Alívio na lotação de metrô e trens em SP deve ficar para 2017

No 1º semestre de 2015 duas das quatro linhas operadas pelo Metrô de São Paulo e cinco das sete linhas da CPTM tinham lotação superior a 6 passageiros por metro quadrado

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Fonte: UOL  |  Autor: Bernardo Barbosa  |  Postado em: 12 de janeiro de 2016

A linha mais cheia do sistema é o Expresso Leste

Linha mais cheia na CPTM é o Expresso Leste

créditos: Edson Lopes Jr/ A2 Fotografia

 

Quem passou 2015 espremido nos vagões do Metrô e da CPTM nos horários de pico deve se preparar para mais um ano de aperto - e com a passagem mais cara após o reajuste que entrou em vigor sábado (9). Especialistas ouvidos pelo UOL defendem que a lotação só poderá ser reduzida com a expansão da rede, mas o aumento da malha só deve ser retomado em 2017.

 

Números obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que, no primeiro semestre de 2015, duas das quatro linhas operadas pelo Metrô de São Paulo (a linha 4-Amarela é de responsabilidade privada) e cinco das sete linhas da CPTM tinham lotação superior a 6 passageiros por metro quadrado, ocupação máxima recomendada por especialistas em horários de pico.

 

"Seis passageiros por metro quadrado é o padrão internacional para lotação máxima em vagões de metro nas horas-pico. O critério foi adotado considerando a projeção vertical (de topo) de um ser humano e visa garantir um espaço confortável entre os passageiros. A norma técnica brasileira para fabricação de veículos de características urbanas para transporte de passageiros especifica 6 passageiros/m²", explica Jaime Waisman, doutor em Engenharia de Transportes pela USP.

 

A linha mais cheia do sistema é o Expresso Leste da linha 11-Coral da CPTM, com média de 8,1 passageiros/m² no pico da tarde. No Metrô, a lotação é liderada pela 3-Vermelha, com 7,4 passageiros/m², em média, nos horários de pico (veja a evolução da demanda no infográficos abaixo).

 

 

 

 

Segundo Waisman, "somente a construção de novas linhas poderia promover a redistribuição dos passageiros e melhorar a lotação dos trens" do Metrô. Na CPTM, diz ele, "existe a possibilidade de introdução de mais trens e com isso reduzir os intervalos entre eles, aumentando a oferta de assentos e reduzindo a lotação. Isso, no entanto, requer investimentos em sistemas de alimentação elétrica, sinalização e controle."

 

O presidente da Aeamesp (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô), Emiliano Stanislau Affonso Neto, segue a mesma linha. Ele lembra que a CPTM tem buscado reduzir os intervalos com novos trens e sinalização, aumentando a oferta de lugares. Segundo Neto, o Metrô paulista já opera com "um dos menores intervalos de trens do mundo", e "a solução de fato para a redução da lotação passa pelo aumento da malha metroviária, com a implantação de novas linhas que redistribuiriam a demanda."


'Não consigo controlar a demanda'

Segundo o diretor de operações do Metrô de São Paulo, Mário Fioratti, a companhia está "sempre buscando uma redução da lotação", mas não há uma meta ou padrão neste sentido.

 

"Não existe um número que a gente sai correndo atrás para atingir. Nós usamos esse número para definir dimensionamento, seja de trens em operação, seja plataformas, dimensões de estações. Isso é usado na fase de projeto do sistema, não é uma meta. Até porque tem um fator que foge do meu controle, que é a demanda. Eu não consigo controlar a demanda", justifica.

 

Fioratti também destaca que, no momento, o Metrô não tem como colocar mais trens em circulação, o que depende da implantação plena do sistema CBTC (sigla em inglês para Controle de Trens Baseado em Comunicações).

 

"No caso específico da linha 3, eu estou no meu limite técnico de trens em operação. Ou eu chego lá e apito: 'a partir de agora ninguém mais entra'. Não existe isso. As pessoas precisam ser transportadas. O que a gente faz é tentar uma distribuição pela plataforma, para que não haja uma concentração em determinados carros. De fato, faço alguma contenção de entrada no 'pico do pico', um período de meia hora, uma hora, seja de manhã ou de tarde, a gente faz de acordo com a lotação da plataforma. Sempre visando segurança", explica.


Avanços atrasados

Segundo o diretor, a implantação do CBTC permitirá que o Metrô coloque mais 20% de trens à disposição dos usuários. Com isso, o intervalo entre as composições -- de apenas 2 minutos nos horários de pico -- tende a cair, e com ele a lotação nos vagões. O sistema está sendo testado na linha 2-Verde nos fins de semana desde 2010, mas já teve ao menos uma falha grave desde então. Fioratti prevê que o CBTC seja enfim usado plenamente na linha 2-Verde no primeiro trimestre deste ano.

 

"Demonstrando sua eficiência, a gente passa a instalar esse mesmo sistema nas linhas 1 e 3. Nestas linhas, há muito equipamento instalado, mas ainda não testado. Isto foi proposital. Começamos pela linha menor, para um aprendizado nosso", disse, reconhecendo que o sistema não estará totalmente pronto em 2016. "Não são medidas que você resolve de hoje para amanhã. A maturação desses investimentos acontece em alguns anos."

 

Em seu relatório administrativo de 2014, o Metrô esperava que o CBTC já estivesse "em operação plena" na linha 2-Verde no início de 2015.

 

O governo também sabe que a expansão da rede é essencial para reduzir a lotação nas atuais linhas. Em 2014, o Executivo paulista encaminhou à Alesp projeto para autorizar o Estado a pegar dinheiro emprestado para obras de infraestrutura. O texto, aprovado como a lei 15.427 em maio do mesmo ano, diz que a expansão da linha 2-Verde até Guarulhos tem, entre outros objetivos, o de "proporcionar o equilíbrio de demanda nas linhas 3 – Vermelha do Metrô e 11 – Coral e 12 – Safira, ambas da CPTM".

 

No entanto, na sexta-feira (8), o governo Geraldo Alckmin (PSDB) suspendeu por pelo menos mais 12 meses o início das obras para extensão da Linha 2-Verde. As obras das linhas 15-Prata, 17-Ouro e 18-Bronze também estão suspensas. Em todos os casos, o Estado alega que, diante das incertezas da economia, preferiu dar prioridade para obras que já estão em execução. Por outro lado, Alckmin prometeu para esta segunda (11) a reabertura da licitação da linha 4-Amarela.

 

Desde dezembro, a reportagem solicita à CPTM uma entrevista com algum técnico da companhia, mas não teve resposta. Por e-mail, a CPTM limitou-se a informar que as obras de modernização proporcionaram aumento de 13,6% na oferta de lugares entre 2011 e 2014 e 65 novos trens entram em operação este ano. A companhia não respondeu se tem algum parâmetro interno para a lotação ideal dos trens.

 

Segundo o site da CPTM, a ampliação da linha 9-Esmeralda até Varginha, no extremo sul da capital, e a nova linha 13-Jade, para o aeroporto de Guarulhos, só devem ficar prontas no final de 2017. As duas obras estavam previstas para serem concluídas em 2014.

 

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