiros estão rapidamente voltando para o transporte coletivo.
Para entender como anda a relação entre os preços do transporte urbano e a renda das pessoas, o Mobilize Brasil preparou um levantamento nas 27 capitais do Brasil e em algumas cidades mundiais, tal como vem fazendo desde 2012.
Os dados deste ano mostram uma relativa melhora em favor dos usuários: em levantamentos anteriores o transporte diário consumia entre 15% e 20% das rendas médias aferidas em cada cidade. Agora em 2025, a fatia gasta com o ônibus está em cerca de 12,11% da renda. A maior taxa (20,37%) é a de Boa Vista (RR). A menor, em Vitória (ES), com 7,94%. A comparação tomou como referência a renda média per capita, calculada pelo estudo FGV/Ibre no final de 2024, com base na PNAD Contínua do IBGE.
Comparação com o salário mínimo
A situação brasileira se torna mais escandalosa quando as tarifas são comparadas com o valor do salário mínimo nacional (R$ 1.518,00). Em Florianópolis, por exemplo, onde a tarifa é de R$ 6,90, o transporte corresponde a 27% do mínimo. Em Brasília, são 21,73% e em Curitiba, a tarifa consome 23,71% do salário básico nacional.
Cidades do mundo
Outro levantamento, em cidades de várias partes do mundo, também tomou como base a renda média, neste caso aferida pela plataforma Numbeo (https://www.numbeo.com/), que se baseia em informações oferecidas pelos seus usuários. Essa renda foi comparada ao valor das tarifas básicas em cada cidade.
Nos dois casos (Brasil e Exterior) foram consideradas 60 passagens simples por mês e os resultados mostram, mais uma vez, que os brasileiros retiram percentuais maiores de seus rendimentos para usar o transporte público. Em Beijing (Pequim), na China, por exemplo, o transporte consome 2,3% da renda. Em Nova York, são 3,39% da renda (R$ 28.397,65) para pagar a tarifa básica; em Paris, a fatia é de 4,78% da renda (R$ 20.050,26), enquanto em Londres, são 5,93% por mês da renda mensal equivalente a R$ 22.032,00. E por fim, cabe lembrar Luxemburgo, que adotou a tarifa zero em todos os transportes públicos.
Enfim, em resumo, no Brasil falta subsídio.