O acidente com o Elevador da Glória, em Lisboa, na quarta-feira (3), deixou 16 mortos e vários feridos, além de marcar profundamente a opinião pública de Portugal: jornais e lideranças políticas usaram a palavra tragédia para definir o episódio, que ainda não foi inteiramente explicado.
Afinal, trata-se de um equipamento de mobilidade que funciona há 140 anos, com raros acidentes, o mais recente em 2018, quando um dos carros descarrilou, mas conseguiu frear. Desta vez, porém, ocorreu o rompimento do cabo de sustentação do veículo e os dois sistemas redundantes de frenagem falharam apesar de todos os esforços do condutor.
O elevador é, na verdade, um funicular, com dois compartimentos de passageiros: o que desce puxa um cabo que suporta a subida do outro bonde. Entre eles um motor elétrico aciona e faz o equilíbrio de forças. Lisboa tem outros três ascensores (do Carmo, da Graça e da, Bica), todos muito utilizados, especialmente por turistas.
Elevador da Bica em Lisboa Foto: Regina Rocha
Sistemas semelhantes existem e funcionam bem em várias partes do mundo, especialmente na Europa, em várias configurações: bondes sobre trilhos, e planos inclinados em túneis e elevadores. Na América do Sul, Valparaíso, no Chile, chegou a ter 37 elevadores para vencer a encosta onde se desenvolveu a cidade, 16 dos quais continuam operando.
Salvador, na Bahia
No Brasil, Salvador é a cidade com o maior número de elevadores urbanos. São cinco, três deles funcionando no sistema funicular, e dois como elevadores verticais, entre eles o Elevador Lacerda, cuja origem remonta ao século 17. Para entender como anda a manutenção desses equipamentos, o Mobilize conversou com Pablo Souza, secretário de Mobilidade da Prefeitura de Salvador.
O secretário explicou que a cidade mantém um programa de inspeções mensais feitas por funcionários da própria prefeitura que contam com grande experiência na avaliação dos equipamentos. Caso surja alguma falha são acionadas as empresas de manutenção contratadas pela gestão municipal. Ao final de cada ano, um relatório mais amplo direciona a necessidade de obras ou intervenções mais complexas. Neste momento, por exemplo, o elevador do Pilar passa por uma grande reforma.
Souza lembra que o Elevador Lacerda foi recentemente renovado, com uma completa atualização de equipamentos, tornando-se um dos elevadores mais modernos e atuais do mundo, assim como o Elevador do Taboão, criado em 1896, mas inteiramente remodelado em 2019.
Desta forma, conforme o secretário de Mobilidade, os ascensores de Salvador são absolutamente seguros para o uso cotidiano. "A segurança é um fator básico para a Prefeitura e cuidamos para atender bem os mais de 20 mil passageiros diários que usam esses equipamentos", disse Souza.
Sobre projetos de novos equipamentos, o secretário explicou que no momento a capital está construindo um teleférico urbano, entre Praia Grande e Mané Dendé, permitindo a a conexão com o futuro VLT do Subúrbio e o metro de Salvador.
Os elevadores soteropolitanos
Todos os cinco ascensores de Salvador têm serviços gratuitos para moradores e turistas:
Elevador Lacerda
Cartão postal de Salvador e considerado o primeiro elevador público do mundo, o Lacerda tem quase 152 anos de história. O equipamento foi idealizado pelo engenheiro Antônio de Lacerda e construído pelo irmão Augusto entre 1869 e 1873, e passou por várias reformas e atualizações.
Plano Inclinado Gonçalves (1874)
A entrada, na parte Baixa está localizada no Centro do Comércio e deixa o passageiro no Terreiro de Jesus, no Pelourinho. A saída fica na lateral da Catedral Basílica de Salvador.
Plano Inclinado Gonçalves: um funicular Foto: Prefeitura de Salvador
Plano Inclinado Pilar (1915)
Saída no bairro do Pilar. O acesso na parte baixa fica no bairro Comércio.
Plano Inclinado Liberdade-Calçada (1981)
Bem utilizado pela população, opera durante toda a semana e até aos domingos.
Elevador do Taboão
Criado em 1896, mas inteiramente remodelado em 2019.
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