Foz do Iguaçu sofre com má qualidade dos ônibus

Transporte público na cidade turística de fronteira ainda está longe de um padrão aceitável. Motoristas e cobrador@s bem treinados é que salvam a imagem do serviço

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 03 de dezembro de 2018

Ônibus em Foz: trajetos longos, lotação e calor

Ônibus em Foz: trajetos longos, lotação e calor interno

créditos: Foto: Kiko Sierich/PTI

Mãe cuidadosa e dedicada, a senhora não se abalou nem um pouco quando a tempestade desabou na tarde de sexta-feira (30), em Foz do Iguaçu, na área próxima à fronteira com Ciudad del Este. Seu filho, um rapaz com paralisia cerebral, também estava tranquilo quando o ônibus chegou ao ponto sob aquele "pé d'água" típico de verão.

 

Protegendo-se como podiam, os passageiros tentavam entrar rapidamento no carro, enquanto o cobrador atendia à mãe e acionava o elevador de acessibilidade. Mas, como o veículo estava um pouco afastado do meio-fio, a rampa não conseguia atingir a calçada. As águas caíam, os passageiros apertavam-se na porta, mãe e filho abrigavam-se sob uma marquise e o motorista aguardava pacientemente que todos entrassem para manobrar o carro e aproximá-lo da calçada. Bastou um minuto e logo todos estavam a bordo, apenas um pouco molhados, em direção ao terminal central da cidade paranaense. Mas felizes, e conversando sobre aquela chuva abençoada que afastou o calor abafado. 

 

 
Elevador de acessibilidade: carro com piso alto


"Os motoristas e cobradores aqui de Foz são muito atenciosos", explicou Serena, a mãe de Antonio, que faz o trajeto várias vezes por semana. São mesmo tranquilos e bem preparados os operadores do sistema de ônibus de Foz do Iguaçu. Há mulheres e idosos entre eles e todos conhecem muito bem o trajeto e as conexões possíveis para os passageiros. Falam um certo "portuñol", alguns arriscam algumas frases em inglês, mas se esforçam para atender os passageiros alemães, japoneses, americanos, franceses, enfim gente do mundo inteiro que vai à cidade para conhecer as famosas Cataratas do Iguaçu. A operadora FozTrans pretendia eliminar os cobradores da frota, mas recuou depois de protestos que envolveram usuários e trabalhadores, em 2013.

 

Outro ponto interessante na cidade é a prioridade para pessoas com mobilidade reduzida. Uma lei municipal define que todos os assentos são de uso prioritário para idosos, pessoas com deficiência, mulheres grávidas ou mães (pais) com crianças de colo. E a norma é respeitada, como o sexagenário editor do Mobilize constatou em vários momentos. "O senhor sente-se aqui" é frase comum nos coletivos iguaçuenses.

 

Qualidade dos ônibus
Talvez o ponto mais fraco do serviço seja a qualidade dos ônibus, que estão longe de um bom padrão para o transporte de pessoas. Os carros são novos, mas todos têm piso alto, o que exige o tal elevador de cadeirantes que toma tempo e dificulta muito o acesso de idosos e pessoas com deficiência. O padrão é bem despojado e comum a várias cidades brasileiras, com bancos de plástico, piso metálico, e sem ar refrigerado, condição que acaba afastando do transporte público a população de renda mais alta. Os ônibus têm suspensão muito dura e o conforto depende exclusivamente da sensibilidade dos condutores, que tentam evitar os solavancos.

 

Vídeo amador mostra solavancos no trajeto

 

Uma viagem na linha 120, que liga o centro da cidade ao aeroporto e ao parque nacional, chega a ser torturante em alguns momentos. O trajeto é longo, o ônibus não goza de prioridade no trânsito, os carros circulam superlotados e o calor interno é abrasador. Quando chove, fecham-se as janelas, falta ventilação e algumas pessoas chegam a passar mal. A maior parte dos coletivos são dotados de entradas de ar no teto, que funcionam bem em tenpo seco, mas deixam entrar muita água sob chuva.

 

 


Sem faixas exclusivas, coletivos ficam "presos" no trânsito


Em abril passado, um diagnóstico realizado pela empresa que prepara o Plano de Mobilidade Urbana de Foz e publicado pela imprensa local mostrava que "o iguaçuense foge do transporte coletivo como o diabo foge da cruz. Compra carro, nem que seja bem velhinho, compra moto, nem que seja de placa paraguaia, pega carona ou vai de bicicleta. E só em último caso vai de ônibus", mostrava o relatório. Como consequência, entre 2010 e 2016 o sistema de ônibus da cidade perdeu 4 milhões de passageiros, segundo dados da prefeitura.

 

O sistema de ônibus de Foz conta com um bilhete  integrado e um Terminal de Transporte Urbano (TTU), na região central da cidade, que permite conexões entre linhas sem o pagamento de nova passagem. A tarifa é de R$ 3,75 (nov 2018) e permite circular por toda a cidade, até ao Parque Nacional das Cataratas. Em geral, os ônibus não demoram muito a passar nos pontos. Nos domingos, porém, os coletivos rareiam, como acontece em várias cidades do país. E daí, moradores e não poucos turistas  - japoneses, alemães, holandeses, italianos, franceses, americanos e brasileiros  - reclamam do longo tempo de espera para ir ao Parque, ao Centro, ou ao aeroporto. 

 

 

Diagnóstico: queixas de usuários
O diagnóstico da mobilidade, que foi realizado entre 2017 e 2018 revelou as principais queixas dos usuários do transporte público e servirá para orientar os futuros projetos de mobilidade para a cidade:

 

#  Roteiros com percursos muito longos

#  Insegurança para os usuários

#  Veículos e equipamentos com baixa qualidade

#  Custo das passagens

#  Tempo de espera muito longo 

#  Falta de interligação entre as macrorregiões

#  Necessidade de mais terminais de transbordo

#  Falta de acessibilidade

#  Ausência de corredores para os ônibus

# Poucos pontos de acesso ao transporte público

# Inexistência de linha executiva

# Baixa qualidade dos pontos de parada

# Qualidade das vias (pavimentação)

# Sinalização horizontal e vertical

# Não escalonamento de horários 

   

Leia o Plano de Mobilidade de Foz do Iguaçu

 

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