Entrevista: Arturo Alcorta, mestre em ciclismo urbano

Veterano na luta pelo direito de pedalar nas ruas, criador da Escola de Bicicleta fala das vantagens das bikes para a vida nas cidades

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha / Mobilize Brasil  |  Postado em: 25 de outubro de 2012

Arturo Alcorta,

Arturo Alcorta: bicicleta é veículo de educação urbana

créditos: Arquivo pessoal

 

Bicicleta não é apenas meio de transporte. Para Arturo Alcorta, é também um valioso instrumento para a formação das pessoas. Assim, acredita que ela deva ser entendida em suas muitas dimensões: humanas, técnicas, políticas, econômicas e ambientais... 

 

Com essa perspectiva em mente, ele e outros amigos ativistas criaram, há cerca de dez anos, o site da Escola de Bicicleta, que traz textos onde se aprende um pouco de tudo - da mecânica das bikes a como pedalar de forma segura pela cidade.

 

Hoje, em complementação a esse trabalho, Arturo dedica-se ao seu blog. É onde o ex-bike-repórter da rádio Eldorado, e pioneiro do cicloativismo no Brasil, assim se apresenta: "brasileiro, paulistano, metropolitano, cidadão do mundo; artista plástico e educador". 

 

No bagageiro de sua bici, carrega ainda outras contribuições na imprensa (Estadão, revista Trip), e projetos de consultoria a governos e empresas, como os bem-sucedidos Bike Socorro e Bike Vistoria, da seguradora Porto Seguro.

 

Recentemente, Arturo diz que tentou reduzir um pouco o ritmo de sua atividade. Mas, nem bem pensou nisso, já foi escolhido para presidir a UCB - União dos Ciclistas do Brasil, e aceitou ("estou presidente", brinca). E faz planos: "Quero ver se consigo tornar a entidade um espaço para a formação de ativistas, algo parecido com o que fizemos na Escola de Bicicleta". 

 

A vida inteira de bicicleta

Aos 57 anos, Arturo diz que pedalar é um hábito de toda a vida: "Aos quatorze anos, eu e meu irmão íamos de bicicleta à casa de nossa prima, a Renata Falzoni [fotógrafa e cicloativista paulistana]. Pedalava até o Morumbi, pela região da av. Faria Lima; usava a bike para ir à padaria... No tempo de faculdade, fazia cinco, seis quilômetros por dia, indo de casa até a Faap, no Pacaembu", recorda. 

 

Sempre viu a bicicleta como mais prática do que o carro. Por isso, foi a contragosto que teve de parar de pedalar por uns três anos, por causa de um problema no joelho. "Mesmo assim, ainda na fisioterapia usava bicicleta ergométrica", brinca. 

 

Toda essa experiência fez dele um grande conhecedor do veículo, com competência para abordar o tema nos seus múltiplos aspectos: "do projeto ao processo industrial, da bicicletaria ao cliente, da relação entre bicicleta e ciclista, do ciclista à segurança no trânsito passando pela educação, do projeto cicloviário à política pública, e da vida na cidade a seus agentes", relaciona no blog.

 

Ovelha negra da família

Sua amplitude de visão diz que deve à formação eclética e sólida que recebeu no ambiente familiar. "Isso me rendeu um pensamento que é igualmente 'político' e 'técnico'", observa. Não que a opção pela bike tenha sido vista com bons olhos pelos seus pais: "Venho de uma família tradicionalmente ligada ao automóvel, onde houve até pilotos de competição. Meu pai por exemplo foi quem trouxe os primeiros buggys ao país. Sendo assim, dá para entender que me viram como uma ovelha negra, não?", conta.  

 

"Ao socialismo se vai de bicicleta"

Essa frase (anônima) que Arturo gosta de citar é do início dos movimentos sociais, na virada do século 19. Segundo ele ainda é empregada na Europa para designar os benefícios sociais que a bicicleta traz. 

 

E levanta a bandeira: "A bicicleta se insere na escala humana dos deslocamentos. É um veículo transformador, o único que promove a socialização, que favorece a equidade entre as pessoas, e até contribui na diminuição da violência". 

 

Equilíbrio, respiração... Como explica Arturo, o que sente aquele que está em cima de uma bicicleta é parâmetro para pensar em como melhorar a vida nas cidades. "A Europa está à frente nisso, é a prova do que estou dizendo. Já aqui, em nosso país, infelizmente nada disso ainda faz sentido", lamenta o ciclista. "Falta entendimento do que é cidade no Brasil. 


O exemplo de Nova York

"Precisamos é parar de vez com essa brincadeira de 'bi-bi fonfon'. Reconheço o papel e a importância da indústria automobilística, da indústria da construção civil... Mas, como qualquer setor, este não pode se tornar libertino, fazer o que bem quiser. Aqui se passa do limite", protesta, e contrapõe com o exemplo de Manhattan, em Nova York, que acompanhou no processo de transformação recente.

 

"É uma coisa incrível: a cidade que abraça a bicicleta, o pedestre, começa a ficar leve... é um processo de vida, nada menos do que isso'.   

 

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Comentários

valmir - 08 de Junho de 2013 às 19:36 Positivo 4 Negativo 0

parabens arturo pela iniciativa eu sou um amante da bicicleta pedalar e tudo de bom aqui na nossa cidade nos estamos formando um grupo de amigos com o nome de pedaloucos quem sabe um dia nos nao se vemos por ai

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