Qual será o futuro dos postos de gasolina?

Equipamentos terão que ser reciclados para atender à novas demandas colocadas por sistemas de transporte público e sustentável

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Fonte: ArchDaily  |  Autor: Niall Patrick Walsh  |  Postado em: 18 de outubro de 2019

Posto de gasolina

Posto de gasolina futurista na República Tcheca

créditos: Foto: Atelier SAD | Tomas Soucek

Ao longo das últimas décadas, postos de gasolina passaram de uma novidade à objetos onipresentes em paisagens urbanas e rurais do mundo todo. Com a popularização dos automóveis durante a segunda metade do século 20, postos de gasolina transformaram-se em uma das tipologias arquitetônicas mais comuns no mundo. Hoje, somente nos Estados Unidos, existem cerca de 130.000 estruturas deste tipo espalhadas pelos quatro cantos do país, uma para cada 2.000 mil veículos da frota americana que beira atualmente os 270 milhões.

 

No entanto, à medida que a população mundial continua migrando das áreas rurais para às cidades, áreas urbanas cada vez mais densas e com sistemas de transporte público cada dia mais eficientes e sustentáveis, é hora de reinventar esta tradicional tipologia para que ela não se torne obsoleta da noite para o dia.

 

É fato que a tipologia do posto de gasolina já entrou em declínio a algum tempo. Em 2016, estimava-se que 116.000 postos de gasolina estivessem em operação em toda a Europa, entretanto, até o final de 2017, esse número havia caído para 77 mil. Somente no Reino Unido, o número de postos de gasolina caiu 80% dos anos 70 para cá, apesar de que o consumo de combustível tenha aumentado em um 75% no mesmo período. Um estudo realizado em julho de 2019 pela BCG concluiu que, “até 80% dos atuais postos de distribuição e comercialização de combustíveis não serão mais rentáveis daqui a 15 anos.” Isso pode até parecer mentira, mas existem várias razões para começarmos a acreditar que o futuro dos postos de gasolina não é nem um pouco animador.

 

Por um lado, o constante e crescente fluxo de pessoas para as cidades tem acelerado uma mudança generalizada dos meios de transporte privados por alternativas públicas cada dia mais eficientes e sustentáveis. No final de 2018, por exemplo, Luxemburgo tornou-se o primeiro país do mundo a oferecer transporte público gratuito a todos os seus cidadãos, e apenas algumas semanas depois, Paris decretou que o transporte público seria gratuito para todas as crianças menores de 11 anos, entre outras tantas mudanças que apontam em direção a uma transformação radical na maneia como nos relacionamos com veículos movidos a combustíveis fósseis. À medida que mais e mais cidades ao redor do mundo adotam políticas progressistas em relação ao transporte público e investem em novas alternativas, como o exemplo recente de Sydney ou Gotemburgo, o declínio do tradicional posto de gasolina torna-se cada dia mais evidente.

 

Enquanto isso, até a indústria dos veículos privados também está colaborando decisivamente para a decadência dos postos de gasolina. Em 2018, a frota global de carros elétricos ultrapassou a marca de 5 milhões, com um impressionante aumento de 2 milhões de veículos em apenas um ano, quase que duplicando a frota elétrica entre 2017 e 2018. 
 

A revolução tecnológica que aponta a uma maior autonomia dos veículos elétricos também tende a reduzir radicalmente a demanda por veículos privados. Em 2014, o MIT Senseable City Lab desenvolveu um experimento chamado de HubCab, onde mais de 150 milhões de corridas de táxi pela cidade de Nova York foram mapeadas para identificar os diferentes padrões dos passageiros, com o objetivo de fornecer dados para tornar o compartilhamento de veículos mais eficiente. Neste estudo, o Laboratório coordenado por Carlo Ratti estimou que o aprimoramento das tecnologias de compartilhamento de veículos poderia reduzir drasticamente o número de viagens de carro em até 40%, minimizando congestionamentos e emissões de gases do efeito estufa, economizando tempo e dinheiro.

 

Posto de gasolina e lanchonete McDonalds | Khmaladze Architects | Foto: Giorgi Khmaladze

Se mais cidades adotassem o conceito de mobilidade compartilhada, quatro em cada cinco veículos particulares poderiam ser retirados das ruas, diminuindo o tempo de viagem, causando menos impacto no espaço urbano e melhorando a qualidade do ar que respiramos. Dado que a maioria dos veículos urbanos fica ocioso entre 95% e 99% do dia, antigos estacionamentos dariam lugar a novos projetos que beneficiariam as cidades e seus habitantes. Com o crescente sucesso de empresas de compartilhamento de veículos, como a ZipCar e a DriveNow, a diminuição substancial do número de veículos contribuirá para a prescindibilidade dos postos de gasolina em um futuro próximo.

 

Considerando o crescente interesse dos leitores do ArchDaily, mapeados pelos nossos mecanismos de pesquisa, podemos perceber uma mudança de paradigma em direção a iniciativas alternativas de sistemas de transporte urbano. Em nosso relatório anual de tendências que influenciarão as discussões urbanas e arquitetônicas ao longo do ano de 2019, observamos um crescimento substancial do interesse dos nossos leitores pelos temas “Transporte Público” (um aumento de 206% em comparação ao ano anterior) e “Mobilidade” (+143%) em relação àquelas pesquisas relacionadas aos meios de transporte privados. Mesmo quando consideramos o interesse dos leitores por veículos individuais, o principal foco de interesse são veículos autônomos (que também registrou um aumento de 160% em relação ao ano passado) e veículos elétricos (+177%).

 

Então, devemos nos perguntar: qual será o futuro dos posto de gasolina? Esta é uma questão recorrente em nossa disciplina ainda que cada dia mais rara em nossas mesas de trabalho. Em 2015, a Combo Competitions organizou um concurso intitulado “Rethink Refueling”, solicitando aos participantes que re-imaginassem a tradicional tipologia de postos de gasolina, criando propostas inovadoras mas que se mantivessem reconhecíveis. Quatro anos depois, a GoArchitect decidiu seguir o mesmo exemplo, lançando um novo concurso de projeto intitulado “Gas Station of the Future, o qual está aberto ao público até o próximo dia 1º de dezembro.

 

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