Duas mulheres e uma oficina = bicicletas compartilhadas em Cuba

Reportagem do Brasil de Fato conta como nasceu o Velo Cuba, primeiro sistema de bike share do país, graças à persistência de duas mulheres que puseram suas mãos nas rodas

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Fonte: Brasil de Fato  |  Autor: Gabriel Vera Lopes / Brasil de Fato  |  Postado em: 04 de setembro de 2023

Iniciativa exige a manutenção pesada das bicicleta

Iniciativa exige a manutenção pesada das bicicletas

créditos: Velo Cuba

De Havana, Cuba, Gabriel Vera Lopes escreveu um belo relato sobre a história de duas mulheres que criaram uma bicicletaria no centro histórico da capital cubana e a partir daí foram convidadas para desenvolver o primeiro sistema de bicicletas compartilhadas do país. E conseguiram, apesar da falta de peças de reposição, da ausência de wifi nas cidades, e da carência de mão de obra especializada. Para isso criaram uma escola de formação. 


"Tenho 47 anos e ando de bicicleta há 43 anos", diz Nayvis Díaz Labaut com um sorriso para a reportagem do "Brasil de Fato". "Nasci em Havana, mas cresci na Ilha da Juventude, uma pequena ilha ao sul de Cuba. Lá, até hoje, todo mundo ainda anda de bicicleta. Lembro-me de andar na bicicleta da minha mãe quando era muito jovem: para o trabalho, para a escola, para fazer compras. Foi assim que cresci e nunca parei de andar de bicicleta."

 

Laubat é diretora e fundadora da Velo Cuba (veloencuba.com), uma empresa liderada por mulheres que desenvolve diferentes atividades relacionadas ao ciclismo: desde o conserto e o aluguel de bicicletas até o gerenciamento do sistema de bikes públicas de Havana - uma atividade que elas realizam em conjunto com o Escritório do Historiador.   

 

O uso de bicicletas se tornou muito popular em Cuba durante a década de 1990. Naquela época, após o colapso da União Soviética, Cuba atravessou uma das crises mais agudas de sua história. O "período especial" - como era conhecido na ilha na época - praticamente paralisou o transporte devido à falta de combustível. Essa situação fez com que muitas pessoas buscassem novas maneiras para realizar seus deslocamentos.

 

"Quando vim para Havana para estudar no pré-universitário e na universidade, trouxe minha bicicleta. Naquela época, havia várias ciclovias que ligavam a cidade. Mais tarde, infelizmente, isso se perdeu um pouco. Eu estava estudando engenharia industrial e, de minha casa até a universidade, eu pedalava cerca de 20 km todos os dias. Conheci Havana de bicicleta. Pedalei por lugares que nunca teria conhecido se não fosse pelo amor que sentia por me perder na cidade", lembra Labaut.

 

Em 2013, Cuba deu início a um processo de reforma econômica e política que continua a se aprofundar até hoje. Naquele ano, foi aberta a possibilidade do trabalho autônomo e, com o passar dos anos, diferentes formas de gestão econômica não estatal começaram a ser incentivadas. Naquela época, Labaut trabalhava como gerente de recursos humanos em instalações relacionadas ao turismo. Seu trabalho em navios de cruzeiro não só lhe permitia conhecer muitos lugares do mundo, mas também desfrutar de um emprego bom e estável que lhe permitia comprar um carro - algo que para muitas pessoas era difícil de conseguir.

 

"Vendi o carro que tinha e, com o dinheiro, decidi abrir uma pequena loja de reparo de bicicletas. Minha família e meus amigos me apoiaram, mas também acharam que eu tinha ficado um pouco louca. Eles só puderam desfrutar do carro por um curto período de tempo", lembra ela com uma risada.

 

Com o dinheiro obtido com a venda do carro, Labaut comprou as primeiras ferramentas que fariam parte da oficina. O bloqueio que Cuba sofre por parte dos Estados Unidos faz com que esse tipo de material não seja vendido na ilha, de modo que ela teve de obtê-lo de pouco em pouco por meio de amigos que viajavam para o exterior. Quando tudo estava pronto, ela propôs a uma amiga ciclista que trabalhasse com ela. A ideia de duas mulheres trabalhando em uma oficina mecânica a surpreendeu. No entanto, Labaut conseguiu convencê-la. "Eu não tinha pensado nisso. Foi ela quem ficou surpresa e me perguntou se eu achava que era uma boa ideia. A mecânica era vista como 'coisa de homem'. Não havia lugares assim de mulheres. E, graças a Deus, não nos importamos. Abrimos a loja em 12 de setembro de 2014", lembra ela com alegria.

 

Atividade do Velo Cuba com crianças de Havana Foto: Velo Cuba



Entre 2014 e 2017, durante o governo de Barack Obama, Washington começou a mudar gradualmente sua estratégia em relação a Cuba, eliminando alguns dos aspectos mais pesados do bloqueio contra a ilha. 

 

"Com a chegada de mais turistas a Cuba, as pessoas começaram a vir à ilha para fazer turismo de bicicleta. Elas chegaram para percorrer o país em suas bicicletas. Muitas delas vinham à oficina em busca de peças de reposição ou conselhos. Conversando com elas, comecei a perceber que muitas vezes era muito caro para elas levarem suas bicicletas de volta para seus países. Os custos de transporte e envio tornavam isso muito caro, então comecei a oferecer a esses turistas a compra de suas bicicletas. Eles vinham com suas bicicletas e, no final da viagem, era mais conveniente para eles vendê-las", diz Labaut.

 

Em 2015, ela foi procurada pela diretora do Escritório do Historiador, que propôs a criação de um sistema público de bicicletas. Esse tipo de serviço só existia nas grandes cidades europeias. Era um desafio fazer algo assim. Além disso, nos lugares onde esse tipo de serviço existe, ele é gerenciado pela internet. E aqui, até hoje, não temos internet via satélite que nos permita automatizar o serviço. Portanto, tivemos que descobrir como configurar algo assim. Mas sempre tivemos o compromisso criativo de fazer com que os projetos do Vela Cuba funcionassem, então não duvidamos e começamos a trabalhar".


Leia a entrevista completa no Brasil de Fato

 

Veja um vídeo sobre a história do Velo Cuba



 

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