Os usuários do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) do Rio, inaugurado há pouco mais de dois meses, vêm enfrentando inúmeros problemas para conseguir fazer a viagem. O maior deles: entrar nas composições, já que comprar e recarregar bilhetes também virou um calvário em dias de Olimpíada.
Máquinas fora de operação, dificuldade para depositar o dinheiro e falhas no auxílio a estrangeiros são algumas das dificuldades flagradas pela equipe de reportagem do jornal O Globo em uma ronda feita nesta terça (9) por mais de dez estações do serviço. O resultado, longas filas que se formam e atrasam o deslocamento dos passageiros. A superlotação é outro problema, assim com os calotes — ontem, grupos embarcavam sem validar as passagens.
Com o centro da cidade cheio, os trens ontem chegavam e saíam abarrotados no trecho Cinelândia-Zona Portuária, que concentra diversas atrações relacionadas aos Jogos Rio-2016. O aperto dificultava que os passageiros chegassem até as máquinas de validação, e algumas pessoas que entravam com o cartão nas mãos acabavam desistindo de alcançá-las. Outras sequer faziam menção de procurá-las, e tomavam seus lugares nos vagões sem fazer o pagamento. Usuária diária do novo modal, a publicitária Helena Albuquerque acredita que a grande movimentação agrava o problema da evasão: "Durante a semana, eu costumava ver fiscais com frequência, mas hoje eles não têm nem como circular. Deveriam ter botado mais trens, até porque o intervalo entre eles está muito longo".
Não há multas ainda
Segundo a Concessionária do VLT Carioca, ainda não há estatística quanto à evasão. Atualmente, guardas municipais circulam nos trens orientando os passageiros que não realizam o pagamento. A data para o início da aplicação de multas será divulgada pela prefeitura.
Ontem, os fiscais foram vistos pela equipe de O Globo em apenas uma das estações durante o percurso. Um dos agentes entrou na estação Santos Dumont acompanhado de um guarda municipal e percorreu a composição abordando passageiros até a terceira parada. Daí em diante, com o trem lotado, ele permaneceu num mesmo vagão, orientando os usuários que entravam a realizar o pagamento. Enquanto o fiscal circulava, de vez em quando, havia problemas: uma senhora, por exemplo, não gostou quando ele perguntou se ela tinha pagado a passagem.
Mais cedo, do lado de fora, na estação da rodoviária, uma cédula de R$ 20 do repórter não foi aceita pela máquina. A solução encontrada por uma funcionária do VLT foi trocar a nota por duas de R$ 10. O problema, segundo ela, é recorrente, e ocorreria porque o equipamento não reconhece “cédulas velhas”.
As máquinas contam com equipamento para pagamento de bilhetes com cartão de crédito, mas esta alternativa ainda não está disponível. A única forma de adquirir a passagem (que custa R$ 3,80) é à vista, e com dinheiro trocado. A operadora Riocard e a concessionária informam que pretendem implementar o uso de cartões de crédito nas próximas semanas.
No início da tarde de ontem, o sistema de operação das máquinas ficou fora do ar, forçando outra funcionária a vender bilhetes avulsos. Aqueles que já dispunham de um cartão foram obrigados a comprar outro — cada um custa R$ 3.
Há folhetos que explicam detalhadamente como recarregar os bilhetes, mas eles não são encontrados em todas as paradas do VLT. A estação da Cidade do Samba, por exemplo, não tem o material. No Santo Cristo, ocorre o contrário: o folheto é encontrado, mas as máquinas para emissão de ingressos ainda não foram instaladas.
Na outra extremidade do itinerário, no Aeroporto Santos Dumont, nenhum funcionário conseguiu atender em inglês o repórter, que se identificou como um estrangeiro. Um turista, que não falava português, acabou ajudando na compra do bilhete.
A contadora Érica Ribeiro avalia que a compra de bilhetes foi inicialmente problemática, mas melhorou. O enigma, para ela, é como ficará o serviço após os Jogos Olímpicos.
"Acredito que pode haver uma queda na qualidade quando o Rio deixar de ser o centro das atenções. Não estranharia se houvesse redução no número de trens", disse.
Um milhão de passageiros
No fim de semana, o VLT atingiu a marca de um milhão de passageiros transportados. O sistema funciona hoje com nove trens. Quando estiver em operação plena, com uma frota de 32 trens, cerca de 300 mil pessoas deverão usar o serviço diariamente, segundo estimativa da concessionária.
Ainda de acordo com a empresa, a segunda etapa de construção, que ligará a Central do Brasil à Praça XV, será iniciada ainda este ano. Testes já estão sendo realizados entre a Praça da República e a Sete de Setembro.
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