Faixas de ônibus em SP: pode melhorar, mas já é um ganho

Afinal, a falta de reestruturação do transporte público compromete, ou não, a eficácia das faixas? Após um ano em operação em SP, leia a opinião de dois especialistas

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha / Mobilize Brasil  |  Postado em: 09 de maio de 2014

Faixas de ônibus já ocupam cerca de 300 km em SP

Faixas de ônibus já ocupam cerca de 300 km em SP

créditos: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

 

Desde o ano passado, a prefeitura de São Paulo vem destinando mais e mais quilômetros para faixas exclusivas de ônibus, em todas as regiões da cidade. Aprovadas por 90% dos moradores (pesquisa Ibope/ set. 2013), as faixas não são porém uma unanimidade. Há desde inconformados, como motoristas que reclamam da perda do espaço (como se as outras faixas já não continuassem exclusivas para seus autos), a críticos mais embasados, como alguns técnicos que apontam improvisação na medida como vem sendo executada pela administração.  

 

Vai por aí a crítica do engenheiro em transportes Sergio Ejzenberg, que reconhece a importância das faixas no aumento da velocidade dos ônibus, mas questiona a eficiência do modelo adotado, por estar dissociado da reestruturação do transporte como um todo. Em artigo escrito por Ejzenberg para o site da UOL em fins de abril, e reproduzido pelo Mobilize, ele afirma, sem meias palavras, que as faixas trouxeram "muito mais perda do que ganho" para a cidade.  

 

Valeu, ou não?

Já o engenheiro Eduardo Vasconcellos, diretor do Instituto Movimento e assessor técnico da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), diz que não seria tão cético. Ele comentou ao Mobilize que, mesmo assim, concorda em linhas gerais com a análise feita por Ejzenberg. "A argumentação do Sergio está correta, no sentido de que parte importante do projeto não foi feita", avalia. E explica: "Por exemplo, quando ele diz que com o aumento da velocidade passa a ser possível usar menos ônibus e eles deveriam ser retirados, para reduzir o custo geral de operação (e, no limite, reduzir a própria tarifa). Isto, no entanto, tem limites relacionados à ocupação atual dos veículos – se todos estivessem sempre lotados, não seria possível retirar veículos, mas este não é o caso em vários corredores", completa Vasconcellos. 

 

Ele só não concorda que, no processo de implantação das faixas, “não valeu nada”, como sugere o texto de seu colega engenheiro. Para Vasconcellos, deve-se levar em conta que, além do ganho de tempo, "houve um ganho de conscientização sobre o tema, que ajuda a manter a discussão acesa", enfatiza. 

 

Uma outra ressalva às faixas, assumida pela própria Prefeitura no princípio, é que seriam uma solução apenas para antecipar a construção de corredores de tipo BRT (Bus Rapid Transit), que exige obras de porte construtivo maior. Nem tanto, é a visão do assessor da ANTP: "Deve-se pensar sempre nas duas soluções". Ele diz que "seria um erro querer montar um sistema de corredores de alta qualidade, mantendo as linhas comuns e os serviços dos bairros em má condição; e seria um erro também arrumar as linhas comuns e ter apenas 'faixas exclusivas' simples, pois as dimensões do nosso sistema requerem um tratamento geral muito mais abrangente". 

 

Sua conclusão converge para o pensamento de parte considerável dos planejadores no país: "O mais importante seria conseguir um sistema todo integrado e com qualidade, em que o usuário saberia, desde sua casa (ou sua origem), qual veículo tomar e quanto tempo o percurso levará. Se este dia chegar, o uso do transporte por ônibus será muito mais utilizado", aposta Vasconcellos.

 

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