Acupuntura urbana: intervenções que requalificam espaços públicos

Curitiba, Barcelona, Moscou, Montreal... exemplos de cidades que promoveram intervenções locais precisas, não necessariamente amplas e caras, mas transformadoras

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Fonte: ArchDaily/ Mobilize*  |  Autor: ArchDaily*  |  Postado em: 07 de outubro de 2020

Urban Bloom, em Xangai: estacionamento que virou j

Urban Bloom, em Xangai: estacionamento que virou jardim

créditos: ©Urban Matters/Mini, CreatAR Images

A acupuntura urbana é uma tática de design que promove a requalificação urbana em nível local, apoiando a ideia de que as intervenções no espaço público não precisam ser amplas e caras para produzirem um impacto transformador. 

 

Como alternativa aos processos convencionais de desenvolvimento, a acupuntura urbana representa um modelo adaptável para a renovação da cidade. Iniciativas altamente focadas e direcionadas ajudam a regenerar espaços negligenciados, ao implantar estratégias urbanas de forma incremental ou consolidar a infraestrutura social de uma cidade.

 

Com base na metáfora da prática medicinal tradicional chinesa, a acupuntura urbana refere-se à melhoria das questões sociais e urbanas por meio de intervenções precisas, que revitalizam áreas da cidade e consolidam estratégias de planejamento urbano. 

 

O arquiteto espanhol Manuel de Solà foi o precursor, ao utilizar o conceito para descrever projetos com elevado grau de reversibilidade, permitindo medidas corretivas e melhorias. Uma vantagem do modelo é o planejamento acelerado, sendo implementada com agilidade e muitas vezes com meios modestos. Com requisitos menos burocráticos, esses gestos localizados podem desencadear uma reação em cadeia de melhoria na qualidade do ambiente urbano adjacente, além de um aumento na coesão social e na segurança pública.

 

 No Brasil

Três vezes prefeito de Curitiba, o arquiteto e planejador urbano Jaime Lerner é um dos principais defensores da acupuntura urbana como um meio de trazer melhorias imediatas ao ambiente urbano, evitando longos processos de tomada de decisão e superando impedimentos econômicos. Para ele, “a falta de recursos não é mais uma desculpa para não agirmos. A ideia de que a ação só deve ser tomada depois que todas as respostas e os recursos sejam encontrados é uma receita certa para a paralisia”. 

 

Vale ressaltar, que a acupuntura urbana é uma tática multi-escalar, com projetos de escalas variados, desde a reorganização de uma esquina até a implantação de novas linhas de transporte. No entanto, para este artigo, os exemplos se concentraram em intervenções localizadas, que, apesar de sua escala relativamente pequena, têm um efeito positivo significativo em seu entorno.

 

Praça Superilla de Sant Antoni, em Barcelona. Imagem: ©Del Rio Bani 

 

Um campo de testes

A acupuntura urbana é empregada por diversos atores da cidade, incluindo municípios, como uma forma de implementar estratégias urbanas mais amplas de forma iterativa, com ações de implantação rápida, temporária e, em sua maioria, de baixo custo. 

 

Com o objetivo de tornar mais áreas acessíveis aos pedestres, Barcelona primeiro implementou a transformação com estratégias reversíveis e baratas, pretendendo testar a validade das “superquadras”, áreas com acesso limitado de veículos. As intervenções progressivas e as soluções provisórias deveriam ser consolidadas numa segunda fase. Para a Praça Superilla de Sant Antoni, o Leku Studio foi encarregado de montar um plano, que incorpora um kit de elementos agregados de mobiliário urbano, um livro de critérios gráficos e uma metodologia de implementação e gerenciamento dentro do bairro.

 

 

Natureza em pequenos pacotes

Embora haja uma consciência crescente da falta de espaços verdes nos ambientes urbanos, a construção de novos parques é um desafio intransponível para a maioria das cidades, que carecem de terras e recursos financeiros para tais feitos. Definidos por sua escala reduzida e foco na comunidade, os pocket parks e jardins comunitários são um investimento relativamente barato no ambiente urbano. As intervenções geralmente ocupam espaços remanescentes na cidade e concentram os esforços em organizações locais e grupos comunitários. 

 

Essas intervenções foram comprovadas por trazerem benefícios significativos para a saúde mental dos cidadãos e por aumentarem a segurança urbana (conforme uma pesquisa observa uma redução no crime com armas de fogo nas proximidades de tais projetos), desencadeando uma cadeia de melhorias adicionais na área.

 

Pista de skate, em Moscou: ponto de encontro. Imagem: Cortesia de Strelka KB

 

Recuperar espaços subutilizados

Espaços subutilizados dentro do ambiente urbano podem se tornar partes atrativas da cidade, com a introdução de uma programação cuidadosa e a adição de elementos físicos. Um lugar desagradável sob um viaduto no centro de Moscou se tornou um ponto de encontro no mapa social da cidade, depois de ser convertido em uma pista de skate. A colaboração entre os escritórios Strelka KB, Strelka Architects e Snøhetta resultou na transformação do pequeno local em uma plataforma para skatistas iniciantes. Surpreendentemente, a localização revelou-se bastante vantajosa, pois o abrigo proporcionado pelo viaduto torna a pista de skate acessível durante o ano todo. 

 

Da mesma forma, Level up é uma intervenção de pequena escala nas margens do Danúbio em Rijeka, que adapta uma cobertura abandonada, criando um espaço de reuniões e eventos para os locais. Um projeto de reutilização adaptável, o pavilhão foi um primeiro passo para revitalizar a área, essencial durante o tempo de Rijeka como capital cultural da UE.

 

Atender às necessidades das comunidades

Muitas intervenções acupunturais no espaço público são centradas em fornecer um espaço para os cidadãos se reunirem. Projetado pela AIM Architecture em colaboração com a Urban Matters, o Urban Bloom transforma um estacionamento em Xangai em um tipo diferente de jardim urbano, criando uma paisagem dinâmica que pode abranger uma variedade de cenários, desde reuniões casuais a pequenas palestras ou apresentações de teatro ao ar livre. 

 

Da mesma forma, o projeto The Green Cloud da Zhubo Design visa ativar o espaço não utilizado em uma ilha urbana, proporcionando um ambiente verde e agradável para os residentes.

 

Tulip, em Montreal: "your place at the table". Imagem: © Raphael Thibodeau

 

O que qualifica o projeto a seguir como acupuntura urbana é precisamente sua hiper-localidade e a estratégia mais ampla que utiliza para adaptar o espaço público a uma nova e temporária realidade. A instalação do TULIP, pelos arquitetos da Adhoc, adiciona um componente social a um parque existente em Montreal, acomodando os novos requisitos impostos pela pandemia na vida urbana. O projeto permite aos cidadãos reapropriarem-se do espaço urbano respeitando as normas sanitárias e transformando a estreita faixa de terreno em um terraço urbano. A instalação é um dos três espaços públicos redesenhados na cidade canadense, em um esforço para reiniciar a vida urbana.

 

A acupuntura urbana é um tipo de investimento granular na cidade, que reconhece as diferentes realidades e sensibilidades dos tecidos urbanos e sociais locais. A tática fornece aos tomadores de decisão uma maneira sustentável de abordar o desenvolvimento urbano, de forma imediata e incremental, ao mesmo tempo, em que estão atentos aos recursos disponíveis.

 

Veja mais imagens na galeria:

 

*Parceria

 

*Texto original: Andreea Cutieru. Tradução: Rafaella Bisineli. Edição: Regina Rocha, para o Mobilize.

 

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