Manifesto pede que Orla do Guaíba, em Porto Alegre, vire "Zona 30"

Movimento lançado por site de urbanismo reivindica uma Porto Alegre mais segura e humana, com velocidade ao longo da Av. Beira-Rio limitada a 30 km/h. Assine o documento!

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Fonte: Caos Planejado  |  Autor: Anthony Ling  |  Postado em: 21 de setembro de 2023

Pedestres sofrem para cruzar a Av. Beira-Rio em Po

Pedestres sofrem para cruzar a Av. Beira-Rio em Porto Alegre

créditos: Joel Vargas/PMPA

Leia a seguir artigo do fundador do site Caos Planejado, Anthony Ling, que mostra como cidades do mundo inteiro têm implantado ruas com limite de velocidade em 30 km/h para reduzir sinistros de trânsito, e trata do 'Manifesto Orla do Guaíba Zona 30', que pretende melhorar a dinâmica urbana e a segurança dos pedestres ao longo de uma avenida que cruza toda a área na capital gaúcha.

 

"O trânsito brasileiro mata aproximadamente 40 mil pessoas por ano. Nossa taxa de mortalidade por 100 mil habitantes é superior mesmo ao caótico trânsito da Índia, e cerca de 10 vezes maior que a de países mais seguros como Suíça e Noruega. Pedestres representam cerca de 20% desse total, ou seja, 8 mil pedestres são mortos por ano nas ruas brasileiras.

 

Boa parte dessas fatalidades são decorrentes da velocidade do trânsito. Ruas de alta velocidade são incompatíveis com zonas urbanas com alto tráfego de pedestres. O trágico atropelamento recente do ator Kayky Brito, no Rio de Janeiro, chamou atenção para este problema.

 

A Av. Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, possui limite de velocidade de 70 km/h em dias úteis, apesar de atravessar uma das orlas mais famosas e povoadas do país. Em resposta ao ocorrido, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, logo se manifestou defendendo a redução do limite de velocidade na orla do Rio.

 

Assim, cidades do mundo inteiro têm implantado “Zonas 30”, ruas com limite de velocidade em 30 km/h, com o objetivo de salvar vidas. Por que 30 km/h? O que mostram os estudos é que, a partir de 30 km/h as fatalidades de batidas aumentam exponencialmente. Além disso, a velocidade média em áreas urbanas dificilmente ultrapassa 30 km/h, e principalmente em vias movimentadas o limite de velocidade tem pouco ou nenhum impacto na velocidade final do motorista.

 

O efeito mais robusto apresentado pelos estudos de redução de limites de velocidade é na redução de fatalidades e batidas. A chance de um pedestre vir a óbito em um atropelamento quadruplica ao aumentar a velocidade de colisão de 30 km/h para 60 km/h. No Brasil, temos casos recentes documentados em São Paulo e Recife. São Paulo reduziu a velocidade de 90 km/h para 70 km/h nas vias arteriais e teve uma redução de 22% nos sinistros. Recife implantou uma Zona 30 e teve uma redução de 75% dos sinistros.

 

Gráfico mostra taxa de mortalidade em relação à velocidade de colisão. Reprodução: Caos Planejado

 

A redução para 40 km/h ou 50 km/h já traria benefícios em termos de segurança viária. E como o ganho em segurança viário é muito significativo frente a uma perda irrisória no tempo de viagem, a implantação da regra se torna importante como política pública. Por isso, o limite de 30 km/h tem sido adotado praticamente como um padrão global para segurança viária.

 

Situação semelhante à da Av. Lúcio Costa no Rio de Janeiro ocorre em Porto Alegre na Av. Edvaldo Pereira Paiva, também conhecida como “Av. Beira-Rio”. A avenida atravessa três parques importantíssimos: o Parque da Orla Moacyr Scliar, o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, também conhecido como “Parque da Harmonia”, e o Parque Marinha do Brasil, além do acesso ao Estádio Beira-Rio. Não apenas o trânsito de pedestres nestes espaços é intenso, como ciclistas utilizam a via diariamente para prática esportiva. Estes usos são incompatíveis com uma via de alta velocidade e geram um risco iminente à vida.

 

Av. Edvaldo Pereira Paiva, popularmente conhecida como Av. Beira-Rio. Foto: Filipe Karam/PMPA

 

No âmbito da conscientização em nível nacional pela segurança no trânsito, defendemos através deste manifesto a transformação da Av. Beira-Rio em uma Zona 30, reduzindo o atual limite de velocidade para 30 km/h. Esta seria uma primeira medida para a humanização da avenida, que deveria receber, em etapas seguintes, melhorias nas calçadas, travessias de pedestres em nível, assim como paradas de ônibus para permitir a universalidade do acesso aos parques.

 

O impacto no tempo de deslocamento dos motoristas será pequeno: não apenas seguirão tendo a alternativa de rota pela Av. Praia de Belas/Av. Padre Cacique, como a velocidade média dos veículos em área urbana dificilmente ultrapassa 30 km/h. Na Av. Beira-Rio já existem quatro áreas de velocidade reduzida para 30 km/h com redutores de velocidade, 2 no Trecho 1 e 2 no Trecho 3. A aceleração/desaceleração entre 30 km/h e 60 km/h gera um fator de risco ainda maior, e o tempo ganho no deslocamento é próximo de zero."

 

Clique aqui e assine o manifesto por uma Porto Alegre mais humana

 

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