Pandemia muda rotinas e uso do transporte público na América Latina

É o que revela pesquisa sobre impactos da covid na mobilidade urbana em nove cidades: BH, Porto Alegre, Rio de Janeiro, SP, Bogotá, Buenos Aires, Lima, Quito e Santiago

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Fonte: Mobilize/ WRI Brasil  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 29 de julho de 2021

Redução (18%) no uso de bicicleta em SP na pandemi

Redução (18%) no uso de bicicleta em SP na pandemia

créditos: Fotos Públicas

Como a pandemia de covid-19 afetou a mobilidade urbana e o uso dos modos de transporte? Como se sentiram as pessoas que adotaram o trabalho remoto? São algumas das perguntas feitas em levantamento organizado pelo Centro de Excelência BRT+ com apoio do WRI Brasil em nove cidades latino-americanas: Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Bogotá, Buenos Aires, Lima, Quito e Santiago. 

 

Nessas capitais, a pesquisa mostrou por exemplo que a maioria das pessoas passou a usar menos o transporte coletivo. Bicicleta e caminhada diminuíram no Brasil, mas aumentaram em Buenos Aires e Bogotá, cidades que investiram em infraestrutura para a mobilidade ativa durante a pandemia. 

 

 

Transporte coletivo

A diminuição no uso do transporte coletivo relatada em todas as cidades foi drástica, algo que está gerando consequências econômicas graves para vários dos sistemas. Nas nove cidades, mais de 50% dos participantes afirmaram ter reduzido a frequência com que utilizam o transporte público, chegando ao máximo de 82% em São Paulo. Esse percentual foi de 78% no Rio de Janeiro, 66% em Porto Alegre e 63% em Belo Horizonte. 

 

A preocupação com a transmissão do coronavírus foi uma constante. Em todas as cidades pesquisadas, mais de 60% dos respondentes afirmaram que estavam "extremamente preocupados" ou "muito preocupados" com a higiene no transporte público. Nas cidades brasileiras, foram 76% dos paulistanos e cariocas, 75% dos belo-horizontinos e 69% dos porto-alegrenses.  

 

Outro motivo da redução no transporte público foi o trabalho remoto. Próxima de zero no momento anterior à pandemia, a realização da atividade principal (em geral, trabalho ou estudo) de casa se tornou a parcela mais significativa da distribuição modal entre os entrevistados de todas as cidades, sendo inclusive superior a 50% em quase todas - Lima (39%) e Quito (33%), foram as únicas exceções. 

 

São Paulo (72%) e Buenos Aires (69%) são as cidades onde os participantes da pesquisa mais realizavam a atividade principal de casa. Rio de Janeiro (64%), Belo Horizonte (60%) e Porto Alegre (55%) também mostraram resultados expressivos. Os gráficos a seguir mostram como mudou a proporção de cada modo em comparação a antes da pandemia. 

 

 

 

 

 

 

Ciclovias e calçadas

Mas quando o deslocamento era necessário, o meio de transporte escolhido mudou. Enquanto nas cidades brasileiras e em Santiago uma maioria dos entrevistados relatou ter diminuído o número de deslocamentos a pé e por bicicleta, outras cidades latino-americanas tiveram aumentos superiores a 30% no uso de pelo menos um destes modos. Estes aumentos podem estar associados ao incentivo que algumas cidades deram a esses meios, que são os mais seguros em um momento de pandemia, ao construir ciclovias temporárias (Bogotá, Buenos Aires, Lima e Quito adotaram esta prática) ou implementar alargamentos em calçadas, entre outras medidas. 

 

A redução dos deslocamentos a pé foi de 41% em Porto Alegre, 40% em São Paulo, 36% no Rio de Janeiro e 35% em Belo Horizonte. No caso do uso da bicicleta, ele caiu 22% e Porto Alegre, 18% em São Paulo, 14% no Rio de Janeiro e 9% em Belo Horizonte. 

 

Trabalho remoto 

Entre os aspectos investigados na pesquisa está a percepção de produtividade no trabalho de casa em comparação com o presencial: considerando todas as pessoas entrevistadas, a maioria considera que não houve alterações na produtividade, e nos casos de cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Bogotá, as pessoas se consideram mais produtivas de casa. Já em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro a maioria se disse um pouco menos produtiva. 

 

Do total de respondentes das nove cidades, quando perguntados sobre quantos dias trabalhariam de casa no futuro (com a crise sanitária superada) caso pudessem escolher, em média, menos de 5% desejariam voltar ao trabalho totalmente presencial, 30% gostariam de trabalhar 3 dias de casa e 25% optariam pelo trabalho totalmente remoto. Bogotá (38%), Lima (30%) e Belo Horizonte (28%) foram as cidades com as maiores proporções de pessoas que escolheram esta última opção. 

 

Por outro lado, um olhar mais apurado sobre a renda dos participantes do questionário revela uma realidade desigual: embora a amostra das cidades brasileiras tenha sido pequena para alguns dos estratos de renda, os resultados indicam que a população mais vulnerável continuou se deslocando mais durante a pandemia, consequentemente ficando mais exposta ao vírus. 

 

Pesquisa 

A pesquisa Impactos da Pandemia da Covid-19 sobre a Mobilidade Urbana foi organizada pelo Centro de Excelência BRT+, da PUC Chile, de Santiago, e teve apoio do WRI Brasil para o levantamento nas cidades brasileiras. Ela foi realizada de maneira remota (internet) com 5.924 pessoas em Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Bogotá, Buenos Aires, Lima, Quito e Santiago. Uma segunda etapa da pesquisa terá início no final de julho, para ampliar ainda mais os dados já obtidos.

 

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