Urbanized, por Enrique Peñalosa

Leia a transcrição do documentário "Urbanized", de Gary Hustwit, realizada por Cristian Contreras, com Enrique Peñalosa - ex-prefeito da cidade de Bogotá, Colômbia

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Fonte: Blog Ensaios Fragmentados  |  Autor: Enrique Peñalosa  |  Postado em: 11 de junho de 2012

Assista ao documentário de Gary Hustwit

Filme de Gary Hustwit aborda cidades como Bogotá

créditos: Divulgação

Publicado em dezembro no Blog Ensaios Fragmentados, o documentário de Gary Hustwit, "Urbanized" (veja o trailer), retrata o ambiente urbano das cidades e seus problemas - espaços públicos, mobilidade, preocupações ambientais, entre outros.

 

Abaixo, uma transcrição, realizada por Cristian Contreras, do documentário, com o depoimento de Enrique Peñalosa - ex-prefeito da cidade de Bogotá, Colômbia:

 

“Muitas coisas das cidades são intuitivas. Por exemplo, parecia que, ao fazer autopistas, vias maiores (mais amplas) ou vias elevadas, resolveríamos o congestionamento veicular. E, na verdade, nunca foi o caso, porque o que cria o tráfego não é o número de veículos, mas sim o número de viagens e a duração destas. Logo, quanto mais pistas forem construídas, pior será o tráfego.

 

A única maneira de solucionar o congestionamento veicular é restringir o uso do automóvel, e a forma mais óbvia de restringir este uso é restringir o estacionamento.

 

Tendemos a imaginar o ato de estacionar como um direito, quase como um direito fundamental que deveria estar incluído na carta das Nações Unidas. Na nossa constituição temos muitos direitos: o direito à habitação, à educação, à saúde, mas não encontramos o direito a estacionar. Nunca conheci uma lei que inclua este direito. Se tu perguntas: Onde devo estacionar? O prefeito te poderia dizer que é como se perguntasse onde deve colocar tua comida ou tua roupa - este não é um problema do governo local.

 

Antes de ser prefeito, nunca havia conhecido uma cidade que se odiava mais do que Bogotá. Havia uma total falta de autoestima e de esperança. Então, quando fui eleito, começamos a investir nas pessoas, em trilhas e parques, em criar escolas, bibliotecas. E também criamos um sistema de transporte baseado no ônibus.

 

Copiamos o sistema de transporte de Curitiba, uma cidade brasileira, e o nomeamos Transmilênio. Demos este nome, Transmilênio, porque os ônibus, na maioria dos lugares, têm um estigma, uma má imagem, de ser algo para os pobres; então, tivemos que elevar o status desses veículos.

 

O sistema de transporte Transmilênio, na realidade, funciona mais como um sistema de metrô sobre rodas do que como um sistema de ônibus tradicional.

 

Os ônibus circulam por vias exclusivas, a gente paga quando entra na estação, quando os ônibus chegam, as portas desta e as do ônibus se abrem simultaneamente, podem descer e subir 100 passageiros em questão de segundos. Muita gente agora salva até duas horas diárias, porque antes, no sistema antigo circulavam no congestionamento veicular, e agora podem ir de um extremo ao outro muito rapidamente (pelas vias exclusivas).

Um ônibus com 100 passageiros tem direito a 100 vezes mais espaço que um veículo com um passageiro.

 

Pelo mesmo custo com o qual poderíamos ter construído 25 km de metrô subterrâneo, construímos 400 km de Transmilênio. Este sistema além de mais flexível, as cidades mais jovens, não possuem um centro tão definido e seu centro poderia mudar, logo, se construir uma infraestrutura extremamente cara, como é uma linha de metrô, poderias se deparar com um novo centro, em questão de 20 ou 30 anos, em outro lugar, a algo que a linha de metrô não chega.

 

O sistema também é um poderoso símbolo de democracia, o primeiro artigo em toda a constituição, diz que todos os cidadãos são iguais ante a lei, e isto não é mera poesia, significa, por exemplo, que um ônibus com cem passageiros, possui direito a cem vezes mais espaço nas vias que um veículo que leva apenas um. Isto é a democracia trabalhando.

 

Agora estamos numa rede de vias de 24 km exclusiva para bicicletas e pedestres, em bairros de baixa renda, que os conectam com bairros mais ricos, creio que é uma revolução na maneira como funciona a vida urbana. Este tipo de infraestrutura de alta qualidade para bicicletas aumenta o status social dos ciclistas. Antes de implantarmos as ciclovias, as pessoas de baixa renda sentiam vergonha de utilizar a bicicleta, agora, com uma infraestrutura de alta qualidade e protegida, exclusiva para isto, nos mostra que um cidadão em uma bicicleta de 30 dólares é de igual importância que outro num carro de 30000 dólares.

 

Podem ser vistas situações interessantes, como que em alguns lugares, ciclistas e pedestres possuem vias pavimentadas e os automóveis circulam pelo barro, a prioridade é com os primeiros e logo, mais tarde, em algum momento o faremos com os automóveis, mas primeiro ciclistas e pedestres, isto é uma mostra de respeito pela dignidade humana, por todos, não somente pelo os que possuem automóveis, aqueles que sempre tendem a se considerar os mais importantes nos países em desenvolvimento, de novo, isto é a democracia trabalhando.”

 

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