Danos gerados pelos carros às pessoas e ao meio ambiente: um balanço global desses prejuízos

Desde sua chegada às ruas, os carros já mataram mais de 60 milhões e feriram pelo menos 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Os dados são de um trabalho de pesquisadores do Reino Unido e Alemanha, que investigou em profundidade os danos gerados pela cultura carrocrata. O texto também lista algumas medidas práticas que precisam ser adotadas pelos governantes para mudar esse cenário.

Presença de carros em países do mundo

Presença de carros em países do mundo

créditos: The Journal of Transport Geography

Autor: P. Miner, B. Smith, A. Jani, G. McNeill, A. Hardy

Assunto: Estudos e Pesquisas

Abrangência: Internacional

Ano: 2024


Carros são o meio de transporte padrão em milhares de cidades ao redor do mundo.
E os assentamentos humanos são dominados por essa "automobilidade", um sistema interligado de carros, ruas, avenidas e estradas, infraestruturas de abastecimento, empresas de automóveis, seguradoras, bancos, políticas governamentais, além de agências de publicidade e revistas especializadas que criaram um culto ao automóvel. No entanto, existem apenas 16 carros para cada 100 pessoas no planeta, conforme dados de organizações da indústria*.


Curiosamente, os trens, ônibus, bicicletas, cadeiras de rodas e até os nossos próprios corpos são classificados como modos "alternativos" de transporte.

 

As constatações resultaram de uma ampla pesquisa elaborada por uma equipe multidisciplinar de especialistas da Alemanha e Reino Unido, e publicado no " Journal of Transport Geography".


Segundo a pesquisa, algumas poucas pessoas se beneficiam da condição de usuários de carros, mas quase todos os habitantes do planeta – quer dirijam ou não – são muito prejudicados por esse modelo carrocentrista. Os autores do artigo descobriram que, desde a sua invenção, os automóveis mataram entre 60 e 80 milhões de pessoas e feriram pelo menos 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. E atualmente, uma em cada 34 mortes que ocorre no planeta é causada pela automobilidade.

 

No entanto, apesar dos danos generalizados causados pelos veículos automotores, os governos, empresas e indivíduos continuam a facilitá-los, expandindo estradas, fabricando veículos maiores e subsidiando estacionamento, carros elétricos e a extração de recursos, como o petróleo ou os minerais necessários para a produção de baterias.

 

No texto, os pesquisadores mostram que os automóveis (sedans, SUVs, 4x4s, picapes, vans e táxis) exacerbaram as desigualdades sociais e danificaram ecossistemas em todas as regiões do mundo, incluindo em locais remotos, sem automóveis.

 

Os pesquisadores agruparam os danos causados pelo automóvel em quatro categorias:

+ Violência (colisões e violência intencional); 

+ Problemas de saúde gerados pela poluição, sedentarismo, dependência do carro e isolamento social; 

+ Injustiça social, como a distribuição desigual de danos, inacessibilidade a alguns serviços para quem não usa carros, e consumo de espaço, tempo e recursos naturais pelo modelo carrocrata; e 

+ Danos ambientais, como as emissões de carbono, poluição, extração de recursos minerais e uso da terra.

 

No documento os autores também resumiram algumas intervenções que deveriam ser adotadas por governantes e que poderiam reverter esse processo. São medidas óbvias, já adotadas em alguns países do mundo, mas que indicam uma mudança de ciclo: em vez de estimular, os governos devem agir com urgência para reduzir as facilidades dadas aos motoristas e estimular as formas de transporte com baixo impacto: caminhar, pedalar e usar o transporte público. Parece simples, mas há uma enorme teia de interesses econômicos que atuam no sentido contrário.


Exemplos de ações para reduzir danos gerados por carros:

Intervenções

Resultados

Locais/exemplos

Estudos

Taxas de congestionamento
e pedágios urbanos

Redução de poluição; mais espaço para transporte coletivo e bicicletas

Londres,
Singapura
e Estocolmo

(Goh, 2002; Kuss and Nicholas, 2022)

Redução de vagas de estacionamento nas ruas

Mais espaço para caminhar, pedalar e rodar com cadeiras de rodas

Barcelona,
Oslo e  Paris

(Johansson et al., 2022; Kuss and Nicholas, 2022)

Áreas sem carros
ou com tráfego controlado

Redução de sinistros de trânsito, poluição do ar e ruído urbano

Fez, no Marrocos, Kigali, em Ruanda e Veneza

(Kalisa et al., 2022; Nieuwenhuijsen and Khreis, 2016)

Redução de velocidade do trânsito

Menos sinistros de trânsito e menor letalidade

Belfast e Edimburgo, no Reino Unido

(Milton et al., 2021)

Fixar número máximo (e não mínimo) de vagas em edificações 

Menor custo para
bens e serviços,
como habitação

Boston, Londres
e Seul, na Coréia

(Guo and Ren, 2013; Hess and Rehler, 2021)

Converter estacionamentos em habitação ou lojas 

Increase in housing availability and affordability

Los Angeles (EUA)
e Estocolmo, na Suécia

(Brown et al., 2020; Johansson et al., 2022)

Ciclovias, ciclofaixas
e ruas abertas

Espaços seguros para caminhar, rodar em cadeiras de rodas e pedalar 

Bogotá, Jacarta, na Indonésia, Kigali, em Ruanda, Nairobi, no Quênia e Pune, na Índia

(Adam et al., 2020; Sheller, 2018; Subramanian et al., 2020)

Bicicletas elétricas para pessoas e cargas

Circular em longas distâncias e transportar cargas sem carros

Kunming e Shanghai, na China

(Fishman and Cherry, 2016; Philips et al., 2022)

Car sharing (compartilhamento
de carros)

Redução de tempo ocioso de carros. 

Beijing, na Chima e Malmö, na Suécia

(Sun and Ertz, 2021; Svennevik et al., 2021; Vélez, 2023)


* Nota: Os dados sobre a frota de carros foram levantados em relatórios da Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, 2021; Organização Internacional de Fabricantes de Veículos Motorizados, 2017; Centro Nacional de Estatísticas do Japão, 2022; e Organização Mundial da Saúde, 2018.

Arquivos
Download
A global review of automobility's harm
Leia o trabalho completo (em inglês) na versão PDF. Os autores são Patrick Miner, Barbara M. Smith, Anant Jani, Geraldine McNeill, Alfred Gathorne-Hardy

Outros Estudos

Ver todos os estudos

  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário