Conheça as propostas de mobilidade dos candidatos no Recife

Transporte hidroviário no Capibaribe está presente em vários programas, mas sem grandes detalhes. Ciclovias e calçadas também são citadas

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marilia Hildebrand / Mobilize Brasil  |  Postado em: 10 de novembro de 2020

Capibaribe, uma opção de transporte hidroviário

Capibaribe, uma opção de transporte hidroviário?

créditos: Foto: Abdias Junior/Wikimedia Commons


Os programas das cinco candidaturas que lideram as pesquisas para as eleições no Recife incluem, de alguma forma, ideias para a mobilidade urbana na capital na capital pernambucana, incluindo a sonhada navegabilidade do rio Capibaribe.
 
Mas, numa leitura mais atenta aos programas registrados por Abelardo Feitosa (PSC), João Campos (PSB), José Mendonça Filho (DEM), Marília Arraes (PT) e Patrícia Domingos (Podemos ) no TSE , notam-se algumas ideias interessantes ao lado de propostas muitas vezes contraditórias, superficiais, ou planos que acabam reiterando a supremacia do carro particular nas ruas da cidade.


Ao apresentar as questões do eixo urbano no seu plano, Abelardo Feitosa chama atenção para os "problemáticos serviços urbanos", pontuando o aspecto do  transporte ao mencionar a 10ª posição que Recife ocupa no ranking mundial de trânsito mais lento, entre assuntos como déficit de saneamento básico e habitação. Desta forma, parece mirar nos congestionamentos e sugere maior interesse pela fluidez do tráfego motorizado. Apesar disso, o texto especifica algumas ações no campo da mobilidade sustentável e que incentivam a utilização do transporte público. Por exemplo, ao comprometer-se com a instituição de bilhete único temporal, ampliação da frota de transporte público existente, garantia a segurança dos passageiros e da qualidade do serviço prestado, e aumento linhas disponíveis, incluindo linhas diretas.

 

Mas esse protagonismo do transporte público frente ao uso do automóvel, é posto em xeque quando, em seguida, o candidato diz que vai "autorizar o trânsito de transportes alternativos como táxis e carros por aplicativos nas faixas azuis", até então, preferenciais para ônibus. Outro aceno aos eleitores motoristas é a proposta de rever o sistema de fiscalização de trânsito, visando a flexibilizar o controle por radares de velocidade sob a justificativa de “acabar com a indústria da multa”, o que pode significar um aumento de riscos para pedestres, ciclistas e motociclistas. Como aparente compensação, o candidato propõe campanhas educativas permanentes, para "conscientizar e prevenir acidentes no trânsito".


Aos pedestres e ciclistas, Feitosa aposta na requalificação dos passeios públicos e calçadas, além do reconhecimento da bicicleta como meio de transporte, mencionando um compromisso com a ampliação das ciclovias, com rotas que liguem grandes corredores, mas que também atendam aos bairros. Abelardo Feitosa também defende maior acessibilidade no sistema de transporte e reivindica a competência para executar o projeto de navegabilidade do rio Capiberibe, dentre outras medidas de gestão de tráfego de veículos, como a inversão no sentido de tráfego de ruas e restrições de horários para circulação e estacionamentos de veículos de grande porte na zona urbana da cidade em determinados horários.


Os programas de governo das candidaturas de João Campos e de Marília Arraes se assemelham em sua estrutura e tratamento do tema da mobilidade. Os dois candidatos ficam apenas no plano de diretrizes e nomeação de eixos de atuação e de interesse. E ambos destacam a mobilidade sustentável como um dos aspectos relevantes a serem considerados na futura gestão.


No programa de Campos
, a mobilidade está situada no Eixo III - Cidade Humanizada: cidade das pessoas, título que já anuncia a inversão de prioridades no espaço viário que almeja colocar em curso, privilegiando o transporte coletivo, pedestres e ciclistas. O candidato pontua que a gestão da mobilidade também deve ser observada, vinculando diretamente à figura do prefeito as ações de mobilidade ativa e transporte público, para garantir maior efetividade, urgência e amplitude das medidas. No entanto, seu engajamento com a agenda da mobilidade se encerra aí, de forma bastante genérica, já que não especifica como pretende materializar tais ideias na cidade.


O texto de Marília Arraes
também traz disposições muito abrangentes, ainda que afirme a priorização do transporte coletivo. Defende "um sistema viário seguro e equitativo como forma de garantir acessibilidade de todos os cidadãos aos demais serviços urbanos. Acrescenta que tal favorecimento se dará através da organização e investimentos no sistema viário devem privilegiar a circulação do transporte coletivo e a segurança dos ciclistas e dos pedestres, porém não pormenoriza em que medidas serão aplicados os recursos.

 

João Campos e Marília Arraes mencionam a busca na redução dos gases de efeito estufa, mas sem vinculá-la ao sistema de mobilidade. Também mostram estar comprometidos com a participação popular e citam, pontualmente, aspectos que podem ser interpretados como uma tendência de promoção de uma gestão transversal: Marília Arraes, de forma vaga, já que este consta apenas com um princípio amplo de seu plano; e João Campos, de modo mais específico e comprometido, uma vez que pontua alguns objetivos da política urbana que vão se relacionar diretamente com a mobilidade.

 

O candidato José Mendonça Filho afirma "priorizar efetivamente o transporte coletivo", mas por outro lado, assim como Cel. Feitosa, aposta em soluções contaminadas por um certo ideário carrocrata, como a promessa de “acabar com a indústria da multa” e buscar alternativas para pontos de alto congestionamento como “desenvolver projeto de triplicação de pistas”. Também sugere a redução da mortalidade no trânsito, mas por meio de campanhas educativas direcionadas aos motociclistas, pedestres e ciclistas, justamente os mais vulneráveis e já tão penalizados pela falta de equilíbrio frente aos condutores de automóveis. Outro ponto semelhante entre os dois está no compromisso em executar as ações de responsabilidade municipal do plano de navegabilidade do rio Capibaribe, e cobrar das autoridades competentes a retomada do projeto.


Em contrapartida, Mendonça Filho se compromete a promover "intervenções multimodais", visando a melhorar os deslocamentos entre bairros e municípios da Região Metropolitana, e também com "programas de recuperação de calçadas e sinalização do espaço urbano, observando a questão da acessibilidade nos passeios públicos". Fala também em viabilizar a governança da gestão da mobilidade da metrópole, amparada no Plano de Transporte da Região Metropolitana do Recife, a ser elaborado com a participação de todos os municípios que a compõem. O texto de Mendonça Filho aborda a questão ambiental das emissões, mas não as vincula com o setor de transporte. E, mais uma vez, de modo correlato ao candidato Abelardo Feitosa, cita vagamente alguns critérios de transparência, mas não de participação social.


Patrícia Domingos é bastante sintética ao apresentar seu programa de governo. Fala em ações para a melhoria da qualidade de vida na cidade e sugere que essa promoção será feita a partir de uma série de políticas de transporte urbano, moradia e segurança urbana”. Para tanto, no campo do transporte e da mobilidade, o programa assume que adotará “um cuidado especial com o primeiro degrau da cidadania, que são as calçadas, que precisam estar adequadas também às pessoas com deficiência, e investirá na gestão do transporte público, com uma regulamentação criteriosa, que confira mais segurança e conforto aos usuários dos seus diversos modais.” E afirma a necessidade em investir no transporte público e nas ciclofaixas e ciclovias.


Em relação ao transporte público, Patrícia Domingos fala em gestão e regulamentação próprias para o serviço, em razão do encerramento da concessão até então vigente, "buscando a sustentabilidade financeira, mas respeitando a segurança e conforto dos usuários". No entanto, a candidata não aponta de onde virão os recursos para tal. Ela também não menciona mecanismos participativos ou especificações que permitam uma compreensão mais ampla e transversal do papel que teria a mobilidade em seu governo.


Transporte hidroviário
Os projetos mais sedutores gerados pelos urbanistas do Recife nas últimas décadas envolvem a conservação do rio Capibaribe, com a possibilidade de usar suas águas para o transporte de cargas e de passageiros. Assim, é natural e desejável que os programas dos candidatos à Prefeitura da cidade voltem seus olhos para o rio e suas margens. Abelardo Feitosa (PSC), Carlos Andrade (PSL), Claudia Ribeiro (PSTU), Marco Aurélio (PRTB), Mendonça Filho (DEM) e Thiago Santos (UP) incluíram alguma menção do transporte hidroviário em seus programas, mas sem avançar em detalhes ou propostas concretas.


Por fim, uma advertência ao eleitor:
programas são apenas programas. Podem ser esquecidos tão logo os eleitos assumam seus cargos nas prefeituras. Afinal, a Lei 9.504/97 , que regula as eleições, obriga os candidatos a apresentarem programas à Justiça Eleitoral, mas não estabelece nenhuma penalidade, caso o eleito não seja fiel ao que prometeu ao eleitorado. 

 

Clique, amplie e veja as posições do candidatos sobre mobilidade urbana:

 

Veja os programas de todos os candidatos à Prefeitura de Recife:

Carlos de Andrade Lima (PSL)
Charbel Elias Maroun (Novo)
Cláudia Ribeiro (PSTU)
Alberto Feitosa (PSC)
Patricia Domingos (Podemos)
João Campos (PSB)
Marco Aurelio (PRTB)
Marilia Arraes (PT)
José Mendonça Filho (DEM)
Thiago Santos (UP)
Victor Assis (PCO)

 

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