Texto e fotos: Uirá Lourenço
Após uma temporada fora, na Europa, voltei à capital federal e precisei me adaptar rapidamente às condições nem sempre favoráveis.
Comecei pelo caminho entre as quadras 100 e 300 da Asa Norte. Faço o zigue-zague ‘normal’: a ciclovia joga o ciclista de um lado para o outro. Tinha que ser mesmo assim? Um trajeto contínuo e com travessias sinalizadas seria bem mais cômodo.
Percebo que as faixas de travessia estão bem apagadas, enquanto a sinalização para os motoristas está em perfeito estado. Simboliza bem o descaso com os desprovidos de motor na cidade.
Passo pela 315 Norte para apreciar o corredor de árvores e facilitar o processo de readaptação. Considero uma das mais belas e agradáveis quadras. Admiro também os ipês amarelos, que florescem no auge da seca.
Hora do teste final: atravessar para o lado das 200, à noite. Pego a tesourinha e pedalo forte por baixo do Eixão. No sentido contrário, uma fila enorme de carros. Não consigo controlar a veia ativista, toco o trim-trim, olho para os motoristas e falo: ‘vamos pedalar, galera!’.
Do outro lado do muro (Eixão), na L2, me deparo com anúncio do governo enaltecendo os viadutos. Sem comentários!
Cenas do percurso: faixa de travessia apagada, ciclovia deteriorada e anúncio que enaltece os viadutos.
Tive o privilégio de desbravar a Holanda de bicicleta. Foram mais de 600 km pedalando entre diferentes cidades. Há rotas seguras dentro das cidades e entre as cidades. Não passei perrengue algum. Por aqui, em menos de 1 km me deparei com piso deteriorado na ciclovia e travessia perigosa.
Mas os benefícios e a vontade de pedalar são maiores do que os riscos. E o desejo de humanizar nossa Cidade Parque se renova a cada viagem!