Arquiteta de Brasília afirma que sinalização no DF prioriza os motorizados

Colaboradora da campanha Sinalize!, Paula Barros diz que a cidade foi planejada para o carro, e a solução seria investir em segurança e informação aos não-motorizados

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa / Mobilize  |  Postado em: 14 de agosto de 2014

Arquiteta Paula Barros: quase 40 avaliações ao Sin

Arquiteta Paula: quase 40 avaliações para o Sinalize!

créditos: Arquivo pessoal

 

O ranking das 13 capitais brasileiras mais avaliadas na campanha Sinalize! foi divulgado ontem (12) pelo Mobilize. Para este trabalho, além de parceiros do portal, foi fundamental a ajuda de colaboradores que voluntariamente percorreram ruas, praças, pontos de ônibus, ciclovias e ciclofaixas de suas cidades, checando o estado da sinalização, postando fotos e fazendo comentários na página da campanha. 

 

Uma das mais ativas colaboradoras, a arquiteta Paula Borges Gonçalves Barros, juntamente com outros moradores da cidade, fez várias avaliações. No final, a capital federal ficou com a 7ª posição no ranking, e nota não acima de 2,5. Paulinha trouxe quase 40 avaliações da sinalização para ciclistas, pedestres e no transporte público do DF. 

 

Nesta entrevista ao Mobilize, a moça fala como resolveu participar da campanha e diz que é convicta de "cada um deve fazer a sua parte para o bem da sociedade". Leia a seguir: 

 

Por que decidiu participar da campanha Sinalize?

Após terminar a minha tese de doutorado (sobre mobilidade urbana com foco nos pedestres), decidi que deveria ajudar a sociedade com ações práticas e não ficar restrita ao meio acadêmico. Foi quando soube da campanha, por meio de um amigo (Uirá Lourenço, parceiro do Mobilize), e que me convidou a participar. Como acredito na causa, e como disse, cada um deve fazer a sua parte para o bem da sociedade, decidi participar.

 

Você é uma especialista em mobilidade urbana?

Fiz a graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade da Amazônia (Unama), em Belém do Pará, onde nasci em 1977. Acredito que para alcançarmos um mundo melhor, cada um deve fazer a sua parte, assim como as formigas que agem não pelo bem próprio (individual), mas sim pelo bem da sua colônia (coletivo). O meu interesse por mobilidade começou ainda na graduação, ao fazer os projetos das disciplinas de Urbanismo, como por exemplo a requalificação de um bairro. Sempre conversava com a equipe de colegas sobre a importância da colocação das rampas para as pessoas com mobilidade reduzida (cadeirantes, idosos, pessoas com necessidades especiais, crianças etc.) e ficava frustrada por não conseguir representar no desenho do projeto (devido à sua pequena escala) a indicação do sinal sonoro nos semáforos aos deficientes visuais.

 

Por ser uma cidade planejada, Brasília não facilita a circulação das pessoas?

A lógica diria que sim, mas não é o que acontece na prática. O desenho da cidade não ajuda nos deslocamentos de nenhum dos meios de transporte, muito menos o de pedestres. Isso porque a cidade foi concebida com base nos preceitos do Urbanismo Moderno, o qual prioriza a rigidez da setorização dos espaços (áreas residenciais, comerciais e institucionais estão claramente separadas) e a presença de grandes espaços vazios. A junção destes aspectos de ‘forma urbana’ provoca o aumento nas distâncias percorridas, e, por conseguinte, no tempo despendido para o deslocamento em todos os modos de transporte (metrô, ônibus, carro, moto, bicicleta e a pé).

 

Em sua visão, qual é a principal falha de sinalização no DF?

A principal falha de sinalização no DF é a priorização dada ao trânsito motorizado em detrimento dos não-motorizados, principalmente em se tratando de pontos de conflito. A exemplo, quando uma ciclovia e uma via se cruzam, há a presença da sinalização para o ciclista ter atenção, mas não há qualquer indicação aos motoristas que ali é um ponto de atenção redobrada, ou seja, a prioridade infelizmente é dada ao motor.

 

Quais seriam suas sugestões para melhorar a sinalização para pessoas na região?

Como sugestão, muito na linha do que foi dito na questão anterior, seria de extrema relevância que houvesse uma mudança de paradigma em relação à cultura do carro. Por isso, deveria ser realizado um investimento na sinalização em dois aspectos:  

(a) Segurança: (a1) dar maior atenção nas áreas de convergência de fluxos entre os motorizados e os não-motorizados, chamando a atenção, principalmente, dos primeiros (motorizados) em relação aos demais (mas normalmente ocorre somente o inverso) e (a2), em menor escala – ciclista versus pedestre –, também deve haver sinalização indicando atenção de ambas as partes; 

(b) Informação: implantar (ou ampliar) mapas com a localização dos equipamentos urbanos para todos os modos de transporte, além de mapas com os trajetos dos transportes coletivos, localização de paradas e horários em distintos dias da semana.

Se não priorizarmos a segurança e a informação, haverá cada vez mais pessoas enjauladas nos seus carros.

 

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