Brasilia Para Pessoas

01
abril
Publicado por Brasília no dia 01 de abril de 2018

Texto e Fotos: Uirá Lourenço

 

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Ao passar pelos arredores do estádio, fiz registros do Fórum Mundial da Água com o viés da imobilidade e inacessibilidade. Desde a realização da Copa das Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016), acompanho a (i)mobilidade em eventos realizados na região.

 

Apesar das promessas de legado dos megaeventos, a exemplo do VLT, o que se vê são calçadas e ciclovias destruídas e sem continuidade, transporte coletivo precário e sem prioridade, e alta dependência do automóvel.

 

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Caos nas proximidades do estádio. Ponto de ônibus abandonado e sem uso.

 

No Fórum Mundial da Água, realizado entre 18 e 23 de março, a inacessibilidade e o caos foram nítidos e devem ter surpreendido os turistas que imaginavam uma cidade moderna. Mesmo após quase cinco anos da realização do 1º megaevento (Copa das Confederações) no bilionário estádio Mané Garrincha, o cenário é desolador.

 

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Em frente ao bilionário estádio, muitas crateras e lama.

 

Às vésperas do início do evento, notei um autêntico serviço para gringo ver: pintura do meio-fio em toda a região em volta do estádio. Os participantes do evento não teriam calçadas nem condições mínimas de acessibilidade, mas poderiam admirar o caminho pintado.

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Mutirão da pintura: serviço “pra gringo ver” no entorno do estádio.

 

Apesar do intenso movimento de pessoas a pé durante os eventos, faltam calçadas e pontos de travessia.

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Sem calçadas e sem pontos de travessia.

 

A calçada ao longo do Eixo Monumental, próxima ao estádio, ficou inacabada. Teria faltado recurso para concluir a calçada?

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Calçada inacabada, sem continuidade.

 

Na calçada em frente ao Centro de Convenções faltam rampas de acesso, o que obriga os cadeirantes a andarem na rua e evitarem a calçada.

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Ausência de rampas nas calçadas em frente ao Centro de Convenções.

 

Além da falta de rampas de acesso, há carros e bloqueios no caminho. Os próprios órgãos de fiscalização instalam bloqueios no espaço reservado aos pedestres, ou permitem o bloqueio, como um ônibus de turismo na calçada do Eixo Monumental.

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Bloqueios dificultam a passagem de pedestres.

 

Outro grande motivo de desconforto foi o calor, agravado pela grande área impermeabilizada em volta do estádio, com distâncias longas e sem sombra entre a vila cidadã, o centro de convenções e o setor hoteleiro.

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– Caminho entre o setor hoteleiro e o estádio

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A distância entre os hotéis da área central e os locais para realização de grandes eventos (estádio, centro de convenções e ginásio) é curta e favorável à caminhada. No entanto, o percurso a pé se torna uma verdadeira saga em razão das inúmeras crateras, da lama e dos carros no caminho.

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Muitas armadilhas no trajeto: buracos e lama aos turistas.

 

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Calçadas convertidas em local de circulação e estacionamento para carros, sem faixas de travessia.

 

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Rampa improvisada e deteriorada no Setor Hoteleiro. Nas travessias, faltam faixas de pedestre.

 

– Cadê o bicicletário?!

 

Apesar de se vangloriar como capital brasileira das ciclovias, falta muito para se incentivar o uso de bicicleta em Brasília. Não bastassem a falta de continuidade das ciclovias e as falhas graves de sinalização e iluminação, falta até mesmo um simples bicicletário para atender aos torcedores e participantes de eventos no estádio.

 

No dia em que visitei a Vila Cidadã, perguntei a três pessoas da organização sobre local para estacionar. A resposta foi bem clara: não tem bicicletário no evento! O jeito foi improvisar: acabei estacionando atrás da tenda armada para fazer a triagem dos resíduos sólidos.

 

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Vila Cidadã sem espaços para os cidadãos ciclistas.

 

Quando postei no facebook sobre a falta de bicicletário, outros ciclistas relataram que também precisaram improvisar na hora de estacionar. Andrea Piña relatou a experiência ao ir de bicicleta para o Fórum: “Fui com minha filha e me deparei com este absurdo! Tive que acorrentar a bicicleta no tapume e o segurança disse que ia olhar”.

 

Foto_Milvo_Bicicleta_Forum Agua_improviso_20-03-2018_3Foto enviada por Milvo Rossarola. Foto_Andrea Pina_Bicicleta_Forum Agua_improviso_22-03-2018Foto enviada por Andrea Piña.

 

É curioso observar que o espaço do antigo “bicicletário” do estádio (entre aspas, pois o espaço era inadequado: com suportes frágeis, sem cobertura e sem controle de acesso) foi convertido em mais vagas para carros.

 

???????????????????????????????No lugar do “bicicletário”, mais vagas para carros. ???????????????????????????????Mais uma bicicleta em local improvisado, no Fórum da Água.

 

Ao passar pela região e conferir a (i)mobilidade nos megaeventos, pude registrar a progressiva deterioração do “bicicletário” até se transformar oficialmente (com vagas demarcadas) em estacionamento para carros.

Bicicletario Estadio_2013-2016

 

Sem vagas para bicicletas e sem ciclovias conectadas e seguras. Nos arredores do estádio, falta conexão entre as ciclovias. No início da Asa Norte, próximo à 5ª delegacia de polícia a ciclovia dá uma volta no canteiro sem ligação com o estádio, a torre de TV ou o setor hoteleiro. Para piorar, há muitos trechos de ciclovia destruídos.

 

Em contraste com a ampla pintura de meio-fio, não houve pintura nos cruzamentos. Ao longo do Eixo Monumental os cruzamentos da ciclovia nunca foram pintados, ou estão com a pintura apagada. A falta de sinalização (pintura e placas de alerta para a passagem de ciclistas) contribui para os bloqueios constantes no caminho.

 

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 ???????????????????????????????  DSCN9222_27-03-2018_Estadio_Ciclovia_Sem Pintura_edit

No entorno do estádio, ciclovias destruídas, sem sinalização e bloqueadas.

 

– Dependência automotiva

 

As péssimas condições a quem depende do transporte coletivo, caminha e pedala contribuem para aumentar a dependência do carro. Pistas largas e amplos estacionamentos gratuitos tornam atrativa opção pelo carro para chegar ao evento.

 

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DSCN7813_20-03-2018_Forum Agua_Estadio_Carros_Estacionamento_Panoramica

Facilidade para chegar de carro: vagas gratuitas e em grande quantidade.

 

Nota-se que os megaeventos não resultaram em melhorias na mobilidade urbana e na acessibilidade. Mais uma vez, Brasília sediou um evento internacional e deixou como legado calçadas destruídas, desconexas e inacabadas; ciclovias desconexas; bicicletário convertido em vagas para carros; transporte coletivo insatisfatório, sem prioridade para circular nas seis pistas do Eixo Monumental.

 

Em manifestação registrada em janeiro deste ano na ouvidoria do GDF (disponível na seção do blog com as solicitações protocoladas), relatei os problemas de inacessibilidade no setor hoteleiro norte. Incluí 12 fotos para ilustrar os problemas e pedi providências para aumentar o conforto e a segurança dos pedestres. Se o governo tivesse atendido às solicitações, certamente os turistas deixariam Brasília com melhor impressão.

 

Espero que, um dia, o governo traga não só grandes eventos, mas também importe grandes ideias de como promover fóruns, shows e jogos com bons níveis de mobilidade e acessibilidade, com turistas caminhando sem tropeços e com legado positivo aos moradores.

 

SAIBA MAIS:

 

Brasília – imobilidade monumental a pedestres e ciclistas

Vídeo mostra bloqueios e inacessibilidade em evento realizado no Centro de Convenções em 2016.

Video_C Convencoes_Bloqueio_print screen'

 

De bicicleta no novo estádio Mané Garrincha

Vídeo revela a dificuldade de ir de bicicleta ao estádio, em jogo realizado em 2013.

Video_Estadio_De Bicicleta_Alex_print screen

 

Esplanada dos Ministérios: inacessibilidade vergonhosa em Brasília

Vídeo de 2018 revela as péssimas condições aos pedestres na Esplanada dos Ministérios.

Video_Esplanada_Humilhacao_Inacessibilidade_Fev-2018_print screen

 

Álbum completo com as imagens do Fórum da Água e do entorno do estádio

Fotos_Link_Album Completo

 



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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