Jane's Walk 3: pedestres pedem passagem em Brasília!

Passeio guiado no sábado (19) propôs a experiência de caminhar a pé pela Asa Norte. Conclusão dos participantes: espaços não foram pensados para os pedestres

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Ana Paula Borba/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 23 de setembro de 2015

Jane's Walk BSB 3

Jane's Walk BSB: caminhos difíceis, até para a cadela Lola

créditos: Tereza Nery Sá

 

Aconteceu no sábado (19) o Jane’s Walk BSB, evento em sua 3ª edição, organizado pelo Mobilize e representado na capital federal pelos nossos colaboradores Ana Paula Borba e Uirá Lourenço*.  

 

O passeio guiado percorreu a Asa Norte de Brasília (Setor Comercial Norte e no Setor Hoteleiro Norte) e contou com a presença de 52 pessoas - e três cães, um deles a mascote Lola, presente desde a 1ª edição. O evento vem crescendo em adesão a cada edição: na primeira, compareceram 31 pessoas, na segunda 45.

 

Movimento mundial de passeios a pé, o Jane’s Walk nasceu no Canadá e hoje é realizado em mais de 100 cidades de 25 países. A proposta é experimentar a caminhada pelos espaços públicos para discutir aspectos da mobilidade urbana sustentável, na perspectiva do pedestre.

 

3º Jane’s Walk BSB 

Neste passeio por Brasília, a primeira constatação é que a maioria dos espaços não foram pensados para os pedestres: há muitas vias sem faixas de pedestres e, quando há, estão mal posicionadas ou mal dimensionadas; há poucos espaços de permanência, encontrados somente em frente aos edifícios privados; há calçadas em péssimo estado de conservação (quando há); e trajetos pouco inteligíveis aos transeuntes.

 

A conclusão dos organizadores é que os aspectos físicos adversos, presentes no trajeto da caminhada, retratam nada mais do que a ausência de visão sistêmica da mobilidade urbana. O foco está no individualismo, não no coletivo, o que desconsidera a premissa do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) de que os mais frágeis (com seus modos não motorizados) devam sempre ter preferência em relação aos mais fortes (modos motorizados).

 

Isso ficou evidente, por exemplo, na atitude (que ratifica tal foco) de um policial do  Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTRAN) que, à chegada do grupo, priorizou a passagem de veículos de luxo que saíam de um estacionamento de shopping, em detrimento da passagem dos pedestres do JW BSB. Apenas mais um exemplo do que acontece rotineiramente no trânsito das cidades brasileiras...

 

A despeito deste episódio, a caminhada foi tranquila e terminou quando o grupo chegou a uma praça ao lado de outro shopping da cidade. Nesse local, os participantes responderam a um breve questionário com suas impressões sobre o trajeto e seus dados pessoais, como descrito a seguir. 

 

Quem participou 

Dos presentes à caminhada, verificou-se que 44% utilizam com frequência o carro (enquanto motoristas) em seus deslocamentos; 20% usam o transporte público (ônibus e/ou metrô); 8% se deslocam a pé; 8% de carro (como passageiro); 2% de moto; e os demais (18%) adotam com frequência mais de um modo de deslocamento. 

 

Quando perguntados se voltariam a percorrer o trajeto do passeio, 78% dos participantes disseram que sozinhos, não. Os motivos: as áreas são desertas (16%) e sem qualidade urbana, principalmente quanto ao estado de conservação das calçadas, considerado péssimo (24%); além disso, segundo os participantes, nessas áreas da cidade, a prioridade é dada ao transporte motorizado (12%), não a quem vai a pé.

 

Lições da caminhada 

A conclusão, com base no exposto acima, é que iniciativas como o Jane’s Walk são muito importantes para os cidadãos, ainda mais se forem estudantes de Arquitetura, os futuros planejadores dos espaços das cidades. A expectativa é que o evento possa despertar nesses profissionais a atenção às questões da mobilidade urbana sustentável, fazendo com que venham a planejar espaços mais voltados a deslocamentos não motorizados. Deste modo, acredita-se, poderão contribuir para tornar cidades lugares para pessoas, não para carros.

 

*Sobre os organizadores:

Ana Paula Borba é doutora em transportes pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade de Lisboa (UL). Atualmente é professora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil do UniCEUB e pesquisadora da UnB e da UL, além de pedestre por opção.

Uirá Lourenço é ambientalista, observador da mobilidade urbana, servidor público da Câmara Legislativa do DF e usuário de bicicleta por opção.

 

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