Lula, que tal deixar o carro de lado?

Tente o metrô, o trem, o ônibus, vá a pé ou de bicicleta. Você descobrirá um novo caminho para o país. Se duvida, leia o artigo de Roberto Andrés, na revista Piseagrama

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Fonte: Piseagrama  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 24 de maio de 2023

Ônibus elétrico de piso baixo, uma boa alternativa

Ônibus elétrico de piso baixo, uma boa alternativa

créditos: Divulgação Alstom


Este texto é um pequeno trecho de artigo publicado em 2020 pela revista Piseagrama. Nele o autor Roberto Andrés desconstrói toda a estrutura econômica e ideológica criada em torno do fenômeno automobilístico, que já dura cem anos, movimentou montanhas de aço, alumínio, vidro, borracha, plásticos e dinheiro, destruiu cidades e milhões de vidas humanas.


Com a leitura, talvez o presidente entenda que o melhor caminho para a economia, para as cidades, para os empregos e a vida das pessoas passa por outras formas de transporte, mais limpas, confortáveis e seguras. O texto completo tem exatas 4.323 palavras e exige 37 minutos para uma leitura atenta. É importante para qualquer pessoa que queira dirigir veículos e obrigatório para quem quer dirigir um país. 

 

"...Uma grande empresa apresenta um invento. O novo produto resulta da aplicação de tecnologias de ponta, apresenta características extraordinárias de engenharia e design, gera conforto e prazer para seus futuros usuários. Após exaltar todas essas virtudes, os apresentadores do produto, em um surto de sinceridade, fazem a ressalva de que “ele será responsável pela morte de milhões de pessoas anualmente, além de impactos consideráveis na saúde coletiva, no território urbano e no consumo de tempo das pessoas”. Qual seria a reação social ao invento?

 

O debate sobre carros necessita dessa perspectiva. Os mais de cem anos de difusão do automóvel nos fizeram acreditar que essas máquinas que nasceram supérfluas são, mais do que necessárias, inevitáveis. Naturalizamos uma aberração e hoje não sabemos viver sem ela. Seguimos em uma inércia suicida.

 

Feche os olhos e pense longe. Pronto, foram eliminados todos os veículos automotores individuais do planeta. Agora é possível escutar o som dos pássaros, o caminhar das pessoas, o deslizar suave dos bondes e ônibus elétricos, sem o inferno de motores a combustão e buzinas. Milhões de quilômetros quadrados de vias, que ocupavam cerca de um quarto do espaço das cidades, foram transformados em praças, jardins, parques, rios renaturalizados, habitação social, bibliotecas, clubes públicos, escolas.

 

Voltamos a respirar ar puro, a transitar de forma segura de bicicleta ou a pé, a conversar com os vizinhos à sombra das árvores que ocupam o meio das ruas. Recuperamos o valioso tempo que era gasto em deslocamentos e passamos a aplicá-lo na vida social, em encontros com amigos e familiares, em atividades de lazer ou puro ócio. Como resultado, a saúde da população melhorou substancialmente, reduzindo a pressão sobre o sistema público de saúde, que pôde se aprimorar no atendimento a situações de fato inevitáveis.

 

O enorme ganho de eficiência nos deslocamentos foi complementado pelo uso racional de alguns veículos elétricos para transportar pessoas idosas ou enfermas, moradores de áreas rurais, alimentos e produtos em geral. Pela primeira vez em um século, conseguimos reduzir as emissões de gases geradores de efeito estufa. Contaremos orgulhosos a nossos netos como nos empenhamos nessa mudança, que à vista deles pode parecer banal, mas que demandou um grande esforço coletivo para a superação de um vício social que sustentava a riqueza de poucos.

 

A economia descobriu outras cadeias de produção, desta vez voltadas para o bem-estar coletivo. Somente a reciclagem dos materiais de mais de um bilhão de automóveis movimenta setores inteiros, sem falar na fabricação massiva de bondes, trens, metrôs, ônibus elétricos e bicicletas. Cidades são remodeladas, em busca da convivência entre as várias formas de vida e da gestão respeitosa dos recursos naturais. Tudo isso se dá junto a um importante processo de mudança política e social, em que o individualismo automobilista, gerador de exclusão e violência, foi substituído pelo compartilhamento ciclista e do transporte coletivo, geradores de solidariedade.

 

Milhões de vidas foram poupadas. Se ainda vivêssemos em um mundo tomado pelo imperativo dos carros, 500 pessoas teriam morrido graças a acidentes de trânsito e poluição do ar somente no tempo que você levou para ler este texto. Agora elas seguem suas vidas, cuidam dos filhos, brincam com os pais, fazem planos para o futuro, sonham com seus amores, cuidam do jardim."


Parece sonho?
Leia o artigo completo em O mundo sem carros, na revista Piseagrama, Belo Horizonte, n. 14, p. 92-99, jul. 2020. 


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