Se fosse todo eletrificado, o transporte de carga pesada no Brasil poderia gerar reduções de 46% nas emissões de gases de efeito estufa e de R$ 5 bilhões em custos ambientais e de saúde evitados até 2050.
Essa queda é bem mais significativa do que nos modelos híbridos a diesel: estes caminhões, até 2050 reduziriam em apenas 8% as emissões e R$ 298 milhões os custos evitados. Já os caminhões movidos a gás natural e biodiesel, por sua vez, acarretariam em aumento das emissões líquidas e dos custos econômicos ao longo do tempo.
A conclusão é de um estudo inédito, lançado nesta segunda-feira (1º) pelo Instituto Ar, organização que atua em defesa da saúde pública nas questões ambientais, especialmente as geradas pelas mudanças climáticas.
Carga pesada
No estudo, conduzido inteiramente por pesquisadoras, o foco nos caminhões pesados se justifica pelo fato de esses veículos responderem por 60% do consumo total de energia para cargas, superando em muito os caminhões médios e leves, e representarem 49,9% das emissões de CO2 do setor de transporte.
Os modelos avaliados foram: caminhões elétricos a bateria (BEV), movidos por célula de hidrogênio (FCEV), híbridos a diesel, gás natural liquefeito (GNL), gás natural comprimido (GNC) e com motores propulsionados por biodiesel puro (B100).
Também o impacto da expansão do biodiesel sobre a área cultivada no país também foi calculado: a utilização integral de biodiesel (B100) até 2050 exigiria cerca de 215 milhões de hectares de terras agrícolas, o equivalente a mais de 25% do território nacional. Além disso, a opção pelo biodiesel poderá se tornar vetor de desmatamento. Segundo o estudo, mudanças indiretas no uso da terra poderiam anular a economia de carbono, com o biodiesel de soja contribuindo para 59% do desmatamento indireto projetado no Brasil.
Para chegar a esses números, as pesquisadoras trabalharam com diferentes cenários, de modo a projetar a substituição da frota de caminhões pesados a diesel por tecnologias mais limpas nos períodos até 2030 e 2050, prazos esses definidos pelo Brasil em acordos internacionais para reduzir e zerar as emissões. O estado de São Paulo foi escolhido, no caso, como campo para as averiguações.
Poluição x saúde pública
Também as despesas com hospitalização no Sistema Único de Saúde (SUS) foram avaliadas, em condições associadas à poluição do ar. A conclusão é que, entre 2013 e 2023, mais de R$ 24 bilhões foram gastos em hospitalizações relacionadas a doenças como câncer do sistema respiratório, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias, além de diabetes mellitus.
Segundo se observou, essas doenças são fortemente associadas à exposição a material particulado fino (MP2,5) e óxidos de nitrogênio (NOx) de caminhões movidos a diesel.
Além disso, o estudo mostrou que a carga de poluição atmosférica causada por caminhões pesados no Brasil afeta desproporcionalmente comunidades localizadas perto de importantes corredores de transporte, incluindo rodovias, centros logísticos e cidades portuárias. Essas áreas, frequentemente abrigando populações de baixa renda, apresentam não apenas maior exposição a poluentes nocivos, mas também vulnerabilidades socioeconômicas que agravam os riscos à saúde.
Para ler na íntegra o estudo "Impulsionando a transição do Brasil para o transporte de caminhões com emissão zero", do Instituto Ar, clique aqui.
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