Como foi o Walk 21, em Hong Kong

Silvia Cruz, do Corrida Amiga, traz um relato do evento mundial de estímulo ao caminhar urbano. Redução de velocidade é ponto básico

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 24 de outubro de 2016

Silvia Cruz no bonde (tram) double-deck de Hong Ko

Silvia Cruz no bonde (tram) double-deck de Hong Kong

créditos: Foto: Silvia Cruz


Walk21 é uma abreviatura de “Walking in XXI century”, em português, Caminhando no século 21.
Em sua 17ª edição, o evento foi realizado em Hong Kong, na China, entre os dias 3 a 7 de outubro de 2016.


O Brasil foi representado pelas ativistas Gabriella Callejas (Cidade Ativa) e Silvia Cruz (Corrida Amiga) , que foram a Hong Kong para apresentar os resultados da pesquisa Como Anda, o primeiro levantamento das organizações que trabalham pela mobilidade a pé no Brasil.


Para saber mais sobre o encontro, conversamos - por telefone - com  Sílvia Cruz, que falou sobre os resultados do evento e também sobre a experiência de caminhar na cidade chinesa.

 

O Walk 21 já está na 17ª edição. O que é exatamente este evento?

A organização foi criada no ano 2000, durante o primeiro Walk 21, em Londres. O encontro é uma reunião para troca de experiências entre organizações e ativistas de várias partes do mundo que atuam para estimular a mobilidade a pé. Neste ano, a grande questão era como unir os movimentos de todo o mundo para criar uma rede capaz de sensibilizar governos e mudar atitudes. Participaram 150 apresentações de 38 países, com quase mil pessoas.

 

E como foi a recepção ao trabalho desenvolvido no Brasil?

A apresentação do Como Anda foi muito bem recebida. Nosso trabalho se tornou uma referência, pela possibilidade de cruzar os dados para obter diferentes resultados. Pelo que vimos, não existe nada parecido em outros lugares do mundo. Existem sim inúmeras organizações que atuam com o mesmo objetivo, mas falta exatamente essa articulação internacional. Uma das poucas tentativas é a Federação Internacional de Pedestres, mas ela não  alcançou essa articulação prática entre as representações nacionais. Há inumeras plataformas com informações pelo mundo, mas não existe uma análise das organizações internacionais, o que fazem, como atuam e resultados alcançados.

 

Então, o Brasil não está atrasado na discussão sobre caminhabilidade urbana...

O levantamento Como Anda mostrou que no Brasil a maior parte das ações e organizações nasceu nos últimos anos. Então, precisamos conversar com o lado de fora, aprender com esses países. Mesmo dentro do Brasil, a maioria das organizações está em São Paulo, e que alguns poucos grupos estão se formando em outras regiões do país.

 

O que vocês aprenderam durante o Walk21?

Foi muita coisa, mas sobretudo como organizar campanhas, articulação de rede e as várias metodologias e aplicativos disponíveis hoje para avaliação da caminhabilidade. O mais importante foi ver que hoje há um consenso mundial de que é necessário reduzir a velocidade no meio urbano. Isso não se discute mais...é um dado elementar, basal.

 

E como foi a experiência de caminhar em Hong Kong?

As áreas centrais são bem tratadas, com bom infraestrutura para  pedestres, incluindo semáforos com indicações sonoras. O problema é que para chegar ao centro o pedestre tem que passar por calçadas estreitas, com buracos, barreiras e muita descontinuidade. Eu sofri muito até descobrir os caminhos sob as ruas...

 

Em galerias?

Exato. Essa rede subterrânea para mobilidade a pé funciona muito bem. A circulação é feita entre as estações do metrô, em galerias que interligam os edifícios. Essa infraestrutura foi todas construída por meio de parcerias e estímulos oferecidos pelos governos e a MTR (operadora do metrô) setor imobiliário. Dá para chegar e sair do metrô sem passar pelas ruas.

 

Eles tem problemas com o frio no inverno, como no Canadá?

Frio e muito calor, no verão. Muitas pessoas se acostumaram com essa comodidade e não querem mais sair do ar-condicionado, o que me faz pensar que não é uma solução para uma cidade saúdável.

 

 


Mas é muito ruim circular pelas ruas?

Não é só o problema das calçadas. Eu me sentia muito insegura em relação ao tráfego, que tem alta velocidade, e a falta de respeito ao pedestre. A cidade também não tem ciclovias e nenhuma infraestrutura para bicicleta, então o ambiente nas ruas é bem agressivo. Apesar disso, como expliquei, nas ruas mais centrais existe uma boa sinalização para pedestres. 

 

E você conseguiu correr - como faz no Brasil - pelas ruas de Hong Kong?

Foi difícil, mas eu descobri que existe um grupo, o Hong Kong´s Runners, e eles me ajudaram a encontrar os lugares e caminhos certos. 

 

Como foi a experiência com o transporte público da cidade?

Há uma boa rede de metrô, várias linhas de ônibus e os bondes (vlt), que são a forma mais barata de circular na cidade. A passagem do bonde custa o equivamente a R$ 1,50. Ônibus e bondes têm piso duplo, como os de Londres.

 

Algum detalhe curioso?

Escadas, muitas escadas. A Gabi (Gabriela Callejas) fez um passeio só visitando as escadarias de Hong Kong. Lá eles dizem ter a maior escadaria do mundo, com quase um quilômetro de extensão.

 


Os quatro temas principais do Wal21 2016

1) Walking Between Layers (Caminhando entre camadas): criando umambiente caminhável em cidades verticalizadas 

2) Walking with Multiple Benefits: (Caminhando com Múltiplos Benefícios): criando uma era de ambientes amigáveis, seguros, de baixo carbono

3) Walking Smart (Caminhando com inteligência): usando informação e tecnologia para apoiar a caminhada

4) Walking Together (Caminhando junto): organizando parcerias em diálogo com os gestores públicos, lideranças de bairro e empresariais 

 

Walk 21 2017
O Walk 21 de 2017 será realizado em Calgary, no Canadá, entre os dias 20  e 22 de Setembro. 

 

Links

http://comoanda.org.br/

http://www.cidadeativa.org.br/

http://corridaamiga.org/

http://www.walk21.com/


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