Flexibilização da quarentena aumenta número de acidentes no trânsito*

Especialistas em Medicina de Tráfego alertam para os reflexos do afrouxamento social na ocupação de leitos e nos custos da saúde, com a curva ascendente da pandemia

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Fonte: Mobilização de Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito do Brasil  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 03 de julho de 2020

Vítimas de acidentes já ocupam 60% dos leitos de U

Vítimas de acidentes já ocupam 60% dos leitos de UTI

créditos: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A reabertura gradual do comércio na flexibilização da quarentena implementada em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, e a queda nos índices de isolamento social já aumentaram o movimento no trânsito e devem provocar um aumento no número de acidentes. Entidades e especialistas em Medicina de Tráfego alertam que isso reflete diretamente na ocupação de leitos e na mobilização de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais públicos.

 

O temor é que haja um prejuízo no atendimento a pacientes da Covid-19 justamente quando a pandemia está em curva ascendente no Brasil, que contabiliza mais de 61 mil mortos e quase 1,5 milhão de casos confirmados.

 

A preocupação dos especialistas da Mobilização de Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito do Brasil é reforçada por dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), que mostram que 60% dos leitos de UTI são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito.

 

Estes pacientes respondem a 50% das cirurgias de urgência no SUS. “Em um momento em que há uma explosão na demanda por leitos, respiradores e profissionais da saúde, um aumento do número de acidentes pode ter um impacto negativo principalmente nas cidades onde a taxa de ocupação está se aproximando do limite”, afirma o médico especialista em Medicina do Tráfego, Alysson Coimbra de Souza Carvalho.

 

Alysson Coimbra: riscos de explosão na demanda por leitos. Foto: Divulgação

 

O reflexo do isolamento social na segurança do trânsito é atestado em números de várias cidades brasileiras. Em cidades do Nordeste onde o lockdown (bloqueio total) foi decretado, a redução foi drástica. Teresina teve uma queda de 95% nos acidentes, entre os meses de março e abril. Fortaleza viu o índice cair 60% durante o período de maior isolamento social.

 

Mais trânsito, mais internações

A retomada das atividades comerciais, no entanto, fez crescer o movimento nas ruas e estradas. No dia 8 de junho, a incidência de congestionamentos cresceu 500% no Rio de Janeiro, na comparação com as semanas anteriores à flexibilização. Em Minas Gerais, desde o fim de abril, o isolamento social caiu de 61% para 36%. Com cerca de 5 milhões de pessoas a mais nas ruas, o número de acidentes aumentou. Apenas em um hospital de Belo Horizonte, o número de internações cresceu 37% em maio, na comparação com a abril.

 

Na avaliação dos especialistas, o impacto da redução na ocupação de leitos por vítimas de acidentes foi imediato, contribuindo para que os pacientes de Covid-19 pudessem ter acesso a todos os recursos necessários para o tratamento, evitando, em muitos municípios, o colapso do sistema de saúde e um número ainda maior de mortes. 

“Em uma situação de pandemia e de temor iminente do colapso no sistema de saúde, a segurança no trânsito é uma importante aliada. É preciso um esforço de todos para evitar que isso aconteça. O Brasil é o 4º país do mundo com maior número de mortes no trânsito, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria. Os governos precisam adotar medidas para reduzir esses dados e melhorar a segurança. As pessoas precisam também se conscientizar sobre a importância de seguir as regras de trânsito em qualquer época do ano e, em tempos de pandemia, quem puder, deve ficar em casa. A prudência salva vidas”, afirma o médico.

 

*Artigo assinado pela Mobilização de Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito do Brasil

 

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