Bairro da Zona Leste de São Paulo tem taxas europeias de uso de bicicleta e 6º pior IDH

É entre muitas pedaladas que começa o dia no distrito que consegue unir o 6º pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) paulistano à mais alta colocação no uso de bikes

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: Vanessa Correa  |  Postado em: 03 de setembro de 2012

O Jardim Helena tem taxas europeias de uso de bici

O Jardim Helena tem taxas europeias de uso de bicicleta

créditos: Christian von Ameln/Folhapress

 

Não são nem 7h e uma sequência de bicicletas apressadas começa a deixar as casas de blocos de concreto da rua Cachoeira de Itaguassava. Sobre elas, pais e mães do Jardim Helena, no extremo da zona leste, levam seus filhos à escola. Há pequenos nas garupas, equilibrados nos quadros e até dentro de caixas plásticas amarradas ao bagageiro.

 

Enquanto isso, outras bicicletas levam autônomos que circulam pelo bairro com ferramentas e produtos para vender de porta em porta. Elas também transportam quem trabalha do outro lado da cidade até a estação de trem da CPTM, onde passam o dia guardadas no bicicletário.

 

 

É entre muitas pedaladas que começa o dia no distrito que consegue unir o sexto pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) paulistano à mais alta colocação no uso de bicicleta do município, sete vezes maior que a média.

 

No Jardim Helena, todos os dias 9% da população sai às ruas de "bike". Em Berlim, cidade que é referência no uso desse tipo de transporte, o percentual é de 14%. Em extensão de ciclovias, no entanto, a capital alemã é outro mundo: tem uma média de 700 metros de vias exclusivas por quilômetro quadrado contra zero do distrito da zona leste. Em São Paulo, a média é de 30 metros por quilômetro quadrado.

 

Distante das conquistas do cicloativismo, o Jardim Helena não esperou nem o "bike hype" nem as ciclofaixas para fazer da bicicleta a maior aliada dos pequenos deslocamentos. Nessa escolha, pesaram fatores como a topografia plana do bairro no vale do rio Tietê, e o baixo custo das "bikes".

 

Inaugurado em 2007 e adorado pelos usuários, o bicicletário da estação de trem está superlotado. Com 256 vagas para 1.403 usuários cadastrados, apenas quem madruga ou não trabalha na hora do rush consegue um lugar. É o caso de Gildo dos Santos, 43, segurança noturno do Museu do Ipiranga, na zona sul, que gastava 45 minutos caminhando de sua casa até a estação de trem. Depois da instalação do bicicletário, faz o trajeto de "bike" em 15 minutos.

 

Do outro lado da cidade, bicicletários como o da estação Villa-Lobos, na zona oeste, estão ociosos. Lá, são 266 vagas e apenas 60 cadastrados. A CPTM, responsável pelas estações de trem, informou que estuda a ampliação das unidades da zona leste.

 

Pronto há mais de dois anos, o projeto cicloviário que abrange o Jardim Helena e os distritos de Itaim Paulista, Itaquera e Guaianazes, todos na zona leste, nem chegou a ser licitado. O mesmo ocorre com os projetos para as zonas norte e sul. Todos faziam parte do plano de metas da gestão Gilberto Kassab (PSD) para as regiões com maior circulação de bicicletas. Sem verba alocada, os projetos acabaram substituídos, em 2011, pelas até então não programadas ciclorrotas de Mooca, Lapa e Butantã.

 

Questionada, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou que pretende fazer a licitação, mas não forneceu prazo de início.

 

A falta de uma ciclovia dificulta a vida de pessoas como o vigia Celson Francisco Pinheiro, 48, que acompanha o filho Victor, 9, até as aulas de xadrez. A dupla faz o trajeto lado a lado, cada um montado em sua respectiva "bike". "Sozinho ele não vai. Até os 18 anos, estarei na cola."

 

No Jardim Helena, são tantos pais e filhos de bicicleta que tem até "congestionamento" na porta da escola.

 

Todos os dias a atendente Adriane Alves da Silva, 31, pega esse trânsito. Às 7h, ela sai de casa com Bruno, 2, na cadeirinha, e Lincoln, 4, na garupa. Às 7h20, a ciclista já deixou o caçula na creche, o mais velho na educação infantil e guardou a "magrela" no bicicletário da CPTM para pegar o trem rumo a Itaquaquecetuba (Grande São Paulo), onde trabalha.

 

  Editoria de Arte/Folhapress  

 

 

Quando os adolescentes dão um "rolê" pelas ruas do bairro ou vão a bailes funk ao ar livre, preferem fazer isso em grupo e, claro, de "bike". Há equipes com até 50 bicicletas "tunadas" -customizadas para que sejam identificadas como parte de um grupo.

 

As da equipe Sai da Frente, por exemplo, têm quadro de Barra Forte, guidão de moto e garfo de bicicross. Esse é o "style" obrigatório, explicam Wellington Andrade Araújo, 19, e Igor Coutinho, 15. Já a cor é livre, mas os tons fluorescentes predominam.

 

O Barra Forte reina como modelo mais popular do bairro há dois anos. A julgar pela ode ao clássico dos anos 1960 -atuam por ali os grupos de jovens Barra Branca, Barra da Leste e Barra Forte-, a moda terá vida longa.

 

Entrar no time das "tunadas" exige investimento. "Já gastei quase R$ 700", conta Igor. Mas a despesa parece valer a pena. É que, no Jardim Helena, bicicleta é mais que necessidade, é estilo de vida.

 

 

  Fotos: Divulgação  

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