Meses atrás, Caroline Ribeiro caminhava tranquilamente pela rua Antonio José Barbosa, em Caxias do Sul (RS). Subitamente, um buraco se abriu na calçada, tragando a pedestre e os restos do pavimento destruído. Engana-se quem pensa que se trata de um caso de desleixo do proprietário na manutenção da calçada.
Suzete Arnoldo, proprietária do imóvel e moradora no bairro Exposição desde criança, explica que o problema de sua calçada começou em 1993, e que já fez inúmeras queixas à prefeitura, sem ser atendida: "Quando aconteceu o acidente quase morri de vergonha. Sem saber o que fazer, pedi perdão, tentei explicar do protocolo registrado na prefeitura... dos canos deteriorados sob a calçada...da sinalização (que alguém retirou)...".
Procurada pelo Mobilize, Caroline Ribeiro explicou que felizmente só sofreu escoriações, mas a dona do imóvel lembra que esse não foi o primeiro caso, e que várias pessoas vêm se acidentando nas calçadas do bairro. Segundo Suzete, o problema na verdade está na velha rede de esgotos do bairro: "Os moradores das quadras próximas vivem refazendo suas calçadas. Já chamei pedreiros várias vezes, a obra é realizada, mas em seguida o piso cede, sempre acontece... A tubulação é antiga, e os canos estão sempre quebrados e/ou desconectados. Vem a equipe da prefeitura, faz uns 'remendos' nos canos, mas, basta uma chuva, e tudo se rompe novamente", relata a moradora. "E olhe que estamos na região central, a cinco quadras da prefeitura!", completa.
Não bastasse, diz ela, os moradores continuam recebendo notificações da prefeitura para refazerem suas calçadas. E pergunta, já cansada de registrar protocolos no serviço "Alô Caxias" da prefeitura: "O que queremos saber, e ninguém responde, é: quem é o responsável? A prefeitura tem algum plano? Quando vão parar de remendar e consertar de fato?".
Entrevistado pelo Mobilize, o secretário de Obras Norberto Soletti informou que, por ora, não há planos da prefeitura para execução de obras mais duradouras, ou seja, de recuperação de toda a infraestrutura de esgotos daquela área da cidade. Soletti afirma que enviou (hoje, dia 12) uma equipe técnica ao local, para verificar a situação e tomar providências. "No final do ano, fizemos levantamentos preliminares e, para evitar problemas com as chuvas mais fortes, realizamos obras, mas em outras áreas da cidade, na zona norte, uma região mais baixa. Já a substituição da antiga rede de encanamento é algo mais complicado, e não temos previsão. Envolve valores expressivos, e o processo é demorado: exigiria licitação, aprovação de licença ambiental, e ter recursos disponíveis...", justificou.
A seguir, um trecho da mensagem com o desabafo da moradora de Caxias do Sul, enviado ao Mobilize:
"Meu nome é Suzete Arnoldo, e desde criança (1965 mais precisamente) moro no bairro Exposição. Gostaria, de alguma forma, de saber das autoridades políticas: quem é responsável pelos canos de esgoto que passam por baixo de nossas calçadas? Por que não somos atendidos quando pedimos o conserto dos mesmos? Por que não fazem um trabalho bem feito, para durar muitos anos, quando consertam?
Em 2010 minha mãe virou cadeirante. Um dia resolvemos levá-la à missa na igreja do Cristo Redentor. Eram três quadras de distância, mas foi só uma vez. Nunca mais nos aventuramos. Precisamos ir pelos paralelepípedos... e de ré com as rodas pequenas erguidas.
Em 1993 nossa calçada caiu. Foi o primeiro capítulo de uma novela que nunca mais teve fim...só intervalos. Depois de 'fazer barro', indo e vindo na prefeitura, praticamente acampei com pijama e escova de dente, até ser atendida. Mas o mau serviço não durou muito, e poucos anos depois já se percebia as pedras desnivelando-se.
Sei que é ano de eleição e este meu grito de revolta se perderá no fundo de gavetas (ou pastas). Mas vai que alguém me compreenda e resolva ajudar, não só a mim mas aos moradores de meu bairro e da região central da cidade que já estão cansados de gastar fazendo calçadas em cima de canos quebrados e (ou) desconectados. Ou mesmo aqueles que enchem de brita o grande buraco para poder fazer a calçada e esta 'durar mais tempo'. Será que isto não causa danos maiores, também, ao meio ambiente?"