O prefeito que fez de seu estacionamento privativo um parklet

Fato se deu em 2012, na cidade americana de Ithaca (NY). E o prefeito no caso é Svante Myrick, pedestre convicto, reeleito no ano passado

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Fonte: ArchDaily  |  Autor: Rodrigo Díaz (blog Pedestre)  |  Postado em: 13 de junho de 2017

Prefeito Myrick (de terno) conversa no parklet em

Prefeito Myrick (de terno) conversa no parklet em Ithaca

créditos: Reprodução/ Facebook de Svante Myrick

 

Há alguns anos, nos Estados Unidos, um prefeito de nome Svante Myrick recusou a vaga de estacionamento que lhe era de direito e a converteu em um pequeno parque de uso público, um parklet, como se convencionou chamar. Antes disso, ele já havia decidido deixar de usar o automóvel para ir ao trabalho, optando pelas caminhadas, como 15% dos habitantes da sua cidade. 

 

E ainda antes dessa decisão, Myrick havia se convertido, aos 25 anos, no prefeito mais jovem de Ithaca (Nova York), uma pequena cidade de 30 mil habitantes que não que teria espaço nos mapas se não abrigasse em suas terras a Universidade de Cornell.

 

A história é antiga (de 2012), mas vale a pena retomá-la. À época, o gestor de Ithaca concedeu esta declaração ao site Grist, para explicar as razões porque recusava o estacionamento: 

 

"A resposta ao excesso de automóveis não passa necessariamente pela criação de mais vagas de estacionamento... Podemos mudar padrões de tráfego e estacionamento oferecendo modos alternativos de transporte que sejam economicamente acessíveis, confiáveis e convenientes", afirmou Svante Myrick.

 

No lugar do seu automóvel, ele instalou bancos e pedaços de troncos convertidos em mesas e floreiras. Sob o letreiro original Reserved for Mayor (reservado para o prefeito) colocou outro menor que dizia "and friends". 

 

A instalação não custou mais do que 200 dólares. Hoje o espaço do prefeito permanece lá, como espaço de todos. E qualquer um pode ter a sorte de conversar com ele, livre e informalmente, naquela porção de solo urbano que, com um simples gesto, se transformou numa homenagem à democracia. 

 

Pode-se alegar que esse tipo de coisa só acontece em cidade pequena, pouco dada a formalismos, e que conversar tranquilamente com o prefeito sentado em troncos é uma utopia em metrópoles maiores. Pode-se dizer ainda que o automóvel é uma real necessidade para uma autoridade de cidade grande e que substituir seu espaço por troncos e bancos é mais um ato de perigosa exposição do que uma real aproximação com a cidadania. 

 

Pode até ser, mas o fato é que o gesto de Myrick, ao desfazer-se do pequeno privilégio para colocá-lo a disposição dos demais, é valioso, tem seu mérito. É um exemplo, num mundo em que a distância a separar governantes dos governados é cada vez mais abismal, e as políticas de transporte público são feitas por quem nunca andou de metrô ou ônibus. Um mundo em que se fala de sustentabilidade a bordo de luxuosos sedan, rodeado de guarda-costas, e onde o resgate do espaço público é propagado por pessoas que, na sua maioria, nunca caminham na rua. Nesse sentido, a atitude do prefeito de Ithaca é uma declaração de princípios e reforça a ideia de que o servidor público é, antes de mais nada, um cidadão que, com seu exemplo, guia os interesses da sua comunidade. 

 

Não, de Myrick não espero que se imite o parklet, nem os bancos, os troncos ou o letreiro. O que deve inspirar é a atitude, o gesto, a íntima conexão com o cidadão que caminha. 

 

Em 2016, o prefeito foi reeleito com 89% dos votos.

 

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