O ciclista deve usar máscara para se proteger da poluição?

Quem se exercita em cidades poluídas como São Paulo precisa ficar atento aos sinais do corpo. Saiba quais os benefícios, vantagens e desvantagens do uso do equipamento

Notícias
 

Fonte: Instituto Saúde e Sustentabilidade*  |  Autor: Mariana Grazini  |  Postado em: 16 de novembro de 2015

Gabriel resolveu usar máscara após sentir dores de

Gabriel optou pela máscara após sentir dores de cabeça

créditos: Reprodução

 

A bicicleta tem tudo a ver com a mobilidade ativa, e deve sem dúvida ser estimulada... mas pedalar em vias de tráfego intenso pode, por outro lado, acentuar alguns riscos à saúde e gerar desconfortos devido à poluição do ar. Foi o que percebeu o engenheiro Gabriel Mazzola Poli de Figueiredo, que descobriu na prática a necessidade de usar máscara para se proteger dos efeitos do péssimo ar da cidade de São Paulo durante suas pedaladas. 

 

“Comecei a pedalar todos os dias, como meio de locomoção, no começo de 2015. Na época, a ciclovia da Avenida Paulista ainda não estava pronta, então andava no corredor de ônibus, respirando a fumaça dos veículos”, conta Figueiredo. Foi quando começou a sentir dores de cabeça e sintomas de rinite após percorrer grandes distâncias sob essas condições que ele encomendou sua primeira máscara pela internet em junho. 

 

O uso de equipamento ainda não é muito difundido no Brasil, como acontece em cidades na Europa e na Ásia, mas a medida traz benefícios para quem se exercita ao ar livre.

 

Segundo o pneumologista do Instituto do Coração (Incor), Ubiratan de Paula Santos, ciclistas, ou qualquer um que faça exercícios físicos em locais de intenso tráfego de veículos, estão mais expostos à poluição pois a quantidade de ar inalada é maior, já que a frequência cardíaca aumenta para contrair os músculos necessários para realizar a atividade.

 

Evangelina Vormittag, diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, alerta para os efeitos da poluição do ar para saúde. “O ar tóxico é líder ambiental em mortes e cidades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro possuem níveis de poluição relativamente altos. O ideal seria termos políticas públicas que corroborassem para o ar mais saudável e que as pessoas pudessem fazer seus exercícios livremente no espaço urbano onde elas vivem.”

 

Material particulado e gases

Antes de comprar sua máscara, Figueiredo pesquisou diferentes modelos e optou por uma que filtrasse tanto material particulado como gases. Para Santos, é importante escolher o equipamento conforme o ambiente onde ele será usado. Em São Paulo, a maior parte da poluição é de origem veicular e industrial, portanto uma máscara retentora de material particulado é a opção mais simples e eficaz. “É preciso ficar atento às fibras destes tipos de máscara e ao certificado de partículas finas. Os filtros mecânicos P2 e P3 são mais apropriados para a poeira fina”, ensina o pneumologista do Incor. As classificações são em função da capacidade de filtração do material – P1, P2 e P3, sendo P1 capaz de reter apenas partículas sólidas ou líquidas geradas de soluções ou suspensões aquosas, e não recomendado para o material particulado.

 

Para filtrar gases como ozônio, dióxido de carbono, monóxido de carbono, entre outros, deve-se investir em máscaras que usam carvão. Maior e mais incômodo, o modelo também é mais caro. “Paguei cerca de US$40 pela minha máscara, além de US$15 por um pacote de três filtros”, afirma o ciclista, que combinou as duas funções no equipamento não encontrado em versão nacional. Quanto aos filtros, eles devem ser trocados conforme a frequência em que forem usados. O pneumologista do Incor recomenda substitui-los a cada dez dias, aproximadamente, para quem pedala diariamente no deslocamento ao trabalho e na volta para casa.  

 

“A concentração de poluentes em São Paulo está acima das indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas não recomendo o uso de máscaras para todos. O benefício para a quantidade de ar inalada por um pedestre ainda não é bem estabelecido, além de o preço não ser acessível para todos”.

 

Para Figueiredo, que pratica atividade física, o uso diário da máscara fez diferença – a dor de cabeça e os sintomas de rinite passaram. No entanto, é preciso se adaptar pois o uso do equipamento requer mais esforço para respirar. Ao mesmo tempo, o fôlego e o rendimento do ciclista melhoraram após a dificuldade inicial. “Meu grande medo era de assustar as pessoas na rua com a máscara escondendo meu rosto, mas elas mostravam muito interesse e curiosidade em saber do que se tratava”.

 

Saúde x Poluição

Apesar das vantagens de máscaras que protegem contra a poluição, quem não tem condições de comprá-las ou sente incômodo ao usá-las não deve considerar os fatores como impedimento para se exercitar.

 

Segundo o pneumologista, mais importante do que se munir contra a poluição é praticar exercício físico pelo menos três vezes por semana, tornando-o “crônico”. Os efeitos da má qualidade de ar são mais graves para quem faz exercícios esporadicamente, ou apenas aos finais de semana, pois não há o benefício das atividades recorrentes para compensar os prejuízos de inalar o ar poluído. 

 

Para os ciclistas de rotina e para os corredores, as vantagens de incluir frequentemente atividades físicas na agenda são maiores do que as desvantagens de fazê-las em uma atmosfera poluída. Além disso, sabe-se que academias nem sempre são acessíveis e que alinhar o deslocamento com o exercício é uma solução viável para quem tem a rotina corrida.

 

Confira as orientações do pneumologista do Incor, Ubiratan de Paula Santos, para quem se exercita ao ar livre em grandes cidades:

 

- Evite corredores de grande tráfego, ou se distancie deles em, no mínimo, 100 metros.

- Procure fazer o exercício em horários com menor tráfego de veículos.

- Lembre-se de se hidratar. A perda de água resseca as vias aéreas, comprometendo a filtragem de poluentes, especialmente em temperaturas acima de 25° C.

- Indivíduos com doenças crônicas que vão começar a se exercitar devem procurar um médico para orientá-los e, possivelmente, fazer ajustes nas medicações.

 

*Matéria sugerida pela autora como colaboração ao Mobilize Brasil 


Leia também:

Apesar da poluição, bicicleta faz bem à saúde 

Paris pode restringir circulação de carros se poluição continuar 

Paulistano deve deixar o carro na garagem se quiser reduzir poluição 


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário