Belém: bikes (muitas!), COP 30 e mobilidade

Uirá Lourenço (Brasília para Pessoas) visita sua cidade natal e presencia até congestionamento de bicicletas, como na Holanda. Mas falta um olhar mais atento às ciclovias

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Fonte: Brasília para Pessoas  |  Autor: Uirá Lourenço  |  Postado em: 12 de junho de 2025

Ciclista espremido entre os carros. Falta ciclovia

Ciclista espremido entre os carros. Falta ciclovia em Belém

créditos: Uirá Lourenço

A rica cultura da bicicleta enche os olhos em Belém do Pará... Muita gente usa o pedal no dia a dia como meio de transporte. Lembra a Holanda, mas com o calor bem amazônico. No início da manhã e no final de tarde algumas ciclofaixas têm até congestionamento! 

 

Neste ano a capital paraense vai sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30. E gostaria muito que as autoridades aproveitassem para investir em infraestrutura para os ciclistas. Algumas ruas e avenidas têm ciclovia ou ciclofaixa, mas a maioria não tem qualquer espaço seguro.

 

Logo cedo, bicicletas enchem as ruas dos Mundurucus e José Bonifácio Foto: Uirá Lourenço

 

Avenidas largas e arborizadas poderiam facilmente acomodar uma ciclofaixa (e faixa exclusiva para os ônibus), a exemplo da Gentil Bitencourt e da Magalhães Barata. Os ciclistas se espremem na lateral da pista e disputam espaço com carros e motos. Aliás, as motos (e o serviço de mototáxi) proliferam, inclusive nas ciclofaixas, nas calçadas e na contramão. Muitas vezes o capacete não é usado pelo condutor e por passageiros (a moto carrega dois ou mais passageiros!).

 

Mobilidade a pé

As calçadas também merecem investimento do governo. Há crateras por todo lado e é comum ver carros estacionados no lugar exclusivo do pedestre. A falta de rampas e os desníveis entre a calçada e a pista também dificultam o percurso dos caminhantes.

 

Crateras abertas em calçadas de Belém Foto: Uirá Lourenço

 

Não andei de ônibus dessa vez, mas é visível que o transporte coletivo precisa de melhorias. Vi que tem ‘Geladão’ circulando (ônibus com ar-condicionado), mas faltam faixas exclusivas e corredores de ônibus, além de abrigos e informações nos pontos de embarque. O projeto de BRT (sistema rápido por ônibus) parece ainda precário e incompleto, após tantos anos de promessas e obras.

 

Viadutos para carros x transporte coletivo

 

Faixa do governo anuncia novos viadutos na BR-316 Foto: Uirá Lourenço

 

Infelizmente, quanto à mobilidade urbana, não dá para nutrir muita esperança. Pelas notícias que acompanhei, em relação às obras da COP vem mais do mesmo: mais pistas para carros e viadutos para escoar a grande frota de automóveis. Ao passar pela rodovia de acesso a Belém (BR-316), vi a frase do governo destacando os novos viadutos. Na verdade, viadutos acabam sendo atalhos para novos congestionamentos, formados pelo contínuo aumento de carros em circulação. 

 

Este mês li uma reportagem do portal G1 que menciona a construção de cinco viadutos na região metropolitana, quatro já entregues. E uma nova via com extensão de 13 km, chamada de avenida Liberdade, que vai cortar uma extensa área de floresta amazônica (conforme matéria da BBC sobre os impactos da nova via). 

 

Espero que pelo menos em saneamento básico se observem mudanças significativas, já que foram anunciados investimentos nessa área. Vale lembrar que 80% da população em Belém não conta com tratamento de esgoto!

 

Ainda sobre a mobilidade urbana, uma ideia talvez fosse aproveitar a COP 30 para levar o VLT (Veículo Leve sobre Trilho) para Belém, a exemplo do que aconteceu no Rio de Janeiro nas Olimpíadas de 2016. A cidade merece um transporte limpo e moderno, que ajudaria a desafogar as vias congestionadas e resgataria o bonde elétrico que um dia por lá circulou. Uma simulação feita por inteligência artificial em abril, divulgada pelo grupo Amazônia Urbana, mostra  como ficaria a área do Ver-o-Peso com VLT, sem carros e com espaço para ciclistas.

 

 Exemplo de transporte moderno e sustentável Fonte: Amazônia Urbana/ Reprodução

 

Quem sabe ainda dá tempo de rever as prioridades de investimento e algumas ciclovias se tornam realidade nas avenidas belenenses. 

 

Sempre que posso volto à terra natal, não só para degustar a maniçoba e o açaí, mas também para apreciar a rica cultura da bicicleta, que leva de tudo: crianças e adultos na garupa, lanche e muita carga. Belém é pai d’égua!


 

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