SP perdeu muito mais do que ganhou com as faixas exclusivas de ônibus

O engenheiro Sergio Ejzenberg fala, neste artigo, dos prós e contras em relação às faixas de ônibus na capital paulista

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Fonte: UOL  |  Autor: Sergio Ejzenberg*  |  Postado em: 09 de maio de 2014

Av. 23 de maio na altura do Viaduto Pedroso

Av. 23 de maio na altura do Viaduto Pedroso

créditos: Fábio Arantes/Secom-SP

 

Desde 2013 foram implantados aproximadamente 320 km de faixas exclusivas para ônibus na cidade de São Paulo (70% nas zonas sul e leste), número que não para de crescer.

 

Os ganhos disso foram o menor tempo de viagem para os passageiros de ônibus, e também o menor custo operacional do sistema, por economia de combustível e menor desgaste dos ônibus.

 

A capacidade do sistema de ônibus não aumentou, pois o sistema não foi reformulado, e não foi aumentado o número de partidas. Os ônibus chegam mais rapidamente nos terminais, e ficam mais tempo parados aguardando a hora da partida seguinte.

 

Para aumentar a eficiência e a capacidade do sistema de ônibus seria preciso muito mais do que simplesmente pintar faixas nas ruas. Seria preciso reestruturá-lo, construindo mais terminais e mais corredores, eliminando a superposição de linhas, trazendo racionalidade para o sistema.

 

Mas o setor vive pesadas incertezas. Os contratos de concessão expiraram, as empresas de ônibus estão operando com termos aditivos e sem garantias de continuarem operando no futuro próximo, e minguaram os investimentos no setor. A frota envelheceu além do admissível, e hoje mais de 10% dos ônibus do sistema estrutural têm mais de dez anos de idade, sob a complacência da Secretaria Municipal de Transportes. A frota está diminuindo, aumentando o já excessivo tempo de espera nos pontos de parada.

 

A prefeitura bem que tentou reorganizar o sistema, fazendo o secionamento de linhas, o que obriga os passageiros a trocar de ônibus, com desconforto e perda de tempo. Se a reorganização do sistema tivesse sido feita concomitantemente com a implantação das faixas exclusivas, a perda de tempo do secionamento seria compensada pela viagem mais rápida.

 

Porém o cronograma político de implantação dissociou as coisas, primeiro dando velocidade e depois tentando forçar a reorganização. Houve grita geral para não perder as vantagens existentes, e a prefeitura paralisou a reorganização.

 

Esse novo modelo aumentaria a capacidade e diminuiria os custos elevados do sistema, que em 2014 tem previsão de R$ 1,6 bilhão de subsídio, podendo facilmente estourar para perto de R$ 2 bilhões. É caro e ineficiente transportar grandes massas de pessoas por ônibus, com custo de R$ 4,13 por passageiro, ao passo que os passageiros do sistema CPTM custam R$ 2,62, e os do metrô apenas R$1,95 (Fonte: Fórum de Mobilidade Urbana do MP/SP 2013).

 

Com os ônibus envelhecendo e demorando mais para passar nos pontos, sem aumento de capacidade, o ineficiente e caro sistema pode começar a espantar seus passageiros.

 

Se os ônibus têm problemas, pior ficou o trânsito da cidade. Por efeito direto da implantação das faixas exclusivas o congestionamento médio diário na cidade no pico da tarde saltou de 372 km em 2012 para 444 km no início de 2014, uma piora de quase 20% (Fonte: Veja São Paulo/Maplink, 19/03/2014, pg. 44).

 

O modo de transporte individual na cidade de São Paulo e na região metropolitana transporta diariamente mais pessoas que o modo ônibus (Fonte: Pesquisa de Mobilidade Urbana do Metrô, de 2012), sendo portanto falacioso sustentar que em São Paulo os ônibus transportam mais pessoas que os carros.

 

Considerando que 25,2% das pessoas com renda familiar de até R$ 1244 deslocam-se de transporte individual, e 75,9% das pessoas com renda familiar superior a R$ 9330 o fazem (Fonte: Pesquisa de Mobilidade Urbana do Metrô, de 2012), o resultado econômico desse balanço é um prejuízo bilionário para a cidade em termos de quantidade e valor das horas perdidas nos congestionamentos.

 

Aumentou a velocidade dos ônibus, diminuiu a dos automóveis, e o pessoal dos carros continua não cabendo nos ônibus, e muito menos nos trens do metrô ou da CPTM.

 

O que sobrou para São Paulo? A cidade perdeu muito mais do que ganhou. A cidade, que já se desindustrializou, se torna cada vez mais um ambiente hostil para negócios e para o turismo. São Paulo está crescendo menos que outras regiões do interior do Estado e do Brasil, e começa a marcar passo, perdendo oportunidades de negócios.


* SERGIO EJZENBERG, 61 anos, é engenheiro e mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP

 

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Comentários

Anderson - 18 de Junho de 2014 às 12:05 Positivo 1 Negativo 1

Que matéria excelente, rica em informação com vários estudos. Quem dera se os redatores de outros meios de comunicação tivessem uma argumentação tão boa como esta. Me convenceu plenamente.

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