Em São Paulo, manifestantes inauguram Parque Augusta com festival

"Não são 20 centavos. São 24 mil m² de parque" foi palavra de ordem dos manifestantes pela criação do Parque Augusta. Projeto aguarda para ser sancionado pelo prefeito

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Fonte: Vitruvius  |  Autor: Tomás Amaral  |  Postado em: 18 de dezembro de 2013

Ação busca a efetivação do espaço como um parque p

Ação busca efetivação do espaço como um parque público

créditos: Reprodução

 

O terreno em questão um dia abrigou o Colégio Des Oiseaux, que fechou suas portas em 1969 e foi criminosamente demolido, restando apenas o bosque existente para ser tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) em 2004. Mesmo assim o local é um dos mais visados por empreendedores imobiliários, chegando hoje ao valor estimado de 90 milhões de reais. Por outro lado, moradores dos arredores há muito tempo utilizam o espaço como parque, passeando com cachorros e praticando atividades físicas. Esses mesmos moradores já barraram inúmeros projetos residenciais, corporativos e até culturais em prol da efetivação do espaço como um parque público.

 

Marcando uma nova etapa nesse processo, ocorreu nos dias 7 e 8 de dezembro o 1º Festival Parque Augusta, organizado de forma inteiramente independente, que reuniu música, artes visuais, gastronomia e teatro declarando aberto o parque apesar dos contratempos legais para sua criação. O destino do terreno está em litígio, pois em novembro o terreno foi vendido à construtora Cyrela e à incorporadora Setin, enquanto um projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal aguarda o sancionamento do prefeito Fernando Haddad para a criação do parque. Diante desse cabo de guerra, parte da população tomou a posição de construir o parque independentemente das instâncias burocráticas.

 

 

Durante meses moradores, estudantes, profissionais de diversas áreas se reuniram debaixo das árvores da mata atlântica ali preservada para discutir os possíveis usos daquele espaço e ao mesmo tempo transformá-lo. Com as próprias mãos varreram a sujeira, criaram caminhos, plantaram árvores, dispuseram lixeiras e até mesmo derrubaram muros e tijolos que cercavam o terreno e fechavam as janelas da antiga casa de zelador remanescente dos tempos de colégio. O movimento é guiado ideologicamente por princípios como o microplanejamento urbano, praticado de forma participativa e horizontal configurando o urbanismo bottom-up (de baixo pra cima), tendo como ferramentas as tecnologias sociais e a arte pública. As estruturas do grupo procuram aliar teoria e prática, acreditando serem essas inseparáveis e mutuamente moldadas.

 

O que se viu nesse final de semana foi um público totalmente heterogêneo se apropriando de estruturas que, apesar de improvisadas, demonstravam com muita intensidade as possibilidades do espaço. Munidos de alguns geradores, vários palcos foram montados. Grupos culturais, acostumados com a tomada do espaço público, como o Canil da ECAUSP, a Matilha Cultural e a Voodoohop, uniram forças para levantar tendas, geodésicas, telas de cinema e palcos onde uma extensa programação de desenrolou. Muitos casais, idosos, crianças e cachorros se divertiam sob a luz filtrada pelas folhas criando uma atmosfera de woodstock contemporâneo na mata. Para muitos era a primeira vez a visitar o local e a surpresa de se encontrar tal qualidade ambiental em pleno centro de São Paulo era evidente. Pelos caminhos e trilhas, entre palcos e piqueniques, se ouvia as pessoas comentando a necessidade da preservação daquele bem de utilidade pública.

 

 

A lição dada por esse grupo é de que a população de São Paulo tem total compreensão de que parte fundamental de seus problemas é o uso do solo urbano e como esse está ajoelhado e submisso à especulação imobiliária. A necessidade de espaços públicos de qualidade e o direito à cidade se tornaram evidentes em um processo crescente que pode ser identificado em eventos como o Existe Amor em SP (2012), na Praça Roosevelt, seguido pelo festival Anhangabaú da Felicidade (2013) e culminando nas manifestações de junho. A população clama por uma cidade feita pelas pessoas e para as pessoas. Sem condomínios privados e muros altos, com skate na praça, com vão-livre, com Teatro Oficina, com Ibirapuera 24 horas, com Parque Augusta. Todos geridos com competência pelo poder público, garantindo o acesso irrestrito por meio de transporte de qualidade para todas as classes sociais. O contexto da luta desses moradores se insere em uma luta maior que não se encerra em São Paulo e nem no Brasil, pois é fácil, por exemplo, o paralelo com a luta turca pela Praça Taksim. Esses cidadãos e cidadãs mostraram a força que a boa vontade e o trabalho podem ter e ativaram um espaço por conta própria.

 

O Parque Augusta existe quando você existe.

 

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