Espírito Santo teve 15 mortes de ciclistas em apenas três meses

Número é metade do registrado em todo o ano de 2020. Mês mais violento neste ano foi março, quando oito ciclistas morreram em sinistros de trânsito em cidades do estado

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Fonte: A Gazeta  |  Autor: Aline Nunes/ A Gazeta  |  Postado em: 20 de abril de 2022

Protesto ontem (19) em Vitória pela morte da cicli

Protesto ontem (19) em Vitória pela morte da ciclista Luísa

créditos: Gabriela Valdetaro/TV Vitória

A violência do trânsito em ruas e avenidas do estado do ES deixa todos os anos centenas de mortos e famílias desesperadas. Num recorte dessa tragédia diária, ciclistas são vítimas frequentes. Em apenas três meses de 2022, já são 15 mortos.

 

O número é equivalente à metade do que foi contabilizado ao longo de todo o ano de 2020 e representa 10% dos acidentes envolvendo bicicletas. E nesses indicadores ainda não aparece o caso da modelo Luísa Lopes, de 24 anos, agora em abril, e que vem despertando muita comoção após ser atropelada e morta na Avenida Dante Michelini, em Vitória.

 

Dados do Observatório de Segurança Pública indicam que, até o momento, o mês mais violento para ciclistas no Espírito Santo foi março, quando oito morreram em acidentes. Em janeiro foram cinco e, em fevereiro, dois. Mas não são apenas números e entre as vítimas está Anderson Oliveira, de 41 anos, atropelado e morto no mês passado, próximo à Curva da Jurema, em Vitória, por um motorista que estava com a habilitação cassada havia quatro anos.

 

Em 2020, o primeiro trimestre registrou quatro casos e, durante o ano todo, 31 mortes de ciclistas. No ano passado, a violência aumentou e 2021 terminou com o registro de 58 óbitos. 

 

Os acidentes nem sempre resultam em morte, mas podem ser graves e exigir internação. O Samu, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), já atendeu mais de 600 ocorrências neste ano com ciclistas e, nos dois primeiros meses, 29 precisaram ser hospitalizados.

 

Legislação

Diretora técnica do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Édina de Almeida Poleto afirma que todos têm um papel no trânsito, seja como motorista, ciclista, pedestre, seja na condução de qualquer outro veículo. E para exercer bem essa função é preciso estar atento à legislação, naturalmente, mas também ter um olhar cuidadoso para o outro.

 

Ela observa que os ciclistas estão entre os mais vulneráveis nesse cenário porque o corpo está exposto e qualquer acidente pode ter consequências sérias, deixar a vida em risco. “No trânsito do dia a dia, falta sensibilidade. Independentemente do papel que se esteja cumprindo, é preciso levar em consideração que ao lado está a vida de um pai, uma mãe, um irmão, um amigo; é alguém que amamos que está circulando no trânsito”, ressalta.

 

Édina também chama atenção para o fato de que, quando há ocorrências como a de Luísa Lopes, discute-se muito os acidentes e mortes registrados, mas as pessoas nem sempre se preocupam em como fazer para evitar novas ocorrências. 

 

A diretora do Detran cita como exemplo a mudança recente na legislação de trânsito referente aos ciclistas. Os motoristas quando se aproximam de uma pessoa de bicicleta, além de manter a distância mínima de 1,5 metro, agora precisam reduzir ainda mais a velocidade — menor do que está estabelecido para a via em que está transitando — mas essa norma nem sempre é colocada em prática.

 

Da parte dos ciclistas, Édina lembra que também há regras a serem cumpridas, como trafegar no sentido da pista, caso não tenha ciclovias e ciclofaixas na via em que está circulando, ter equipamento sonoro e usar sinalização noturna refletiva. Capacete, colete, luzes adicionais não são obrigatórios, mas recomendados para aumentar a segurança.

 

Para a diretora do Detran, casos como o da Luísa devem servir para levar à reflexão e mudança de comportamento de todos que estão no trânsito, de respeito às regras e ao próximo. “E o ciclista, neste caso em particular, não deve ser visto como um obstáculo, é mais um ator no trânsito e tem direitos como qualquer outra pessoa”, conclui.

 

Ciclovias

A melhor infraestrutura das vias é um componente que garante mais segurança no trânsito. Para os ciclistas, nem sempre há espaço adequado para circulação. Na Grande Vitória, a responsabilidade por ciclovias e ciclofaixas é dos municípios. 

 

Em Vitória, a Secretaria Municipal de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana (Setran) informa, em nota, que realiza ações de conscientização junto a ciclistas, pedestres e motoristas para trânsito e convivência seguros nas vias públicas.

 

Quanto à infraestrutura atual, a Setran aponta que a malha cicloviária de Vitória é composta por 70,71 km de extensão e conta com ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, além das calçadas compartilhadas, e novas maneiras de conexão entre esses espaços estão em estudo.

 

“O Plano Vitória inclui a construção de novas ciclovias e melhorias das existentes, que formarão um anel cicloviário na capital, ação que permitirá o deslocamento de bicicletas de qualquer ponto da cidade”, diz um trecho da nota.

 

A Setran afirma ainda que, só de novas ciclovias, serão cerca de 15 km em Vitória. Entre as intervenções, estão a complementação e melhorias da ciclovia no trecho que se estende do Centro Esportivo Tancredo de Almeida Neves (Tancredão), próximo ao marco zero da BR 262, no bairro Mário Cypreste, até a Praça dos Namorados, na Praia do Canto, região que abriga parques e quadras de esportes ao ar livre, com quase nove quilômetros. A intervenção cruzará importantes avenidas, entre elas Nossa Senhora dos Navegantes, Marechal Mascarenhas de Moraes (Beira-Mar) e Getúlio Vargas, corredores viários de alto fluxo de veículos.

 

“Outras importantes avenidas da cidade serão contempladas com a implantação de ciclovias, entre elas Marechal Campos e Rio Branco, na região continental da cidade. A Orla Noroeste também receberá ciclovia”, finaliza a nota.

 

Em Cariacica, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente (Semdec) informa, também em nota, que, atualmente a malha cicloviária de Cariacica é de 21 km, localizados ao longo das rodovias José Sette, Leste-Oeste, BR 101, BR (faixa compartilhada com pedestres), avenida Alice Coutinho e avenida Vale do Rio Doce (Orla de Cariacica). O órgão não revela, entretanto, o plano de expansão.

 

Em Vila Velha, há 58,8 km de ciclovia. Com as novas obras de urbanização, segundo informa a prefeitura em nota, o município vai passar a ter 62,1 km, ainda este ano. A cidade está em obras para construção de novas ciclovias em Cidade da Barra e São Conrado. Também foram iniciadas a construção de ciclovias na avenida Gaivotas no bairro Pontal das Garças e avenidas Sempre Viva e União, no bairro Darly Santos.

 

Ainda conforme dados da prefeitura, a Secretaria de Obras, Planejamento e Projetos Estruturantes está preparando o processo de contratação de empresa para elaborar o projeto executivo de expansão da ciclovia na orla da cidade, ligando a Praia de Itaparica à Nova Ponta da Fruta, em um total de 19 novos quilômetros. O município possui 8 km de ciclovia entre as praias da Costa e Itaparica. Com o novo projeto, Vila Velha alcançará 27 km de ciclovia na orla – A maior ciclovia do Espírito Santo.

 

Serra não informou sobre a infraestrutura cicloviária do município.

 

Obs. do Mobilize: Estudo feito pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) revelou aumento alarmante no número de sinistros envolvendo ciclistas nos primeiros cinco meses de 2021. Na comparação com o mesmo período de 2020, as ocorrências subiram 30%. Clique aqui no site da Abramet, e confira mais dados sobre esse levantamento.

 

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