"Ciclofaixa" no calçadão em Manaus será apagada, diz prefeitura

Após protestos, gestão municipal diz que tinta vermelha será removida das pedras portuguesas. Trecho seria ciclorrota e não calçada compartilhada, questiona ativista

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 26 de outubro de 2023

Pintura das pedras portuguesas por equipe da Prefe

Pintura das pedras portuguesas por equipe da Prefeitura

créditos: Jean Faria CAU-AM/ Reprodução (vídeo)

Desde o último fim de semana que a Prefeitura de Manaus vem recebendo críticas por causa de uma obra realizada, sem aviso prévio à sociedade, em uma área da Ponta Negra.

 

O local, na zona oeste da capital, é conhecido por ser muito frequentado pelos manauaras e por turistas, e é referencial do paisagismo da cidade. E a tal obra foi realizada na noite de sábado (21) pelos funcionários da prefeitura: trata-se da pintura em tinta vermelha, simulando uma "ciclofaixa", do piso de mosaico em pedras portuguesas do famoso calçadão. 

 

Já no dia seguinte a administração municipal voltou atrás, e em nota oficial prometeu remover a pintura das pedras. Diz o texto: "A prefeitura fará a remoção e limpeza de toda a extensão de pedras que recebeu a pintura e, para dar continuidade ao projeto, irá implantar novas pedras portuguesas na cor vermelha opaca." 

 

Além dos pedestres, a obra desagradou também os ciclistas, que esperavam para essa área uma ciclorrota, implantada não no calçadão, mas na via, conforme previsto no projeto. O trecho, de apenas 200 metros, faria a interligação com a parte da ciclorrota já executada. 

 

Alterações feitas no projeto da estrutura cicloviária planejada para a Ponta Negra. Mapa e montagem: Paulo Aguiar

 

Paulo Aguiar, integrante do movimento Pedala Manaus, explica que o projeto original previa uma ciclovia nesse trecho da Ponta Negra, conforme sinalizado pelo ciclista no mapa acima.

 

"Só que, quando foram executar, fizeram uma ciclofaixa, para atender a um pedido do Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM). E agora, para nossa surpresa, nesse último trecho [do Hotel Tropical até o início da Ponta Negra; veja no mapa], onde deveria haver uma ciclorrota, implantaram essa calçada compartilhada, justamente em cima de um calçadão que integra a composição paisagística da Ponta Negra. Lógico que isso causou uma tremenda comoção na cidade." 

 

Para piorar, diz ele, "do jeito como pintaram a faixa, ela não conecta com a ciclorrota já existente, que vai até o hotel Tropical. Então, ao sair dessa área pintada o ciclista terá que fazer um retorno e depois retomar a ciclorrota", critica.

 

Aguiar ressalta ainda que, ao que tudo indica, ninguém foi consultado sobre essa intervenção no calçadão: "Num primeiro momento, a prefeitura alegou que o obra foi feita por exigência do MP, mas o órgão no ato soltou uma nota desmentindo. Também alegaram que um grupo de ciclistas foi consultado, mas nenhuma entidade reconhecida foi consultada ou sabe com quem eles conversaram".

 

Projeto da ciclovia Boulervard-Ponta Negra, em Manaus. Reprodução: PMM

 

Ciclovia Boulervard-Ponta Negra

Anunciado em 2013, o projeto de ciclovia ligando os bairros Boulervard e Ponta Negra compreendia uma estrutura cicloviária de 14 km, incluindo trechos em ciclovia, além de outros em ciclofaixas e ciclorrotas, explica o ativista do Pedala Manaus. 

 

"Esse trecho em questão, de 3,5 km de extensão em ciclofaixa, e a parte pintada (menos de 200 m), só foi executado assim - e não mantido como ciclovia - porque o Ministério Público emitiu em 2021 um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) obrigando a prefeitura a refazer a obra. Isso porque, na visão do MP, a pista envolvia risco - não para os ciclistas como é sensato pensar, mas para quem dirige, afirmava o documento." E acrescenta Paulo Aguiar: "Bem curioso isso, porque o TAC obrigou a refazer a estrutura para bicicleta, não para proteger os ciclistas, mas por 'causar transtorno aos motoristas' da região".  

 

Leia a seguir a nota da Prefeitura de Manaus:

"A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), esclarece, neste domingo, 22/10, que o projeto de construção de 3,6 km da ciclovia em trecho da avenida Coronel Teixeira, zona Oeste, segue os parâmetros definidos de forma prévia em conjunto com o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM).

 

O corpo técnico da Seminf acompanha a execução da obra desde seu início, para garantir a viabilidade do projeto e a conclusão dentro do prazo estimado.

 

Mediante debate público acerca da pintura das pedras portuguesas, em etapa final da obra, a pasta considera relevante os pontos levantados pela sociedade civil e organizada e defere uma readequação do projeto inicial.

 

A prefeitura fará a remoção e limpeza de toda a extensão de pedras que recebeu a pintura e, para dar continuidade ao projeto, irá implantar novas pedras portuguesas na cor vermelha opaca.

 

A prefeitura reforça o compromisso com a opinião pública e a soberania do povo."

 

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