Texto e fotos: Uirá Lourenço
Uma cidade única e apaixonante. Caminho por canteiros arborizados e aprecio corujas, curicacas, araras e até tucanos. Desde que me mudei pra cá, em 2005, a bicicleta (camelo, como se diz por aqui) é companheira fiel. Meu trajeto diário até a CLDF é quase 100% por ciclovia, zero estresse e congestionamento, muita alegria e saúde.
A cada mês, estação do ano, flores e frutos diversos. Tem o período do ipê (amarelo, roxo, rosa e branco), do pequi, da amora e da acerola. O baú de moto preso na garupa e a cestinha na frente ajudam na colheita: dá pra levar abacate, jenipapo e até jaca.
No ritmo suave ao pedalar, observo não só exemplares de paineira, guapuruvu e pau-ferro. Vejo também seres anônimos que garimpam recicláveis nas lixeiras das quadras. A pé ou de bicicleta, esses agentes ambientais percorrem grandes distâncias e movimentam a cadeia da reciclagem. As barracas e tendas que lhes servem de abrigo se espalham nos gramados próximos de prédios luxuosos.
Uma cidade de contrastes cortada por uma via expressa: carros por cima, pedestres por baixo (em condições muitas vezes indigna). O Eixão da Morte vira Eixão da Vida aos domingos e feriados. O Eixão do Lazer simboliza a Brasília com que sonho: os carros cedem passagem a uma multidão que caminha, pedala, se reúne e faz piquenique.
Aos 65 anos, a Cidade Parque nos acolhe e convida para o pedal.