"Tudo menos o carro", defende pesquisador do MIT

Pela primeira vez em Brasília, especialista em mobilidade e PhD do MIT Peter Furth estranhou os vazios da capital, avenidas largas sem pedestres e ciclovias desconectadas

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Fonte: Correio Braziliense  |  Autor: Murilo Fagundes  |  Postado em: 25 de maio de 2018

Peter Furth pedalou por Brasília; e estranhou seus

Peter Furth pedalou por Brasília; e estranhou seus vazios

créditos: Murilo Fagundes/Esp. CB/D.A Press

 

Para o brasiliense que enfrenta ônibus lotados, sofre com a limitação do metrô, não consegue utilizar bicicleta para se locomover e sente insegurança ao usar o transporte público, o problema da mobilidade urbana é evidente. Mas, e para um especialista em transporte de outro país que acaba de chegar à capital? Como a locomoção é vista e quais são as sugestões para resolver os problemas de forma sustentável? 

 

A equipe do jornal Correio Braziliense acompanhou Peter Furth, professor de engenharia civil e meio ambiente da Northeastern University de Boston, em Massachussets (EUA), para saber o que uma das maiores autoridades em assuntos relacionados a trânsito e transportes pensa sobre a estrutura da cidade.

 

PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Furth veio ao país como convidado de um seminário que ocorreu ontem na Universidade de Brasília (UnB) para discutir segurança viária. Era a primeira vez que o professor desembarcava em Brasília, na terça-feira (23). Do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, logo quis conhecer a capital, mas não de carro. Em um passeio de bicicleta, ficou encantado com a quantidade de áreas verdes, mas estranhou o vazio.

 

Além disso, surpreendeu-se com as avenidas largas, mas com poucos pedestres e com ciclovias desconectadas. “Toda grande cidade no mundo tem um centro cheio de pessoas. É um conceito firmado tê-las no centro e, lá, vê-las caminharem. Mas parece que, aqui em Brasília, as pessoas não caminham mais do que 200 metros”, analisou Peter. O especialista trabalha com dois eixos parecidos, mas com significados diferentes: a segurança no trânsito sustentável e o transporte sustentável.

 

O primeiro se refere, basicamente, a como as pessoas podem se mover de forma prudente, o que, segundo o professor, é dificultado pelos veículos. Muitos dos projetos de pesquisa de Furth tratam do uso das bicicletas, que incluem o estudo da segurança de ciclovias, o planejamento e a avaliação de uma potencial rede de vias verdes. E de modo geral os meios de transporte sustentáveis, ou a mobilidade sustentável, concretizam-se a partir da escolha dos meios, como as bicicletas, as linhas expressas de ônibus, os metrôs e os trens.

 

O que o especialista reforça é a exclusão dos carros da vivência cotidiana. Para ele, os meios de transportes em grandes cidades devem utilizar o Método ABC, que se resume a “tudo menos carro” (ABC Transportation — All But Car). 

 

“Carros deixam as ruas perigosas, exigem muito espaço para estacionar e poluem. É definitivamente a pior opção”, avalia Peter. 

 

O professor menciona a gestão do ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, Enrique Peñalosa. Economista e urbanista, Peñalosa construiu um sistema de transporte com foco em ciclovias, sistema de transporte coletivo e manutenção de estradas. E ficou famoso pela frase relembrada por Furth: “Uma cidade desenvolvida não é aquela onde as pessoas pobres dirigem carro, mas onde as pessoas ricas usam sistema de transporte”.

 

Mais pedestres

Os jornalistas levaram Peter Furth para conhecer o eixo central de Brasília, as linhas de metrô e algumas quadras idealizadas no projeto original da cidade. No passeio, com olhar e atento, o especialista pontuou diversas sugestões, que, para ele, podem funcionar para melhorar a mobilidade urbana na capital (leia sugestões de Furth mais abaixo). 

 

Para ele, o pedestre deveria ter mais incentivo, a fim de aproveitar “os muitos espaços de Brasília”. “Para tornar os lugares mais seguros, as pessoas têm de começar a ter o hábito de andar. Os lugares sem iluminação e as ‘esquinas cegas’ não podem existir. As casas, os prédios e as ruas precisam ter olhos. Na Holanda, 40% das pessoas que pegam trem vão de bicicleta para a estação. Aqui em Brasília, isso pode acontecer também”, conclui.

 

Sugestões de Peter para a mobilidade de Brasília:

 

“Se a cidade está crescendo, e as pessoas continuam comprando carros, os estacionamentos devem cobrar mais caro”

 

“As ciclovias precisam ser mais conectadas. Algumas parecem inúteis, porque não há continuidade, e elas param no meio das ruas largas, feitas somente para veículos”

 

“Não tem muita lógica (a distribuição de semáforos e faixas de pedestres na W3, na altura da 712 Sul). O pedestre precisa sair da rota dele para atravessar as faixas e acaba atravessando no meio da rua”

 

“O centro da cidade deve ser ‘caminhável’. Os brasilienses precisam se sentir seguros para andar e acessar as estações de metrô, por exemplo”

 

“As ciclovias devem ser seguras e agradáveis. Brasília precisa ter ciclovias para que as crianças possam aproveitar, principalmente para que, no futuro, elas tenham outro tipo de pensamento”

 

“Enquanto não tem verba para a construção de metrô, linhas expressas de ônibus podem ser construídas para lugares mais afastados”

 

“Poderiam ser cobradas taxas de congestionamento, isto é, os motoristas poderiam ser taxados pelo tempo em que ficam presos nos engarrafamentos”

 

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Comentários

Eduardo - 29 de Maio de 2018 às 07:20 Positivo 0 Negativo 0

Ótima Matéria

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