Muitas cidades brasileiras são cortadas por trilhos de ferrovias desativadas, abandonadas, que acabam se tornando depósitos de lixo e entulho. São resíduos urbanos que se tornam locais indesejados, escuros, tristes e perigosos. Era assim na cidade de Arapiraca, no agreste alagoano.
Em 2012, a Prefeitura local chegou a planejar a negociar a implantação de veículos leves sobre trilhos (VLTs) sobre a antiga ferrovia que corta a cidade. A ideia não prosperou, mas reeleito, em 2021 o prefeito Luciano Barbosa (MDB) decidiu colocar em prática uma proposta mais audaciosa: criar um parque linear ao longo da via férrea. Para isso, pediu um projeto à equipe da arquiteta e urbanista Katiane Duarte, que atuava na Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Arapiraca.
Nasceu assim o projeto da Ciclovia do Trabalhador, premiado na categoria Urban Mobility no evento SmartCity Expo Curitiba. Atual superintendente de Transporte e Tráfego da cidade, Katiane Duarte esteve presente ao evento SmartCity Expo Curitiba, onde o projeto foi premiado na categoria Urban Mobility. Lá, na sexta-feira, 22 de março, ela concedeu esta rápida entrevista, na qual explica detalhes da proposta e de sua implantação gradativa em Arapiraca.
Como surgiu a ideia de aproveitar o leito da via férrea?
A ferrovia corta o município transversalmente, de norte a sul, ao longo de dezesseis bairros. Eu vislumbrava um grande potencial de transformação daquela faixa, mas era necessário que um gestor público assumisse essa missão. Existia uma proposta desenvolvida pelo Universidade Federal de Alagoas - que tem um campus em Arapiraca -, mas esse trabalho era mais voltado aos problemas de saúde, de estímulo à atividade física. O prefeito abraçou a ideia e em 2021 convidou os arquitetos da nossa Secretaria a desenvolver um projeto executivo, porque ele queria realizar a obra.
A proposta da ciclovia nasceu deste projeto executivo?
No início do projeto nós fomos visitar a cidade de Medellin, na Colômbia, para conhecer os parques, bibliotecas e centros culturais que foram implantados ao longo das ciclovias e de outras infraestruturas de mobilidade. Queríamos conhecer as soluções que transformaram aquela cidade e tentar aplicar essas propostas em Arapiraca. A idealização já existia, com a ciclovia, a calçada e um espaço verde para proteção das pessoas, porque estamos quase na região do semi-árido e temos um clima muito quente. Então, para que a ciclovia pudesse ser utilizada era necessário implantar uma arborização de sombreamento. Nas bordas da calçada e da ciclovia nós implantamos canteiros com árvores, inclusive aproveitando as árvores já existentes. A ideia é que as pessoas possam circular pela ciclovia, de norte a sul, protegidas pela sombra das árvores. Além disso, nós incluímos uma iluminação especial para a ciclovia, de forma a torná-la um espaço seguro.
Como a ciclovia foi recebida pela cidade?
Todas as pessoas ficaram encantadas com os espaços que criamos ao longo da ferrovia.Eram lugares hostis, que segregavam os moradores, impediam a circulação dos pedestres. No primeiro trecho que construímos, ainda antes da inauguração nós vimos um rapaz passeando com uma senhora idosa em cadeira de rodas. Então, sempre que víamos algo assim nos emocionávamos porque notávamos que havia uma enorme necessidade de espaços para o lazer. Hoje, com a maior frequência das pessoas, o lugar passa muita segurança. E cada vez que inauguramos um novo trecho, quase imediatamente as pessoas passam usá-lo para lazer ou para o transporte.
Quantos quilômetros já tem a obra?
Hoje são quase dois quilômetros e meio, mas a perspectiva é de seguir até atingir os oito quilômetros. A ciclovia vai ligar duas rodovias e nós temos a intenção de estendê-la para outros bairros mais periféricos. Nós vislumbramos que a ciclovia seja um espaço para o transporte, para a mobilidade das pessoas. Nós estamos planejando também a implantação de bicicletários para permitir que as pessoas possam parar as bicicletas com segurança.
Por fim, há algum plano de utilizar os trilhos para o transporte?
Sim. O prefeito continua trabalhando para a criação de um sistema de veículos leves sobre trilhos ao longo desses quilômetros de via férrea que cortam a cidade.
Corredor é utilizado para o lazer e transporte dos moradores Foto: Tony Medeiros
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