Jornal do Estado — Curitiba tinha a característica de privilegiar o transporte coletivo e o pedestre. Hoje tem a maior proporção de veículos por habitante e os ônibus estão perdendo usuários. O que aconteceu?
Rafael Greca — Eu não sei se está perdendo usuários. O que vai favorecer a mobilidade é uma rede multimodal que vai ter uma somatória de ônibus, veículo de grande capacidade, as ciclofaixas, as eletrofaixas para carros elétricos. Eu tenho vontade de voltar a ser prefeito para lidar com o mundo novo. E para construir alguma coisa para o futuro de Curitiba à altura de sua tradição inovadora. A cidade só melhora quando a inovação é no campo social, ou quando gera novas oportunidades de igualdade social. Não melhora quando ela aposta nas soluções só de mercado. Não melhora o sistema de transporte só comprar um ônibus novo.
JE — Não chegará um hora de medidas mais radicais como rodízio, pedágio urbano?
Greca — Não gosto de nada disso. Gosto de escalonamento de horários. Pedágio nunca mais. Fui secretário de Comunicação do Jaime Lerner e vi o que o pedágio fez com a biografia dele. Se a indústria começar uma hora, depois de um tempo as escolas, depois o serviço público. Nós podemos começar as 7, as 9, às 10. Assim não vamos ter todos os carros de Curitiba na mesma rua, na mesma hora. Estou propondo uma cidade que volte a ser pensada para um povo inteligente como cidade inteligente. Uma cidade além do marketing. Quero que a cidade deixe essa postura soberba de uma mulher já de meia-idade que começa a envelhecer e fica na frente do espelho dizendo: ‘espelho espelho meu existe alguém mais modelo do que eu?’
JE — O senhor falou em retirar os radares e manter apenas as lombadas eletrônicas. Não teme aumento nos acidentes?
Greca — Não porque as lombadas são muito mais honestas do que os radares. Porque temos que ter arapucas escondidas para multar as pessoas. Ou um radar como aquele da 7 de setembro que multa a 40 km/h quando todo mundo pensa que é 60 km/h. É feito para arrecadar, não para educar.
JE — Como o senhor vê o caso Consilux, as denúncias, depois o rompimento do contrato pela prefeitura, considerado irregular pelo Tribunal de Contas?
Greca — Vejo como uma comédia de erros que no popular podia se chamar ‘a cidade de Eremildo, o idiota’. Uma Curitiba toda habitada por personagens do Elio Gaspari, ou mais no popular ainda: me engana que eu gosto. Eles sujaram o sagrado brasão de Curitiba em cima do da Consilux. Isso me ofende. (IS)