O trânsito melhorou um pouco no Centro, mas continuou péssimo ontem, segundo dia útil de interdição do Mergulhão da Praça 15 e das mudanças na Rio Branco.
Desde a segunda-feira, muitos cariocas atenderam aos pedidos da prefeitura de deixar o carro em casa e optaram pelo transporte público. A prova é que o metrô bateu recorde de passageiros, com 803 mil, um aumento de 16% em relação à média de dias úteis.
O secretário municipal de Transportes Carlos Roberto Osório, disse que a tendência agora é melhorar e promete diminuir a quantidade de ônibus nas ruas (apesar dos apelos para que os cariocas utilizem os ônibus).
“A gente já sabia que no primeiro dia o impacto ia ser mais severo. Agora estamos estudando rever trajetos e eliminar algumas linhas sobrepostas, mas só vamos fazer isso depois que tivermos a certeza de que o usuário do transporte público não será prejudicado”, disse, lembrando também a meta da prefeitura de reduzir em 15% o número de carros na área.
Apesar do longo congestionamento na Presidente Vargas e ruas adjacentes, com fortes reflexos nos acessos da Região Metropolitana ao Rio e da Zona Norte para o Centro, pela manhã, passageiros e motoristas contaram que gastaram menos tempo do que no dia anterior.
Um dos nós da Presidente Vargas estava no BRS da pista lateral, no sentido Candelária. Motoristas não conseguiam virar à direita na Praça da República, Avenida Passos e Rua Uruguaiana porque os ônibus bloqueavam o acesso.
Com isso, os cruzamentos ficavam trancados. Com os longos engarrafamentos, muitos passageiros desciam dos ônibus antes de seu destino. Por volta das 8h, a Presidente Vargas estava lotada de pedestres.
Especialista em Mobilidade Urbana da UFRJ, Eva Vider crê que, com a diminuição de ônibus nas ruas, o trânsito vá melhorar.
“Tem um monte de ônibus vazio no Centro. Não pode. É preciso ter ganhos operacionais”, disse, reforçando que é preciso evitar usar o carro. Os estacionamentos na região central sentiram queda no movimento.
Em um deles, na Rua dos Arcos, na Lapa, a quantidade de carros caiu à metade esta semana. Na Cinelândia, o responsável pela garagem subterrânea também assumiu a redução.
Cariocas mudam hábitos
Mesmo antes das mudanças no trânsito do Centro, implementadas no último fim de semana, muitos cariocas que tinham carros já haviam mudado os hábitos e optado pelo transporte público.
Um deles é o assistente administrativo Thiago de Oliveira, 31 anos, que trabalha em Botafogo e mora no Estácio. “Eu morava em Campo Grande, perdia até sete horas por dia atrás do volante. Aí decidi vender o carro. E estou morando mais perto. Hoje chego em apenas 30 minutos ao trabalho.”
O engenheiro Alexandre Rocha do Nascimento, 39, morava na Ilha do Governador e trabalhava no Centro. Ele decidiu fazer a conta do custo do veículo por mês. Resultado: R$ 1,2 mil.
“Aí eu decidi vender o carro e aluguei um imóvel em Copacabana. Minha qualidade de vida melhorou muito e ainda gasto menos, mesmo usando táxi de vez em quando”, comentou.
Outra opção incentivada pela prefeitura para quem mora perto do Centro é a bicicleta. Mas as três ciclovias inauguradas no domingo, do MAM à Cinelândia, Carioca e Praça 15, ainda são pouco respeitadas e usadas.
Em cerca de 15 minutos que a equipe do DIA esteve no trecho da Cinelândia, apenas duas pessoas foram vistas pedalando e diversos ônibus e carros desrespeitavam a sinalização, parando sobre a faixa. “O pior aqui é a falta de respeito com os ciclistas”, reclamou o entregador Esdras Ramos, de 20 anos.
Engarrafamentos abalam a saúde
Úlcera estomacal, duodenite, gastrite, aumento da frequência respiratória e cardíaca, cansaço permanente, irritabilidade e ao menos três tipos de patologias mentais são desencadeadas pelo estresse excessivo no trânsito.
O alerta é do especialista em Medicina de Tráfego, Dirceu Rodrigues Alves, que vê os engarrafamentos como gatilhos para alterar o comportamento metabólico e psicológico de motoristas e passageiros.
“O sofrimento é grande para quem dirige e quem é obrigado a enfrentar diariamente grandes engarrafamentos. Mas o pior caso é o de motorista de ônibus. Ele é um profissional sacrificado, numa atividade insalubre e de periculosidade. Faz muitas horas extras e mal vê a família”, analisa o médico. Alves afirma que de 13% a 17% dos motoristas de coletivos, em geral, têm alguma patologia. E dá exemplos.
“Sociopata é o motorista que faz gestos obscenos, xinga, anda colado na traseira do outro carro, acende farol alto, buzina. É capaz de saltar do ônibus e agredir, até matar, e não tem remorso, porque acha mesmo que deveria ter feito aquilo. O Transtorno Explosivo Intermitente (DEI) é o pavio curto. Se ele for fechado, vai atrás revidar, mas depois se arrepende. O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é o sujeito que desenvolve compulsão pela velocidade”, explica.
Mesmo não estando atrás de um volante, os passageiros não ficam imunes. “Não há dúvida de que o usuário está submetido à ansiedade e à tensão, capazes de produzir doenças que chamamos de auto-agressão”, destaca o especialista.
Leia também:
Tarifas de metrô, trens e barcas vão subir no RJ
Passageiros enfrentam calor de quase 40ºC em transportes do Rio
A morte do urbanismo rodoviarista: cai o viaduto carioca